Segundo os investigadores, esquema servia para enganar os órgãos de controle e impedir a identificação de quem recebia o dinheiro. Entenda como funcionava. Investigação da PF mostra que empresa de ônibus de SP, suspeita de envolvimento com o PCC, está entre os clientes de uma instituição financeira alvo de operação
Uma investigação da Polícia Federal descobriu que uma empresa de ônibus de São Paulo, ligada ao PCC, está entre os clientes de uma instituição financeira que foi alvo da operação de quarta-feira (28).
O site da empresa i9Pay vende maquininhas de cartão. O da T10 Bank oferece produtos e serviços financeiros. Tudo aparentemente normal, não fosse o anúncio publicado em uma rede social. A expressão “conta garantida” chamou a atenção de um delegado da Polícia Federal.
“Um anúncio falando claramente para fugir de bloqueios judiciais e retomar o controle financeiro da empresa. Ou seja, uma empresa com dívidas ou que for objeto de uma restrição judicial, eles ofertarem esse serviço claramente, anunciado de maneira tão explícita a possibilidade de camuflar os valores dentro da fintech. O que contraria totalmente a legislação do Banco Central e a legislação brasileira”, afirma André Ribeiro, delegado e chefe de inteligência da PF.
A investigação descobriu que o PCC é um dos principais clientes dessas duas empresas investigadas.
Na quarta-feira (28), a PF prendeu 14 pessoas em Minas Gerais e São Paulo por suspeita de envolvimento em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. O esquema ilícito teria movimentado R$ 7,5 bilhões nos últimos cinco anos.
Os investigadores apreenderam maquininhas de cartão, computadores, celulares, 46 veículos, joias, relógios e documentos. O relatório da Polícia Federal afirma que as maquininhas de cartão eram usadas por traficantes de drogas. Eles simulavam vendas para esconder a origem do dinheiro.
A PF descobriu, por exemplo, que um homem – condenado e preso por vender entorpecentes – recebeu mais de R$ 700 milhões da i9Pay.
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Uma outra administradora de maquininhas de cartão, registrada em um endereço em São Paulo, também é citada no inquérito. A YesPay é investigada desde 2022. A Polícia Civil descobriu que ela estava em nome de laranjas e era usada para lavar dinheiro do traficante João Aparecido Ferraz Neto, um dos criminosos mais procurados do país.
A quebra do sigilo bancário da T10 Bank – a empresa que oferece serviços financeiros – revelou ainda o nome de um cliente dela: a UpBus, que tem contrato com a Prefeitura de São Paulo para operar linhas de ônibus na Zona Leste da capital e está sob intervenção desde abril, quando uma operação do Ministério Público Estadual prendeu dirigentes da companhia, suspeitos de terem ligação com o PCC.
A UpBus aparece entre os 11 maiores clientes da T10 Bank, segundo a Polícia Federal. A UpBus transferiu da T10 Bank para outra conta dela, em um banco, mais de R$ 3 milhões e recebeu nessa mesma conta cerca de R$ 1,5 milhão. Tudo isso em menos de três meses. Segundo os investigadores, o esquema servia para enganar os órgãos de controle e impedir a identificação de quem recebia o dinheiro.
A Polícia Federal recomenda que clientes que se sintam lesados procurem a Justiça.
“É possível, sim, que haja pessoas ali que abriram a conta e não tenham envolvimento. Essas pessoas precisam demonstrar, apresentar provas de que os valores colocados ali foram lícitos de origem lícita e que são vítimas, na verdade, do serviço clandestino ofertado pela fintech”, diz André Ribeiro, delegado de Polícia Federal.
Segundo a PF, as atividades da empresa YesPay estão suspensas desde 2022.
A T10 Bank disse que segue rigorosamente as normas próprias que regem o mercado financeiro e as fintechs, e que vai fornecer às autoridades a documentação que comprova a sua regularidade.
A empresa Inovepay nega envolvimento com crimes e disse que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.
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