18 de janeiro de 2025

Polícia prende PM suspeito de dirigir carro usado na execução de delator do PCC no aeroporto


Com prisão, sobe para 16 o número de policiais presos por suspeita de envolvimento no caso. Montagem com a foto, à direita, do Tenente Fernando Genauro da Silva, e imagem da câmera do aeroporto no momento da execução de Gritzbach
Reprodução
A Polícia Civil prendeu neste sábado (18) um policial militar suspeito de ser o motorista do carro usado pelos atiradores na execução de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, no aeroporto de São Paulo. Ao todo, já são 16 PMs presos por envolvimento no caso.
O policial é o 1º tenente Fernando Genauro da Silva. Ele foi preso em Osasco, onde mora. Ele foi levado para a sede do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) para prestar depoimento. Em seguida, será encaminhado ao Presídio Romão Gomes da Polícia Militar. A reportagem tenta localizar a defesa dele. A operação que levou à prisão do PM teve o apoio da Corregedoria da Polícia Militar.
Assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo no ano passado, Gritzbach era acusado de envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro para a facção. Na delação premiada assinada com o Ministério Público, ele entregou o nome de pessoas ligadas ao PCC e também acusou policiais de corrupção. A prisão dos outros 15 PMs aconteceu em uma operação na quinta-feira (16).
Veja abaixo o que se sabe sobre a investigação:
Como e quando as investigações começaram?
Quais elementos levaram à prisão dos PMs?
Qual a tecnologia de rastreamento usada pela polícia?
Quem são os policiais presos?
Quem é o mandante do assassinato?
Como o delator foi morto?
Como e quando as investigações começaram?
A investigação que culminou na prisão dos 16 policiais começou após uma denúncia anônima recebida em março do ano passado sobre o vazamento de informações sigilosas da polícia que favoreciam criminosos ligados à facção. O objetivo era evitar prisões e prejuízos financeiros do grupo criminoso.
Segundo a Corregedoria, informações estratégicas eram vazadas e vendidas por policiais militares da ativa e da reserva para integrantes do PCC. Um dos beneficiados pelo esquema era Gritzbach.
Em outubro, uma nova denúncia chegou à Corregedoria com fotos que mostravam PMs fazendo escolta para o empresário durante uma audiência no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste da capital. Em seguida, um inquérito militar policial foi instaurado.
Em 8 de novembro, Gritzbach foi morto com dez tiros na saída da área de desembarque do Terminal 2 do aeroporto. Ele carregava uma bagagem contendo mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. O empresário voltava de uma viagem de Alagoas acompanhado da namorada.
No dia seguinte ao crime, quatro PMs contratados para fazer a escolta particular do delator foram identificados e afastados. Na ocasião, os celulares dos agentes também foram apreendidos.
A partir desse material, a Corregedoria da PM cruzou informações e descobriu que os policiais faziam parte de uma rede de proteção do PCC. Eles passavam informações para os criminosos poderem se antecipar às ações da polícia.
Quais elementos levaram à prisão dos PMs?
Os policiais foram identificados e presos pela Corregedoria por meio da quebra de sigilo telefônico, da utilização das estações rádio-base (equipamentos que fazem a conexão entre celulares e companhias telefônicas), do sistema de reconhecimento facial e de outras ferramentas de inteligência.
Durante coletiva de imprensa na quinta-feira, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, explicou que essas ferramentas colocaram o suspeito de ser o atirador — o PM Denis Antonio Martins — na cena do crime.
Foi utilizada a comparação das imagens, de vídeo, imagens de dentro do ônibus com as imagens que nós tínhamos desse policial preso na data de hoje. Também o sistema de reconhecimento facial para ver se a imagem que [a Corregedoria] tinha batia com a imagem de dentro do ônibus e deu um percentual considerável de aceitação.
Qual a tecnologia de rastreamento usada pela polícia?
O cabo Denis Martins, preso acusado de ser o atirador, foi identificado após um procedimento que detectou o sinal de celular dele.
Primeiramente, a polícia quebrou o sigilo telefônico do suspeito para rastrear seus movimentos e as mensagens trocadas. A localização do suspeito foi identificada por sinais de telefonia. O sinal do celular indicou, então, que ele estava na cena do crime no momento da execução.
Veja como foi identificado o acusado de executar delator do PCC.
