14 de novembro de 2024

Polícia investiga golpe do falso aluguel após estelionatária debochar de vítimas e corporação: ‘O Brasil é assim’

Mãe e filha pagaram R$ 1,7 mil para reservar um imóvel em Santos (SP). Elas perceberam que haviam caído em um golpe ao notarem um erro no documento enviado pela golpista. Mãe e filha descobriram que caíram no golpe do falso aluguel e golpista debochou delas em Santos (SP)
Arquivo pessoal
A Polícia Civil investiga um golpe do falso aluguel, que foi aplicado contra mãe e filha em Santos, no litoral de São Paulo. As vítimas relataram ao g1 que registraram um boletim de ocorrência e foram informadas pelos policiais de que o crime de estelionato é comum. Este argumento, inclusive, foi usado pela golpista para debochar da situação: “Infelizmente, o Brasil é assim”, disse a criminosa.
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O golpe aconteceu em 10 de agosto. Thayná Branco, de 28 anos, contou que a falsa proprietária pediu documentos e o valor de dois meses de aluguel como caução [uma garantia financeira]. Com urgência para encontrar um novo imóvel, ela e a mãe aceitaram a proposta e fizeram uma transferência de R$ 1,7 mil.
A filha percebeu que algo estava estranho quando viu o mesmo local pelo triplo do valor e um erro no documento enviado pela golpista. Mesmo depois de descobrir que havia caído em um golpe, ela continuou conversando com a estelionatária.
O objetivo, de acordo com Thayná, era levar o contato ainda ativo à Polícia Civil para que os investigadores pudessem rastrear o número.
Golpista debocha após aplicar golpe do falso aluguel em Santos (SP)
Arquivo pessoal
“Dá uma sensação de impotência, ainda mais porque na própria delegacia eu fui informada que isso [estelionato] é muito comum e que nada podem fazer. No dia, a golpista mesmo também falou isso para gente”, lamentou Thayná.
As capturas de tela obtidas pelo g1 mostram o que a estelionatária disse às vítimas quando o golpe foi descoberto: “A senhora sabe que boletim não adianta nada, né? Infelizmente, o Brasil é assim”.
O que diz a SSP?
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) disse que a conduta dos policiais, de informarem que estelionato no Brasil é comum, não condiz com as práticas da Polícia Civil. A pasta ressaltou estar à disposição para registrar a denúncia.
Ainda de acordo com a SSP-SP, os agentes são instruídos e capacitados para registrar todas as ocorrências apresentadas nas delegacias.
Sobre o golpe do falso aluguel, a secretaria informou que o caso é investigado por meio de um inquérito policial instaurado pelo 4º DP de Santos, e que diligências — não especificadas — estão sendo feitas para identificar, localizar e prender a golpista.
Golpista enviou documento de ‘conta laranja’ e recebeu transferência bancária da vítima em Santos (SP)
Arquivo pessoal
Conta laranja
Ainda nas capturas de tela obtidas pela equipe de reportagem, a golpista explicou às vítimas que usou uma conta laranja — quando as informações são falsas ou com dados de terceiros para ocultar a identidade do real criminoso.
Golpe do falso aluguel: especialista dá dicas para evitar cair na armadilha de estelionatários
A vítima transferiu o valor para a golpista no mesmo banco em que tem conta corrente. O g1 entrou em contato com a instituição financeira, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
O caso
Thayná Branco, de 28 anos, trabalha como encarregada de departamento pessoal. Ela contou que a mãe, a depiladora Márcia Alves, de 60, mora em um apartamento alugado que foi vendido para uma outra pessoa. Sendo assim, elas precisavam encontrar um novo imóvel com urgência.
De acordo com Thayná, a mãe viu um anúncio nas redes sociais de um apartamento para alugar na Avenida Conselheiro Nébias por R$ 1,7 mil por mês. A filha entrou em contato com a anunciante e visitou o imóvel. As chaves foram entregues pelo porteiro do edifício.
Elas relataram para a falsa proprietária, que não participou da visita, que tinham gostado do local. No entanto, queriam um apartamento com pelo menos um quarto. O imóvel era uma sala living — todos os ambientes integrados em um único cômodo.
No mesmo instante, a golpista passou o endereço de um outro apartamento com os requisitos que elas desejavam. O imóvel ficava na Avenida Presidente Wilson, em frente à praia. Por conta da localização, Thayná questionou o valor e foi informada pela mulher de que ela faria o mesmo preço de R$ 1,7 mil.
Golpe
A mãe e a filha foram até o segundo imóvel e tiveram a entrada liberada pelo porteiro. “Eu falei o apartamento é nosso […]. A gente tinha saído com a intenção de só voltar para casa com o imóvel, e ela [golpista] entendeu o desespero”, explicou Thayná.
O caso aconteceu em 10 de agosto, um sábado. A falsa proprietária solicitou os documentos e pediu o valor de dois meses de aluguel como caução [um tipo de garantia financeira], com a desculpa de que enviaria o contrato apenas na segunda-feira, dia 12.
Thayná aceitou a proposta, mas disse que só depositaria o valor de um aluguel após ela enviar uma foto de um documento. A mulher enviou uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) (veja a foto acima) e afirmou que, se a jovem estava insegura, era melhor procurar uma imobiliária.
Descoberta
A mãe e a filha fizeram a transferência de R$ 1,7 mil e enviaram os documentos para locação ainda de dentro do imóvel, que elas achavam que seria delas. Quando chegou em casa, Thayná contou que começou a pensar que tinha sido muito fácil alugar um ótimo apartamento e com um bom preço.
Ela começou a pesquisar o nome da mulher e descobriu que o documento da golpista estava com a data de nascimento e filiação trocados. Ainda na busca, ela encontrou o mesmo imóvel sendo anunciado em uma imobiliária por mais de R$ 3,5 mil. Ela entrou em contato com o estabelecimento e constatou que tinha caído em um golpe.
“Naquela hora, eu falei: ‘Ferrou, é golpe mesmo. Não tem jeito’. Fui na delegacia e tive que contar para a minha mãe, que ficou arrasada e só chorava”, afirmou Thayná.
Depois de registrar um boletim de ocorrência, ela falou para golpista que tinha desistido do apartamento e queria o dinheiro de volta. Neste momento, a falsa proprietária disse que faria a transferência bancária, mas a bloqueou no aplicativo de mensagens.
As capturas de tela obtidas pelo g1 mostram o que a golpista respondeu às vítimas: “A senhora sabe que boletim não adianta nada, né? Infelizmente, o Brasil é assim”. Ela ainda explicou que a conta era laranja, quando as informações são falsas ou com dados de terceiros para ocultar a identidade.
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