10 de outubro de 2024

Por que um inédito furacão categoria 6 é cada vez mais provável e como a ciência associa risco e crise do clima

Aquecimento crescente dos oceanos fornece cada vez mais combustível para que os furacões se intensifiquem rapidamente. Segundo especialistas, a tendência é que fenômenos muito intensos se tornem mais comuns. Furacão Milton quando se aproximava da Flórida na quarta-feira (9).
Jose Luis Gonzalez/Reuters
As mudanças climáticas estão tornando os furacões mais intensos e frequentes. Isso é o que apontam alguns estudo publicados recentemente, que mostram que o aumento na temperatura dos oceanos têm relação direta com a intensificação desse fenômeno.
Nesse cenário, pesquisadores já discutem a necessidade da criação de uma nova categoria na escala que mede a intensidade dos furacões: a categoria 6. (entenda mais abaixo)
👉Para entender a discussão é preciso lembrar que:
🌊 Os oceanos cada vezes mais aquecidos permitem que os furacões se intensifiquem mais rápido porque fornecem combustível para o fortalecimento desses fenômenos.
🌪️À medida que as consequências das mudanças climáticas se intensificam, a tendência é de que os furacões se tornem mais fortes com mais frequência.
📈Uma nova categoria pode auxiliar a classificar e dar dimensão aos fenômenos.
Gif furacão Milton
Reprodução
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Aquecimento dos oceanos e os furacões
Entre tantas consequências das mudanças climáticas, o aquecimento das águas dos oceanos é a que mais impacta no comportamento dos furacões.
“À medida que aquecemos o planeta com emissões de gases de efeito estufa, cerca de 90% desse excesso de calor que criamos foi para os oceanos”, analisa Andra Jenn, professora do Departamento de Ciência Ambiental da Rowan University.

Jenn é a autora de um estudo publicado na revista científica “Scientific Reports”, em 2023, que analisou justamente a relação entre o aquecimento do Oceano Atlântico Norte e a rápida intensificação dos furacões.
O estudo mostrou que tempestades tropicais no Atlântico têm 29% mais probabilidade de sofrer uma rápida intensificação atualmente – como aconteceu com o furacão Milton nesta semana –do que se comparado aos fenômenos que ocorreram entre 1970 e 1990.
Além disso, tempestades originadas no Oceano Atlântico têm mais que o dobro de probabilidade de se fortalecerem da categoria 1 para a categoria 3 em apenas 36 horas.
“As águas cada vez mais quentes fornecem uma fonte de combustível ideal para a tempestade. É como adicionar uma dose extra de cafeína ao seu café da manhã — não é o suficiente para fazer a tempestade acontecer, mas o suficiente para dar a ela um impulso extra”, compara.
A pesquisadora ainda acrescenta que, considerando o papel das águas quentes no abastecimento dos furacões, o esperado é que mais furacões se intensifiquem rapidamente se continuarmos a aquecer o planeta.
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Nova categoria máxima
Atualmente, a escala Saffir-Simpson, criada nos anos 1970, classifica os furacões de 1 a 5, baseada na velocidade máxima sustentada do vento de um furacão.
A categoria 5, a máxima, enquadra furacões com ventos superiores a 252 km/h. O furacão Milton, que chegou à Florida na noite de quarta-feira (10), por exemplo, foi classificado nessa categoria máxima ao longo de sua trajetória nos últimos dias.
❗Mas essa categoria pode não ser mais suficiente para medir a intensidade dos furacões, que vêm se tornando mais potentes a cada temporada.
Um estudo publicado no início deste ano na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) apontou que ao menos cinco furacões entre 1980 e 2021 ultrapassaram a categoria 5.
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Michael Wehner, cientista sênior da Lawrence Berkeley National Laboratory, da Universidade de Berkley, um dos autores do estudo, atribui isso ao já citado aquecimento do oceano e alerta que a tendência é que a situação se agrave.
“Furacões muito intensos, como o Milton, já são mais comuns do que eram no passado. E esse padrão vai continuar até que paremos de queimar carvão petróleo e gás natural”, afirma.
O pesquisador explica que a discussão sobre a criação de uma nova categoria não pretende modificar necessariamente a escala existente, mas alerta sobre os perigos desses fenômenos, cada vez mais intensos.
“A criação de uma categoria 6 teria como objetivo justamente aumentar a conscientização sobre como as mudanças climáticas estão tornando as tempestades mais intensas e perigosas”, explica Michael.
Andra Jenn também acrescenta que adicionar uma nova categoria máxima pode ser útil, especialmente para melhorar a comunicação a respeito de tempestades extremamente perigosas.
Apesar disso, ambos alertam que qualquer furacão que já se enquadra nas categorias 4 ou 5 tem potencial catastrófico para as áreas impactadas.
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