27 de dezembro de 2024

Polícia Federal prende homem procurado em operação contra fraudes bilionárias com fintechs

Operação Concierge foi deflagrada no final de agosto e revelou esquema de lavagem de dinheiro com prejuízo de R$ 7,5 bilhões. Até a publicação, 15 pessoas foram presas e uma ainda está foragida. Entenda o esquema que usava contas em bancos tradicionais para enganar sistema financeiro
A Polícia Federal (PF) prendeu, na manhã desta segunda (30), um homem que estava foragido na investigação da Operação Concierge, deflagrada em de agosto e que revelou fraudes bilionárias a partir de fintechs.
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A quadrilha é suspeita de liderar um complexo esquema de blindagem patrimonial e lavagem de dinheiro de clientes diversos, entre eles facções criminosas e empresas com dívidas na Receita Federal, que movimentou R$ 7,5 bilhões. De acordo com a PF, o investigado foi preso em Votorantim (SP) e atuava em uma das fintechs investigadas.
Ao perceber a chegada dos policiais, o empresário fugiu para a mata atrás do condomínio onde ele estava escondido, mas foi detido pelos agentes. Até a publicação, 15 pessoas foram presas – sendo 14 quando a operação foi deflagrada. Um homem segue foragido.
A investigação aponta que as fintechs fizeram transações suspeitas sem que os bancos notificassem os órgãos de controle. Além disso, diz que, ao não controlar as transações de pessoas físicas, os bancos descumpriram regras do setor bancário e, com isso, facilitaram o cometimento de crimes.
“As instituições financeiras oficiais (Banco Rendimento e Banco Bonsucesso) burlaram os regulamentos do Banco Central e autorizaram a utilização de suas contas bancárias como “contas bolsões” por parte dessas instituições financeiras clandestinas, as quais, repita-se, movimentaram vultosa quantia de recursos criminosos, sem nenhum tipo de controle pelos órgãos competentes e até mesmo dificultando a análise por parte dos órgãos responsáveis pela persecução penal”, apontou o MPF.
Facções como clientes
A organização criminosa investigada pela Polícia Federal (PF) na Operação Concierge é suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas e esconder valores para a UPBus, empresa de ônibus suspeita de envolvimento com o PCC.
Na decisão que autorizou os 17 mandados de prisão cautelar e os 60 mandados de busca e apreensão, constam ao menos dois vínculos entre fintechs e a facção criminosa que atua em São Paulo (SP).
A operação
Carros apreendidos chegam ao pátio da Polícia Federal em Campinas
Márcio Silveira/EPTV
A Operação Concierge foi flagrada na manhã do dia 28 de agosto. As 14 prisões foram feitas nas casas dos investigados em Campinas (SP), São Paulo (SP), Ilhabela (SP), Sorocaba (SP) e Americana (SP). As apreensões ocorreram em vários estabelecimentos, incluindo lojas de veículos. A Justiça ainda autorizou o bloqueio de R$ 850 milhões em contas associadas à organização criminosa.
Sob escolta, carros de luxo apreendidos foram levados ao longo do dia para o pátio da PF em Campinas e para um estacionamento alugado pela corporação. São utilitários esportivos e carros esportivos de marcas, como Porsche, Land Rover, BMW, Volvo e Mercedes-Benz.
Ainda de acordo com a PF, os agentes também apreenderam jóias, relógios e centenas de máquinas de cartão de crédito, além de documentos, celulares e computadores. Os itens devem passar por perícia e depois ficarão depositados em uma conta judicial.
Sócios das empresas entre os presos
O g1 apurou que as empresas investigadas na operação são a Inovebanco e a T10 Bank. Os sócios das duas companhias, Patrick Burnett e José Rodrigues, respectivamente, foram presos no dia da operação.
Patrick Burnett, CEO do Inovebanco, e José Rodrigues, fundador do T10 Bank
Reprodução
A EPTV, afiliada da TV Globo, e o g1 tentaram contato com a T10 Bank para tentar um posicionamento da defesa, mas não tiveram retorno. A Inove Global Group afirmou que os advogados da empresa tiveram acesso ao conteúdo da investigação nesta quinta.
“A empresa nega veementemente ter relação com os fatos mencionados pelas autoridades policiais e veiculados pela imprensa, o que ficará demonstrado ao longo do processo. E ressalta sua total disposição em colaborar com as investigações”, diz a Inove, em nota.
Como funcionava o esquema?
As fintechs investigadas possuem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional. Essa conta é chamada de “bolsão” e serve para fazer transações com o dinheiro de seus clientes de forma “invisível”, pois é praticamente impossível rastreá-las. Veja o exemplo abaixo:
A pessoa física “A” tem contas bloqueadas e quer se manter ativa no mercado financeiro, fazendo transações, recebendo e enviando valores. Ela, então, abre uma conta com a fintech e a controla por meio de um aplicativo;
Essa pessoa “A” faz uma transferência para a pessoa “B” por meio desse aplicativo;
A fintech, por sua vez, tem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional;
Quando transfere um valor para a pessoa “B” por meio da fintech, na verdade, a pessoa “A” está transferido para a conta jurídica que a fintech tem no banco comercial.
Como a pessoa “A” não tem vínculo com o banco comercial, seu nome não aparecerá no extrato, mas, sim, a fintech titular da conta. A transferência para a pessoa “B”, por sua vez, aparece no extrato tendo como origem a pessoa jurídica da fintech e não a pessoa “A”. Nesse esquema, a pessoa “A” fica invisível e pode manter seu patrimônio livre de restrições.
A investigação aponta que o volume de dinheiro movimentado a crédito pelas duas fintechs, entre 2020 e 2023, foi de R$ 3,5 bilhões, segundo a Polícia Federal.
‘Concierge’
Os investigados vão responder por gestão fraudulenta de instituições financeiras, operação de instituição financeira não autorizada, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.
O nome da operação, “Concierge”, é uma palavra francesa que denomina o profissional que atende necessidades específicas de clientes e faz alusão à oferta de serviços clandestinos para ocultação de capitais.
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