Polícia precisa produzir laudos próprios sobre a causa do acidente já que os relatórios do Cenipa não podem ser usados para fins de responsabilização criminal. Foto divulgada pela Polícia Federal mostra o trabalho da perícia na manhã de sábado (9) em Vinhedo
Polícia Federal
A Polícia Federal começou nesta segunda-feira (26) a analisar, no Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), os dados de componentes e caixas-pretas do ATR 72-500 da Voepass que fazia o voo 2283. O avião caiu em Vinhedo (SP) no dia 9 de agosto matando as 62 pessoas a bordo.
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O compartilhamento de informações foi iniciado após uma reunião entre delegados e peritos da PF com investigadores do Cenipa, em Brasília (DF), nesta segunda. No encontro, os dois órgãos alinharam de que forma vai ocorrer a investigação conjunta.
Diferentemente do Cenipa que apura as causas para apontar melhorias e evitar futuras tragédias, a investigação da polícia busca verificar se existem pessoas que devam ser responsabilizadas criminalmente pela tragédia.
Por isso, a PF vai produzir, paralelamente ao relatório final do Cenipa, um Laudo de Sinistro Aeronáutico. Para a produção dele, peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística vão acompanhar todos os exames, ensaios e testes realizados no Cenipa, incluindo análise dos destroços, do motor, das caixas pretas e outros.
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Segundo a corporação, esse documento é importante porque traz aspectos técnicos e científicos acerca do acidente aéreo que, confrontados com testemunhas, podem indicar se atuações pessoais contribuíram com o acidente.
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O compartilhamento de informações do Cenipa com a Polícia Federal foi autorizado na semana passada pela 1ª Vara Criminal de Campinas, após concordância do Ministério Público Federal (MPF) e da Advocacia Geral da União (AGU).
Essa autorização foi solicitada uma vez que a Polícia Federal precisa produzir laudos próprios sobre a causa do acidente, já que os relatórios do Cenipa não podem, segundo a legislação brasileira, ser usados para fins de responsabilização criminal.
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O que deve constar no laudo?
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Polícia Federal
O Laudo de Sinistro Aeronáutico deve apontar as possíveis causas do acidente a partir da análise de alguns pontos:
Uma visão geral concisa do acidente, incluindo principais conclusões e recomendações.
Descrição detalhada do acidente;
Cronologia: uma linha do tempo com a sequência de eventos que levaram ao acidente;
Dados Meteorológicos: condições climáticas no momento do evento, apresentadas em forma de gráficos ou tabelas se necessário;
Análise dos fatores humanos: com informações sobre os envolvidos, incluindo suas qualificações, experiência, estado de saúde, avaliação dos procedimentos seguidos e do treinamento recebido.
Análise de fatores materiais: resultados das inspeções e manutenção da aeronave com gráficos e fotos. Revisão das certificações e registros de manutenção relevantes.
Análise dos procedimentos operacionais: discussão sobre a aderência aos procedimentos operacionais e qualquer desvio.
Comunicações: análise das comunicações registradas durante o evento.
Aspectos organizacionais como políticas da companhia (procedimentos), avaliação do ambiente organizacional e práticas de segurança.
Fatores ambientais: descrição das condições do local de operação e sua relevância para o evento.
Interferências externas: identificação e análise de fatores externos que possam ter influenciado o acidente.
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Cronologia da tragédia
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu um edifício em São Paulo ao tentar pousar.
A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 13h20.
O avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar.
Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o “Salvaero” foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio.
Como era o avião que caiu em Vinhedo
Arte g1
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