1 de fevereiro de 2025

Praga Asiática que ameaça se espalhar pelo Brasil libera cheiro desagradável para afastar predadores, diz biólogo


Biólogo Yan Lima, de 28 anos, responsável pelo primeiro registro do percevejo-de-pintas-amarelas no Brasil, explicou o método de defesa do inseto. Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
O percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo), uma espécie originária da China e considerada uma praga na Ásia, libera um odor desagradável para afastar possíveis predadores. A informação foi confirmada ao g1 pelo biólogo Yan Lima, de 28 anos, responsável pelo primeiro registro do inseto no Brasil.
✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp.
A espécie, que se alimenta de diversas plantas e causa desequilíbrios ambientais, tem chamado a atenção de especialistas após ter sido visto 22 vezes na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. A maior incidência é em Santos, embora também tenham sido feitos registros em São Vicente e Guarujá.
De acordo com Yan, os percevejos possuem glândulas que, ao serem abertas, produzem um líquido que evapora rapidamente, liberando um cheiro desagradável para afastar possíveis predadores e ‘salvar a própria vida’.
O especialista explicou que este mecanismo de defesa é usado contra qualquer animal que faça o percevejo se sentir ameaçado, desde outros insetos e aracnídeos a mamíferos maiores.
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo) ninfa — ou seja, antes de chegar na fase adulta
Yan Lima
Primeiro registro
O biólogo também é fotógrafo de vida selvagem e sempre busca por pequenos animais. Por este motivo, Yan encontrou um percevejo-de-pintas-amarelas no dia 13 de novembro de 2020, enquanto registrava insetos em uma árvore em frente à janela da própria casa, próxima ao Porto de Santos.
Em 19 de fevereiro de 2021, o jovem publicou as imagens no sistema iNaturalist, usado para registro e identificação de animais, e foi surpreendido. O entomologista [profissional que estuda os insetos] Cristiano Schwertner e os pesquisadores Ricardo Brugnera e Jocelia Grazia entraram em contato para alertá-lo sobre a possibilidade daquele ser o primeiro registro da espécie no Brasil.
Especialistas entraram em contato com o biólogo Yan Lima para informá-lo que havia feito o primeiro registro da espécie
Arquivo pessoal
Yan contou que, junto aos especialistas, realizou uma expedição pela cidade de Santos com o objetivo de encontrar o percevejo e confirmar a espécie até então inédita no Brasil. Após o primeiro registro, o biólogo localizou o inseto mais quatro vezes.
“Foi uma experiência incrível. Depois do primeiro contato dos pesquisadores, pesquisei mais sobre essa espécie invasora e vi que na América só tinha um registro nos EUA. Para um biólogo, um registro desse nível é de um peso enorme”, afirmou Yan.
Como é esse percevejo?
O Erthesina fullo é um inseto polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas. No continente asiático, ele é responsável por danos em algumas culturas agrícolas. Porém, no Brasil, ainda não há dados suficientes para afirmar se a espécie representa uma ameaça para as plantas cultivadas.
Tamanho: Atinge de 1,2 a 1,5 cm de comprimento.
Aparência: Corpo verde ou amarelo com pintas amarelas.
Reprodução: A fêmea deposita entre 50 a 200 ovos por vez.
Ciclo de vida: O ciclo de vida completo dura de 4 a 6 semanas.
Vida adulta: Vive entre 2 a 4 meses, dependendo das condições.
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
Preocupação
Embora ainda não tenha causado danos significativos no Brasil, o percevejo é visto com preocupação por pesquisadores. Caso a espécie continue a se expandir, ela pode se tornar invasora, comprometendo o equilíbrio ambiental e trazendo prejuízos econômicos, no país e América do Sul.
“Há risco, caso não haja um monitoramento adequado”, alertou Ricardo Brugnera, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O último registro no sistema iNaturalist foi feito em outubro de 2024, no Parque São Vicente.
O INaturalist é uma plataforma on-line e um aplicativo de ciência cidadã. As pessoas podem registrar em fotos e publicar observações sobre plantas, animais, insetos e outros organismos. A ação contribui para a criação de uma base de dados sobre a biodiversidade global.
Riscos:
Ambiental e econômico: Caso a espécie se espalhe, pode se tornar invasora e causar danos ambientais e econômicos em nível nacional e até na América do Sul.
Hábito alimentar: O inseto é polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas.
Competição: De acordo com o biólogo Yan, há o risco dos percevejos asiáticos disputarem recursos com os nativos, diminuindo a população dos insetos brasileiros.
Agricultura: O profissional também destacou que, caso a praga chegue nas lavouras brasileiras, pode se tornar um problema para os agricultores. Mas, de acordo com Yan, é cedo para se preocupar já que até o momento o inseto está presente apenas na Baixada Santista.
Como chegou ao Brasil?
A principal hipótese é que o percevejo tido como praga na Ásia tenha chegado ao Brasil pelo Porto de Santos
A Tribuna Jornal e Yan Lima
A hipótese mais provável é que o inseto tenha sido trazido por navios, possivelmente em contêineres. Inclusive, o primeiro registro do percevejo na Baixada Santista aconteceu próximo ao Porto de Santos.
“A conclusão aconteceu devido ao percevejo nunca ter sido registrado na América Latina. Portanto, a chance dele ter chegado em Santos por meio terrestre é vaga. Tanto os percevejos quanto outros animais, podem ser transportados em navios ou outras embarcações por estarem presentes dentro de contêineres”, explicou Yan.
Riscos a humanos?
Apesar de não representar riscos à saúde humana até o momento, especialistas recomendam o monitoramento contínuo e sugerem que qualquer pessoa que aviste o inseto tire fotos e publique no iNaturalist, a fim de aumentar a base de dados sobre a espécie.
O Ministério da Agricultura foi procurado, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
G1 em 1 minuto – Santos: Percevejo considerado praga na Ásia é encontrado no Brasil
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos

Mais Notícias