2 de novembro de 2024

Praça, museu, vila militar e escola: veja o que foi construído em antigos cemitérios de Uberlândia


O historiador Antônio Pereira da Silva conta a história dos primeiros cemitérios e construções que existiram nos locais quando Uberlândia nem era chamada assim. Com o passar dos anos, alguns foram desativados, dando espaço para outros empreendimentos e prédios. Cemitério Campo do Bom Pastor no Dia de Finados em 1993
Arquivo Público de Uberlândia/Divulgação
O Dia de Finados é celebrado neste sábado (2), um feriado no qual os mortos são relembrados e recebem diversas orações e homenagens. Religiões como o catolicismo, budismo, umbanda e islamismo comemoram a data, cada uma a sua maneira.
Muitas pessoas aproveitam a data para visitar túmulos e levar flores. Uberlândia tem cinco cemitérios municipais, o Campo do Bom Pastor, São Pedro e os dos distritos de Martinésia, Miraporanga e Tapuirama. A cidade tem, ainda, um cemitério e crematório particular, o Parque dos Buritis.
No entanto, o que muitos não sabem é que a cidade já teve outros cemitérios – que não existem mais – e deram lugar à escolas, praças e até mesmo casas. De acordo com o historiador Antônio Pereira da Silva, o primeiro cemitério da cidade remete ao século XIX, quando Uberlândia ainda era chamada de São Pedro de Uberabinha e era apenas um povoado.
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O primeiro cemitério da cidade… hoje é uma praça
O local onde hoje fica a Praça Cícero Macedo, no Bairro Fundinho, foi enterrado o primeiro corpo da cidade. O ano era 1853 e morria Dona Maria Eufrásia de Jesus, esposa de Antônio Alves Carrejo, um dos fundadores do povoado que deu origem à Uberlândia.
Na época, o arraial era chamado “São Pedro de Uberabinha”, e era um distrito de Uberaba. Em 1888, a região recebeu o título de “Vila”, mas foi apenas em 1889 que o local foi elevado à cidade e passou a ser chamado apenas de Uberabinha.
No artigo “Os cemitérios”, Antônio Pereira da Silva contou que o primeiro cemitério se chamava “Campo Santo”. O espaço foi criado no entorno da primeira capela da cidade, que recebeu o nome de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha.
A obra foi administrada por Felisberto Alves Carrejo, cunhado de Maria Eufrásia, e Francisco Alves Pereira, o filho de João Pereira da Rocha, o primeiro morador a fixar residência na região.
Quando Dona Maria morreu, a capela ainda não tinha um padre encarregado da paróquia. Então, o padre Antônio Martins, da aldeia de Sant’Anna do Rio das Velhas, hoje a cidade de Indianópolis, foi chamado às pressas para oficiar a missa do velório.
“Dessa forma, o padre Antônio Martins, num ato só, inaugurou as nossas duas primeiras construções cristãs: a capela e o cemitério. Dona Maria foi o primeiro corpo inumado intramuros”, escreveu o historiador.
Com o crescimento do povoado, o cemitério se tornou insuficiente para a população. A pedido do padre João da Cruz Dantas Barbosa, um frei chamado Paulino foi até o povoado anunciar a construção de um novo cemitério e chegou a ajudar diretamente na obra.
De campinho de futebol assombrado à Museu Municipal
A Praça Clarimundo Pereira, onde fica o Museu Municipal, já foi um cemitério, o segundo a ser construído na cidade
Eloisa Oliveira/g1
O segundo cemitério criado foi construído em 1881, no local onde atualmente está a Praça Clarimundo Carneiro e na qual fica o Museu Municipal. A construção, inclusive, foi incluída na relação de obras que justificavam o pedido de emancipação da vila do distrito de Uberaba, em 1888.
Com o tempo, o cemitério também se tornou pequeno e foi desativado. O local ficou um bom tempo abandonado, segundo Antônio Pereira da Silva. O historiador contou que o terreno abandonado se tornou alvo de invenções sobre assombrações que apareciam de noite e um espaço para crianças jogarem bola durante o dia.
