Organização criminosa movimentava cerca de R$ 5 milhões por mês. Policial Militar, que participava do esquema, foi preso em maio de 2023. Cocaína no ES tem remédio, fermento e até pó de mármore
Quatorze criminosos, entre eles um policial militar, foram denunciados à Justiça do Espírito Santo, por integrarem uma organização criminosa envolvida no tráfico de drogas e armas em Cariacica e Vila Velha, na Grande Vitória, além de outras cidades do estado.
Segundo a Polícia Civil, o grupo trabalhava na venda do chamado “pó virado”, uma mistura de crack moído, remédio, fermento, ácido bórico e até pó de mármore, movimentando entre R$ 2 e R$ 5 milhões por mês. As informações foram divulgados nesta quarta-feira (15).
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As investigações apontaram que a organização era liderada por Adair Fernandes da Silva, o Dadá, que comandava as operações do bairro Flexal II, em Cariacica. Ele já esteve na lista dos traficantes mais procurados do Espírito Santo e foi preso no dia 10 de maio do ano passado em um motel próximo ao Contorno de Cariacica, na Grande Vitória.
Adair Fernandes da Silva, vulgo ‘Dadá’, já esteve entre os traficantes mais procurados do Espírito Santo.
Divulgação/PCES
Dadá tinha como braço direito Gideon da Silva Jorge, o Caveirinha, responsável pela gestão financeira e pela distribuição de drogas como cocaína e crack, que morreu em confronto com a polícia no domingo (12).
Gideon da Silva Jorge, o “Caveirinha”, morreu em confronto com a polícia
Divulgação Sesp
Segundo relatório policial, Dadá não se considerava diretamente vinculado a nenhuma facção, mas mantinha conexões com o Terceiro Comando Puro (TCP) que tem ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), que seria o principal fornecedor de cocaína e crack.
Ainda segundo o relatório divulgado pela corporação, essa relação é consolidada “através de contatos de longa data e garantias de fornecimento regular de grandes quantidades de drogas”.
“Pó virado”
Em vídeo divulgado pela corporação (veja no início da reportagem) é possível ver os criminosos fazendo o preparo de cerca de 100 kg de “pó virado”.
“A gente tem confirmação de que o chefe (Dadá) fazia compras na casa dos R$ 2 milhões de drogas. Ele trazia essa droga de São Paulo, da região de Paraisópolis na capital paulista”, destacou o coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat), delegado Alan Moreno de Andrade.
Segundo o delegado Alan, o ‘pó virado’ é comum no estado.
“No Espírito Santo, poucas bocas de fumo vendem efetivamente a cocaína em si, por ser muito cara. Para abaixar os custos e atingir o maior número de usuários possível, eles diminuem a qualidade da droga. Usam o crack, que é um derivado da cocaína, e misturam isso com outras drogas e outros elementos para fazer o pó virado e vender aos usuários”, explicou o coordenador do Ciat.
Segundo o delegado, a composição da droga segue a proporção um para cinco: um kg de crack com 5 kg de outro produto, e fazem o ‘pó virado’.
“Pó virado” era fabricado por organização que desmantelada na Operação Killers
Divulgação Sesp
“Em um áudio a gente consegue ouvir o Adair ensinando como ele faz a famosa receita dele de boa virada. Temos uma estimativa que eles giravam em torno de R$ 2 milhões a 5 milhões por mês”, destacou Alan.
Envolvimento de um policial militar
As investigações também apontam para o envolvimento do soldado Maurício Simonassi de Andrade, identificado como membro ativo da Polícia Militar.
O militar fornecia informações sigilosas, incluindo rotas de patrulhamento, horários e alerta sobre operações policiais, permitindo, segundo a Polícia Civil, que a organização evite a apreensão de drogas e dinheiro.
Maurício Simonassi de Andrade, policial militar preso na operação
Divulgação Sesp
Maurício já havia sido preso no dia 7 de novembro do ano passado. O agente chegava a enviar a escala de serviço dos policiais do 7° Batalhão da corporação para que os criminosos ficassem “atentos” a quem estava fazendo patrulhamento nas ruas.
“O policial militar tinha relação direta com o Adair. Ele recebia cerca de R$ 400, R$ 500 por cada informação que ia passando, chegando a R$ 5 mil por mês que ele recebia do tráfico de drogas da região do Campo do Apolo”, destacou Delegado Alan Moreno de Andrade.
Wemerson Rosa de Oliveira, o “Boi”, à esquerda; Vandeilson da Fonseca Antunes, o “Vandinho”, à direita
Divulgação Sesp
Ainda na cadeia de comando estavam os “gerentes adicionais”, como foram classificados no relatório da polícia Wemerson Rosa de Oliveira, o Boi, que atuava como gerente de venda de maconha e auxiliando no preparo das drogas; e Vandeilson da Fonseca Antunes, o Vandinho, que era o gerente de venda de skank e haxixe, e era homem de confiança de Dadá.
Além deles, pessoas ligadas ao tráfico de outras regiões também estão entre os investigados:
Carlos Eduardo Silva Correa, conhecido como “Lambão” – auxiliava no preparo e venda de drogas. Permitia uso de sua conta bancária;
Matheus Martins Barbosa, conhecido como “Gaguinho” – ocultava veículos adquiridos com dinheiro do tráfico em seu nome;
Sidney dos Santos Nunes, conhecido como “Nego Sidney” – preso, mas mantém participação no tráfico de drogas;
Ederson Braga Paradela – em sua residência foram encontrados armas, munições e entorpecentes;
Eduardo Lucas dos Santos Oliveira, conhecido “Duduzinho” – atual chefe do Morro do Quiabo, em Porto Novo. Recebia armas, drogas e insumos do grupo de “Dadá”;
Marcos de Jesus Bispo, conhecido domo “Chapinha”, – auxiliava no preparo e na venda de drogas;
Ruan Lourenço Correa, conhecido como “Marola” – auxiliava na venda e preparo de entorpecentes;
Robson Rodrigues, conhecido como “Robinho” – traficante de grande expressão na Serra. Tinha relações comerciais com “Dadá”. No momento de sua prisão, foi encontrado “farto material bélico”;
Carlos Victor Hugo de Oliveira, conhecido como “Coroa Mel” – revendia aparelhos telefônicos para o grupo de “Dadá”, além de habilitar linhas em seu nome, para facilitar a comunicação do grupo;
José Candido Javarini Filho, conhecido como “Dé de São Pedro” – chefe do tráfico na região de São Pedro. Fazia vultosas transações financeiras com “Dadá”.
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