10 de outubro de 2024

PM preso por matar cliente em boate de Florianópolis fazia segurança no local, diz polícia

Policiais militares não podem exercer a atividade de segurança privada no estado, de acordo com portaria. PM é preso apontado por matar cliente em boate no centro de Florianópolis
Reprodução NSC TV/Redes Sociais
O policial militar apontado por matar um homem de 28 anos em uma casa noturna de entretenimento adulto, em Florianópolis, trabalhava no local como segurança, informou o delegado Ênio Matos. A atividade extra é proibida por portaria (leia abaixo).
O crime aconteceu na terça-feira (8), quando Thiago Kich de Melo foi atingido por um tiro disparado pelo PM dentro da boate. O militar foi preso junto com outro segurança que estava no local.
A Corregedoria da Polícia Militar informou que o militar estava de folga da PM e à paisana. Um inquérito para apurar a atuação do agente e as circunstâncias da morte foi aberto pela corporação.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
A Polícia Civil, que apura o caso por meio da delegacia de Homicídios da Capital, afirmou que a morte aconteceu após uma confusão com seguranças por conta do valor da conta do cliente.
O tiro foi disparado quando o militar interveio na briga, informou o delegado. A dinâmica do crime, assim como informações sobre a arma usada na ação, não foram passadas.
Em nota, a Corregedoria-Geral da PM afirmou que o militar comunicou o fato ao superior logo após o caso. O agente foi de forma espontânea à delegacia. Lotado no 4º Batalhão, no centro da cidade, o PM aguardava audiência de custódia nesta quarta.
O g1 questionou o Comando da Polícia Militar sobre a informação de que o PM trabalhava no local, mas a entidade informou que não irá se manifestar sobre o caso além da nota divulgada (leia no fim do texto).
Briga
Homem é morto durante confusão em boate no Centro de Florianópolis
Conforme o tenente-coronel André Rodrigo Serafin, comandante do 4° Batalhão da PM, houve uma briga no local, por volta das 6h, quando o policial defendeu o segurança do estabelecimento e atirou para intervir na situação:
“Começou uma briga ali, alguns caras espancaram segurança. Um policial, um militar que estava ali no local, ele acabou intervindo nessa briga e, defendendo segurança, efetuou um disparo”, disse o comandante.
A casa noturna fica na Avenida Mauro Ramos, uma das principais vias da cidade. O g1 procurou o local, mas não teve retorno até a última atualização do texto.
Homem é morto em boate após confusão com seguranças
Vereador eleito 12 vezes começou vida política quando votos eram de papel
PM não pode atuar como segurança privado
Policiais militares não podem exercer a atividade de segurança privada no estado. Conforme a portaria 230, da Polícia Militar, publicada em 2022 pelo Colegiado Superior de Segurança Pública de Santa Catarina, a ação, “em qualquer modalidade, configura conflito de interesses com a atividade policial militar e sujeita o policial militar às penalidades” (trecho na imagem abaixo).
Presidente da Comissão de Segurança da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB/SC), Guilherme Stinghen Gottardi, a portaria foi editada para uniformizar entendimento sobre a dedicação integral ao serviço do policial militar da ativa. O documento também flexibiliza o trabalho dos profissionais e estabelece outras normas:
“Trata-se de norma louvável, pois visa ressaltar a necessidade de intervalos de descanso e recuperação físico-mental, bem como o atendimento a convocações eventuais não programadas de serviço e situações extraordinárias da tropa, afirma Gottardi.
Para o advogado à frente da comissão, a edição da portaria vem ao encontro dos anseios da sociedade, já os ‘bicos’, prática do policial militar que trabalha como segurança privado, é considerada comum e pouco fiscalizada, além de ser usada como forma de contrabalancear baixos salários.
“Criou-se uma ideia de que o policial militar pode ser tratado como uma máquina e, por isso, pode trabalhar de acordo com as necessidades que surgirem. No entanto, tal prática é perigosa porque o excesso de trabalho prejudica o desempenho do policial quando em serviço, chegando ao ponto de ocasionar falhas que podem custar sua própria vida ou de civis envolvidos nas ocorrências”, destacou o advogado.
Conforme Gottardi, a população pode denunciar a prática do ‘bico’ tanto para a Corregedoria da PMSC quanto para o Ministério Público Estadual. A fiscalização do trabalho dos policiais, segundo o advogado, é necessária e deve ser feita pela própria corporação.
Portaria de SC flexibiliza o trabalho do PM, mas segue proibindo a atuação dos profissionais como segurança privado
Reprodução
O que disse a PM sobre o caso:
Sobre o homicídio ocorrido na manhã desta terça-feira (8), por volta das 6h, na escadaria de uma casa noturna localizada na Avenida Mauro Ramos, no Centro de Florianópolis/SC, envolvendo um policial militar à paisana, a Polícia Militar de Santa Catarina, por meio da Corregedoria-Geral, esclarece o que segue:
1. O policial militar envolvido na ocorrência, apontado como autor do disparo de arma de fogo, é lotado no 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e, no momento do fato, estava de folga;
2. Após o ocorrido, o referido policial comunicou imediatamente o fato ao seu superior hierárquico e se apresentou de forma espontânea na Delegacia de Polícia Civil para prestar depoimento;
3. O policial militar foi preso em flagrante delito, procedimento lavrado pela Polícia Civil, e encontra-se segregado nas dependências do 4º BPM, à disposição da Justiça, aguardando ser submetido à audiência de custódia, que ocorrerá na data de amanhã;
4. O evento resultou na morte de uma pessoa, sendo este fato investigado pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil da Capital;
5. A Corregedoria-Geral da PMSC instaurou um Inquérito Policial Militar com o objetivo de apurar as circunstâncias que envolveram a presença do policial militar no local do fato e identificar a possível incidência de crimes militares conexos.
A Polícia Militar de Santa Catarina permanece em estreita cooperação com as demais forças policiais para que os fatos sejam esclarecidos.
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias

Mais Notícias