Ao longo dos 12 meses de 2023, a estatal teve um lucro de R$ 124,6 bilhões – uma queda de 33,8% em comparação a 2022. Ainda assim, foi o segundo maior lucro da história da companhia. Petrobras perde R$ 55 bilhões em valor de mercado após divulgação do balanço financeiro de 2023
A Petrobras perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado após a decisão da companhia de não pagar dividendos extraordinários aos acionistas. O balanço financeiro de 2023 foi divulgado na quinta-feira (7).
O resultado da Petrobras veio abaixo do esperado pelo mercado. Ao longo dos 12 meses de 2023, a estatal teve um lucro de R$ 124,6 bilhões – uma queda de 33,8% em comparação a 2022. Ainda assim, foi o segundo maior lucro da história da companhia. A empresa disse que a queda no desempenho pode ser explicada, entre outros motivos, pela redução de 18% no preço internacional do petróleo.
Nesta sexta-feira (8), as ações ordinárias da companhia despencaram na Bolsa de Valores. Caíram mais de 10%, o maior tombo desde fevereiro de 2021, o que fez o índice Ibovespa fechar no negativo. A empresa perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado.
A explicação, segundo analistas de mercado, é que os investidores ficaram decepcionados com a distribuição de dividendos, a parcela dos lucros paga aos acionistas. O governo federal, principal acionista, recebe 37% dos dividendos.
“Os investidores esperam dividendos entre 2,50 e 3,50, veio 1,10. Esperavam para o ano inteiro em torno de R$ 8, provavelmente vai ser em torno de R$ 4. Investidor gosta de dividendos, ele não gostou portanto dessa decisão”, explica Flávio Conde, analista da Levante.
O pagamento de dividendos referente a 2023 será de R$ 72,4 bilhões. Menos da metade do que foi distribuído em 2022 – R$ 222 bilhões.
O Conselho de Administração da Petrobras chegou a propor o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas, uma fatia maior do lucro. Mas os representantes do governo votaram contra a proposta, que acabou rejeitada. Para analistas, a decisão acende um alerta sobre a relação com os investidores e os rumos da Petrobras.
O especialistas em mercado de capitais Alvaro Bandeira diz que a empresa sinalizou uma maior interferência política.
“Esperava-se um dividendo extra para as ações da Petrobras que não veio, se viesse seria pelo menos o dobro do que está programado como proposta pela assembleia geral. Mas os mercados, por trás ainda disso tudo, nós teríamos a preocupação com a governança da companhia. Isso mostra um Conselho de Administração dividido e também a possibilidade de maior interferência do governo com relação à atividade diária da Petrobras e da sua administração”, diz.
Nesta sexta, o presidente da Petrobras disse que os dividendos não distribuídos ficaram em uma reserva e, mais tarde, poderão ser repartidos entre os acionistas.
“É dividendo, vai ser sempre dividendo. E vai ser pago como dividendo. Não pode ser usado para pagamento de dívida, não pode ser usado para investimento atrás nem para frente. Enfim, ele fica provisionado no caixa. Então, a gente está conseguindo reverter essa expectativa advinda, evidentemente, de uma frustração eventual de expectativas. Mas como eu disse, a novela continua”, afirmou Jean Paul Prates, presidente da Petrobras.
Alvaro Bandeira questiona a retenção desses dividendos.
“Ora, se é para pagar dividendo, por que não paga logo? O mercado trabalha com essa possibilidade. Não pode ir para outras contas, não pode ir para conta de investimento, por exemplo, esses recursos, mas vai para pagamento de dividendo futuro. Novamente, o mercado esperava esse dividendo extra, que não veio. E, agora, tem uma outra decisão a ser tomada de quando esse dividendo pode ser distribuído ou não”, acrescenta Alvaro Bandeira.
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