O Ministério Público de Paris informou que abriu uma investigação sobre cyberbullying. ‘Estou totalmente qualificada para participar desta competição’, disse Khelif após sua vitória.
Getty Images via BBC
A boxeadora Imane Khelif entrou com uma ação judicial por ser vítima de um suposto cyberbullying durante as Olimpíadas de Paris 2024. No processo, estariam a autora J.K. Rowling e o dono do X, antigo Twitter, Elon Musk.
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A boxeadora argelina ganhou o ouro em Paris, apesar de ter sido desqualificada do Campeonato Mundial em 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA), depois que foi relatado que ela foi reprovada nos testes de gênero em 2023.
No entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu fortemente o direito de Khelif de competir e decidiu que ela podia disputar.
O advogado dela, Nabil Boudi, disse à revista Variety na terça-feira (13/8) que Musk e Rowling seriam citados no processo, por conta de comentários que fizeram nas redes sociais.
A participação de Khelif foi amplamente discutida nas redes sociais depois que a boxeadora italiana Angela Carini abandonou sua luta contra a argelina após 46 segundos.
O Ministério Público de Paris disse à agência de notícias AFP na quarta-feira (14/8) que eles haviam iniciado uma investigação de cyberbullying, após uma denúncia feita por Khelif.
No entanto, um reconhecido blogueiro jurídico francês escreveu no X que é improvável que Musk ou Rowling sejam de fato processados, já que a lei penal francesa não se aplica a atos cometidos fora da França contra estrangeiros.
Mas os promotores podem apresentar acusações contra aqueles que enviaram mensagens em solo francês.
Khelif, junto com Lin Yu-ting, de Taiwan, foi liberada para competir no boxe feminino em Paris.
“Esta é uma questão de justiça: as mulheres devem ter permissão para participar de competições femininas. E as duas são mulheres”, disse o presidente do COI, Thomas Bach.
É #FAKE que boxeadora Imane Khelif mudou de sexo para competir nas Olimpíadas de Paris
Elon Musk e a autora de Harry Potter postaram comentários sobre a boxeadora, com Rowling dizendo que Khelif estava “curtindo a angústia de uma mulher que ele acabou de socar na cabeça” após a luta com Carini.
Musk compartilhou uma publicação da nadadora Riley Gaines que dizia “homens não pertencem a esportes femininos”.
A BBC News procurou representantes de Musk e Rowling para comentar o caso.
Após sua vitória, Khelif disse que “ataques” sobre seu gênero deram à sua vitória contra a campeã mundial chinesa Yang Liu um “gosto especial” depois que ela ganhou o ouro olímpico no boxe feminino, um ano após ser desqualificada do Campeonato Mundial.
“Estou totalmente qualificada para participar desta competição”, disse Khelif, de 25 anos. “Sou uma mulher como qualquer outra. Eu nasci mulher. Eu vivi como uma mulher. Eu competi como mulher — não há dúvidas sobre isso.”
Um dia após abandonar sua luta com Khelif, Carini disse que “queria se desculpar” com sua oponente pela forma como lidou com os momentos seguintes, quando se recusou a apertar a mão de Khelif.
Yang também deveria enfrentar Khelif na final do Campeonato Mundial de 2023 — um título que Yang acabou ganhando — mas Khelif foi desqualificada pela Associação Internacional de Boxe (IBA) antes de se encontrarem.
A IBA disse que Khelif e Lin “não cumpriram os critérios de elegibilidade para participar da competição feminina, conforme estabelecido nos regulamentos da IBA”.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) permitiu que elas competissem, levantou dúvidas sobre os testes e criticou fortemente a IBA.
Uma coletiva de imprensa caótica realizada posteriormente pela IBA fez pouco para esclarecer a confusão em torno das proibições de Khelif e Lin.
O presidente-executivo Chris Roberts disse que a dupla fez “testes de cromossomos”, enquanto o presidente Umar Kremlev pareceu sugerir que testes determinaram os níveis de testosterona das lutadoras.
A BBC não conseguiu determinar em que consistiam os testes de elegibilidade.
A IBA, liderada pela Rússia, foi destituída de seu status de órgão regulador do boxe amador pelo COI em 2019 devido a temores sobre sua governança e regulamentação.
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