Suspeito nega o caso e afirma que falava com a esposa no momento que foi abordado pelo urologista. Ministério da Saúde afastou servidor após o caso vir à tona em reportagem do g1. ‘Meu chão caiu. Me sinto culpada, suja e inútil’, diz paciente sobre suposto abuso durante
A Polícia Civil apreendeu o telefone celular de um técnico de enfermagem do Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O homem é investigado após a denúncia de um médico de que ele fotografou uma paciente, sedada e sem roupas, durante procedimento.
O servidor federal nega o crime.
O caso foi divulgado pelo g1 nesta segunda-feira (26). A paciente contou que soube do episódio 8 dias após a alta médica (veja no vídeo acima).
O caso foi em 25 de julho e denunciado à polícia oito dias depois. O g1 apurou nesta segunda–feira (26) que a busca e apreensão aconteceu só na última quinta-feira (22) na casa do suspeito, no Maracanã, na Zona Norte do Rio. Lá, os investigadores apreenderam um aparelho telefone Motorola Moto G14.
Apesar de o registro de ocorrência e os depoimentos terem sido tomados no início do mês, a busca foi feita duas semanas depois – e três dias após o g1 entrar em contato com Polícia Civil, Tribunal de Justiça, Ministério Público e Ministério da Saúde com questionamentos sobre o caso.
O mandado foi expedido pela Justiça do RJ na quarta (21) e teve a anuência do MPRJ. Agora, o celular passará por uma perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Procurada, a Polícia Civil não comentou até a última atualização desta reportagem.
Denúncia de médico
A denúncia foi feita pelo urologista que estava na sala de cirurgia. O especialista afirma ter visto o técnico com o celular na mão fotografando as partes íntimas da paciente.
O suspeito nega as acusações. Em depoimento à polícia, ele afirmou que pegou o telefone celular para “procurar sinal” e “já estava em ligação” quando foi acusado pelo médico. Ao g1, disse que estava com o aplicativo de foto para mandar uma selfie para enviar à esposa (veja abaixo mais sobre o que diz o suspeito).
Após o procedimento, o médico procurou a direção da unidade para denunciar o episódio. A vítima foi comunicada do fato 8 dias após a alta médica.
A paciente estava anestesiada antes de uma pieloplastia – um procedimento no canal que liga os rins à bexiga.
Nesta segunda (26), a mulher falou “que espera que a polícia encontre os crimes” do homem.
“Eu estou com fé. Espero que eles encontrem as provas dos crimes, não só em relação a mim, mas de outras pessoas. Para que esse monstro seja parado e que ele pague pelo que fez. Estou com muita fé nessas buscas”, disse a paciente.
Transferência de unidade
Após tomar ciência do episódio, no dia 2 de agosto, o Serviço de Contrato Temporário da União decidiu transferir o técnico de enfermagem. No dia 5 de agosto, ele já estava atuando no Centro Cirúrgico do Hospital de Ipanema, na Zona Sul do Rio.
O g1 apurou que a direção do Hospital Cardoso Fontes não informou oficialmente a direção do Hospital de Ipanema o motivo da transferência do profissional. Na última sexta (23), após questionamento do g1, o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) decidiu afastar o homem temporariamente.
‘Coisa ridícula, sem fundamento, esdrúxula’, diz suspeito
O suspeito negou que tenha feito fotos da paciente. Afirmou que estava com o “telefone celular para procurar sinal e já estava em ligação” e que “ficou surpreso com a notícia, pois é instrumentador há 20 anos”.
À reportagem, o técnico de enfermagem classificou a denúncia como “coisa ridícula, sem fundamento, esdrúxula” e disse que fez uma selfie para mandar para a própria mulher.
“Sou da área da saúde há 21 anos, e nunca ocorreu esse fato. Eu não entendi a história desse cara, que é sem fundamento. É uma coisa comum você pegar o aparelho para responder mensagens. Eu estava em contato com ela [esposa] e, quando fui pegar o telefone, fiz uma selfie para mostrar para ela: ‘Olha, mozão, estou trabalhando’. Naquele dia, mais 7 pessoas estavam na sala. Não pode um cidadão desse alegar uma coisa ridícula, sem fundamento e esdrúxula. Não sei se ele é frustrado, recalcado ou invejoso. Não sei”, disse.
Passagens pela polícia
O homem tem ao menos outras 4 anotações criminais:
abuso sexual conta adolescente de 16 anos, em 2009. Caso foi arquivado em maio de 2024 porque passou do prazo para investigação (prescrição);
ameaça e maus-tratos contra a mãe (em aberto);
estelionato e associação criminosa (em aberto);
apropriação indébita (em aberto).
O que dizem as autoridades
Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ) informou que tem ciência do caso após ser notificado pelo Comissão de Ética Institucional e pela Deam-Jacarepaguá.
Segundo o órgão, foi aberta uma investigação na entidade, e todo o material produzido foi encaminhado à Câmara de Ética para o devido processamento, inclusive sobre uma possível suspensão cautelar do exercício de profissão.
O Coren-RJ afirmou que o profissional poderá ser advertido ou até ter a cassação do direito ao exercício profissional por um período de até 30 anos.
O Ministério da Saúde informou que o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) no Rio de Janeiro abrirá uma sindicância para apurar o caso e tomar as medidas cabíveis e que o servidor será desligado.
“O servidor temporário será desligado, conforme decisão desta sexta-feira (23) do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) da pasta, após avaliação interna realizada a partir do momento em que o caso veio à tona. As investigações internas e a colaboração com a Polícia Civil continuam. A vítima está recebendo todo o suporte necessário”, diz a nota.