“Pode-se dizer que foi ali que nasceu o futebol para Uberabinha através das peladas que o jovem Avenir Gomes fazia com um velha bola de couro trazida de Uberaba”, escreveu.
Foi apenas em 1915 que o então agente executivo da cidade, João Severino Rodrigues da Cunha, adquiriu os terrenos do cemitério abandonado e contratou Cypriano Del Fávero para a construção de um Paço Municipal.
Segundo a Prefeitura de Uberlândia, o “Palácio dos Leões” foi inaugurado em 11 de novembro de 1917 e abrigou a sede da Prefeitura até 1966, e a Câmara até 1993. Foi em 1994 que a Secretaria de Cultura deu início à ocupação do local, que passou a abrigar o Museu Municipal.
Cemitério Velho: quase um estádio, hoje a Vila Militar
O Cemitério Velho foi o próximo a ser construído e ficava às margens da estrada de Santa Maria, hoje a Avenida Afrânio Rodrigues da Cunha. Atualmente, o local é a Vila Militar do 36º Batalhão de Infantaria Mecanizado, mas quase foi um grande estádio municipal.
Esse era, ao menos, o plano do então prefeito, Tubal Vilela da Silva. Em 19 de novembro de 1952, a Câmara Municipal de Uberlândia decretou a Lei 322/1952, que autorizava a construção do Estádio Municipal no terreno do antigo cemitério.
Só que a ideia não deu muito certo. Segundo o historiador Antônio, um campo de futebol chegou a ser feito no lugar, no qual ocorreram alguns jogos, mas por falta de crescimento e novas construções o local foi outra vez desativado.
Foi apenas algum tempo depois que o antigo cemitério se tornou a Vila Militar. Mas as casas não foram construídas por cima dos jazigos. Em 1951 os corpos ali sepultados foram transferidos para um novo cemitério municipal.
Antigo cemitério, atual escola
Cemitério São Paulo; Uberlândia; construído em 1940 no Bairro Brasil; desativado em 1980;
Arquivo Público de Uberlândia/Divulgação
Segundo Antônio, na década de 1950 foi criado o Cemitério São Paulo, nos altos da Vila Brasil, atual Bairro Brasil. A necrópole era simples, destinada ao enterro de pessoas de baixa condição econômica.
“Os túmulos eram pequenos montículos de terra com uma pequena cruz de ferro na cabeceira. Nessa cruz se prendia uma pequena placa numerada para identificação do corpo”, escreveu o historiador.
Reportagem mostrou a celebração do Dia de Finados de diferentes religiões
Conforme Antônio, o primeiro corpo a ser enterrado no cemitério foi o de Francisco Lau de Almeida, conforme relatado por Marcelo Ambrósio, bisneto do falecido.
Antônio também contou que, na época, as pessoas diziam que o São Paulo era o cemitério dos pobres e o São Pedro, criado na década de 1920 e ativo até hoje, o cemitério dos ricos.
Posteriormente, o cemitério São Paulo foi desativado e hoje em dia deu lugar ao Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (Cemepe), a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Professora Horlandi Violatti e a Escola Municipal Professor Otávio Batista Coelho Filho.
Portão do antigo cemitério São Paulo, que hoje em dia é o Cemepe
Arquivo Público de Uberlândia/Divulgação
Os atuais cemitérios
Criado na década de 1920, o Cemitério São Pedro existe até hoje. De acordo com Antônio, o primeiro corpo a ser sepultado no local foi de Maria Alexandrina da Silveira, conhecida como Dona Cotinha. Ela morreu em 1928 e era filha do primeiro maçom da cidade, Dámaso Martins Marquez.
Também no São Pedro foi enterrado Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo. O ator, comediante, cantor, produtor e compositor é conhecido por ser o filho mais ilustre de Uberlândia.
Na parte oeste da cidade foi construído o cemitério Campo do Bom Pastor, que também ainda está ativado. Segundo o historiador, o primeiro corpo sepultado no local foi de Dona Maria Dolores, que era funcionária do empresário e ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub) Geraldo Migliorini, em 1988.
Mausoléu de Grande Otelo no Cemitério São Pedro, em Uberlândia
Arquivo Público de Uberlândia/Divulgação
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