Bruna Azevedo/arte g1
Quem são os policiais presos?
Dezesseis policiais militares foram presos temporariamente por 30 dias pela Corregedoria e 15 deles já foram encaminhados ao Presídio Romão Gomes. O que foi preso neste sábado também será levado para lá.
Um dos alvos da operação de quinta foi o cabo Denis Antonio Martins, de 40 anos, acusado de ser o atirador que executou o delator do PCC. A identificação dele foi feita por uma tatuagem no braço, segundo a investigação.
Segundo Derrite, o material genético de Martins será coletado para comparar com o material coletado no dia do assassinato. “Tudo nos leva a crer que será positivo e aí essa prisão temporária poderá ser convertida em prisão preventiva”, disse.
Os outros 14 policiais presos na quinta eram do núcleo de segurança pessoal do delator e faziam a escolta privada dele.
O corregedor da Polícia Militar de São Paulo, coronel Fábio Sérgio do Amaral, explicou que dois oficiais da PM estão entre os presos. Um deles era responsável por organizar a escala de trabalho dos subordinados, permitindo que eles realizem o serviço de escolta para Gritzbach.
“Um oficial que era o chefe que gerenciava a atividade de segurança pessoal ilícita do Vinicius. O outro oficial que favorecia alguns PMs com suas escalas dava folga aos policiais e fazia intermediação de escalas para os policiais”, afirmou Amaral.
A polícia ainda não sabe se o suspeito de ser o atirador tem relação com os agentes que faziam a escolta particular do delator.
Neste sábado, foi preso o PM suspeito de ser o motorista do carro usado pelo atirador no dia da execução.
Veja os nomes dos policiais presos:
Abraão Pereira Santana
Adolfo Oliveira Chagas – Serviu na 1ª Companhia do 18º Batalhão da Polícia Militar
Alef de Oliveira Moura – serviu no Primeiro Batalhão de Polícia de Choque e depois na 2ª Companhia do 1º Batalhão
Denis Antonio Martins – PM da ativa suspeito de ter feito os disparos
Erick Brian Galioni
Fernando Genauro da Vila – 1º Tenente do 23º Batalhão da Polícia Militar
Giovanni de Oliveira Garcia – serviu no Primeiro Batalhão de Polícia de Choque. Trabalhou na seção de rádio
Jefferson Silva Marques de Souza – serviu no Primeiro Batalhão de Polícia de Choque
Julio Cesar Scarlett Barbini
Leandro Ortiz – Serviu na 1ª Companhia do 18º Batalhão da Polícia Militar
Leonardo Cherry Souza
Romarks Cesar Ferreira Lima – serviu no Primeiro Batalhão de Polícia de Choque e depois no 2º Batalhão
Samuel Tillvitz da Luz – Serviu na 1ª Companhia do 18º Batalhão da Polícia Militar
Talles Rodrigues Ribeiro – serviu no Primeiro Batalhão de Polícia de Choque e depois na 2ª Companhia do 1º Batalhão
Thiago Maschion Angelim da Silva – 1º Tenente, já atuou no do 18º Batalhão da Polícia Militar
Wagner de Lima Compri Eicardi – atuou no do 18º Batalhão da Polícia Militar
Quem é o mandante do assassinato?
Diretora do Departamento de Homicídios de Proteção e Proteção à Pessoa (DHPP), a delegada Ivalda Aleixo afirmou que o assassinato de Gritzbach foi encomendado por um integrante do PCC. Mas ainda não se sabe a identidade do autor.
“Nós temos duas linhas de investigação para os mandantes, ambos de facção. Então, foi um crime encomendado por algum membro do PCC. Nós temos duas linhas, que já estão bastante adiantadas, de investigação”, disse Aleixo durante entrevista coletiva.
A delegada afirmou, ainda, que mais de uma pessoa pode ter sido mandante. Apesar de a investigação não descartar qualquer hipótese, ela não considera que o mando do crime tenha sido de alguém ligado às polícias.
Como o delator foi morto?
Vídeos mostram por diferentes ângulos execução de empresário no Aeroporto de Guarulhos
Câmeras de segurança registraram o momento em que o delator do PCC foi morto no Aeroporto Internacional de São Paulo. A ação ocorreu no desembarque no Terminal 2.
Pelas imagens, é possível ver que dois atiradores estão encapuzados. A ação dura 15 segundos.
Passageiros caminhavam tranquilamente com suas malas quando, no canteiro central da área de desembarque, dois homens saem do Gol preto, estacionado em frente a um ônibus da Guarda Civil Metropolitana (GCM), e começam a atirar.
Gritzbach estava de camiseta branca e levava uma mala preta. Ele passa pela calçada e atravessa na faixa de pedestre. Quando chega ao outro lado, o Gol preto para quase em frente ao empresário, e os dois homens saem do carro atirando.
Ele tenta fugir, mas tropeça na mureta e cai, quando é atingido por mais disparos. Os suspeitos, então, entram novamente no veículo e fogem.
Ao todo, Gritzbach foi atingido por dez tiros.

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