23 de outubro de 2024

Povo de Israel: Polícia Penal apreendeu 6 mil celulares nas cadeias desde 2023

Criminosos expulsos das facções criaram um grupo próprio e já contam com 18 mil integrantes. Quadrilha se especializou em golpes por telefone de dentro da cadeia. Operação mira quadrilha especializada no golpe de falso sequestro
Desde 2023, a Polícia Penal do RJ apreendeu quase 6 mil celulares de detentos do Povo de Israel (PVI), alvo desta terça-feira (22) da Operação 13 Aldeias. O grupo criminoso foi formado por encarcerados expulsos de outras facções e se especializou em golpes pelo celular — tudo da cadeia. Segundo as investigações, o PVI movimentou R$ 70 milhões obtidos em extorsões em 2 anos.
Segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), em 2023 foram arrecadados 3.792 celulares nas cadeias ocupadas pelo PVI. Este ano, o balanço parcial aponta 2.040 aparelhos retidos. Só nesta terça-feira, a Polícia Penal encontrou 66 telefones.
Segundo as investigações, o PVI surgiu há 20 anos e hoje conta com 18 mil integrantes, quase todos encarcerados em 13 unidades prisionais — dominadas pela facção e chamadas de “aldeias”. Esse volume representa 42% do efetivo prisional.
Chefes do Povo de Israel já encarcerados são alvos da ação desta terça: Marcelo Oliveira, o Tomate; Avelino Gonçalves, o Alvinho; Ricardo Martins, o Da Lua; e Jailson Barbosa, o Nem.
Os golpes são:
Falso sequestro: de dentro de uma cela, o preso liga para números aleatórios e finge ser um parente mantido refém por bandidos. Quando a vítima morde a isca, outro detento assume a chamada e passa a exigir um resgate.
Falsa taxa: os encarcerados ligam para estabelecimentos comerciais e se passam por traficantes da região. Falam que há dívidas e ameaçam o lojista com supostas retaliações.
Onde o PVI está
Benjamin de Moraes Filho, Complexo de Gericinó
Cotrim Neto, Japeri
Crispim Ventino, Benfica
Evaristo de Moraes, São Cristóvão
Hélio Gomes, Magé
José Antônio da Costa Barros, Complexo de Gericinó
Juíza Patrícia Acioli, São Gonçalo
Luis Cesar Fernandes Bandeira Duarte, Resende
Milton Dias Moreira, Japeri
Nelson Hungria, Complexo de Gericinó
Plácido Sá Carvalho, Complexo de Gericinó
Romeiro Neto, Magé
Tiago Teles de Castro Domingues, São Gonçalo
Celulares apreendidos na cadeia na Operação 13 Aldeias, contra o Povo de Israel
Reprodução
Buscas
Agentes da Delegacia Antissequestro (DAS) — com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Subsecretaria de Inteligência da Administração Penitenciária — saíram para cumprir 44 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos estão 5 policiais penais suspeitos de ajudar os criminosos.
Diligências são realizadas em Copacabana e Irajá, na capital, e nos municípios de São Gonçalo, Maricá, Rio das Ostras, Búzios e São João da Barra, bem como no Espírito Santo. A Polícia Penal também efetua ações nos presídios.
Na Zona Sul do Rio, o endereço foi o de uma joalheria que, segundo a polícia, lavou dinheiro das extorsões.
O Povo de Israel foi fundado em 2004 por renegados por outras denominações — muitos são estupradores e pedófilos. De posse de celulares, que entram ilegalmente dentro dos presídios, eles criaram uma indústria de extorsões.
De acordo com a Polícia Civil, 1.663 pessoas físicas e 201 pessoas jurídicas foram utilizadas para fazer circular o dinheiro.
A Polícia Civil do RJ iniciou nesta terça-feira (22) a Operação 13 Aldeias, contra uma quadrilha que, de dentro dos presídios, faz centenas de vítimas todos os dias com o golpe do falso sequestro.
Reprodução/ TV Globo
Nelson Hungria, a ‘central da extorsão’
Ainda segundo as investigações da DAS, a base da facção é o Presídio Nelson Hungria, que fica dentro do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste da cidade.
O Povo de Israel não tem relação com o Complexo de Israel, conjunto de favelas na Zona Norte do Rio dominado pelo Terceiro Comando Puro, a 2ª maior facção do tráfico do RJ, atrás apenas do Comando Vermelho.
Segundo a Polícia Civil, o inquérito mostra que há uma clara divisão de tarefas e funções dentro da organização. São chamados de “empresários” os presos responsáveis por obter o celular que será usado dentro da cadeia.
O apelido de “ladrão” é para aquele que faz as ligações para as vítimas, simulando vozes de parentes que estariam supostamente em poder da quadrilha. Tem também os “laranjas”, aliados fora das prisões que recebem o dinheiro obtido nos crimes.
Foi descoberto, por exemplo, que a quadrilha já tem ramificações no Espírito Santo e em São Paulo, com pessoas que recebem o dinheiro das extorsões em contas bancárias.

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