Francisco Celso é responsável pelo projeto Ressocialização, Autonomia e Protagonismo (RAP) no Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria. Escola pública atende 150 adolescentes privados de liberdade, que cumprem medidas socioeducativas. Francisco Celso professor da rede pública de ensino do DF com alunos do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria
Bárbara Figueira/SEEDF
Há 9 anos, o professor de história Francisco Celso, de 44 anos, inova na forma de dar aula para os alunos do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria, no Distrito Federal . Por meio do projeto Ressocialização, Autonomia e Protagonismo (RAP), ele usa elementos da cultura Hip Hop com 150 adolescentes em conflito com a lei que cumprem medida socioeducativa na instituição.
Com o projeto, a escola é finalista do prêmio “Melhores Escolas do Mundo 2024” (World’s Best School Prizes, no nome original, em inglês), na categoria “Superação de Adversidades” (saiba mais abaixo). O professor conta que recebeu com “orgulho” a notícia da escola entre os finalistas na premiação.
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“Esses meninos e meninas são os verdadeiros protagonistas desse projeto. Eu acho que serve para quebrar um pouco do imaginário social que os enxerga como violentos, como meninos e meninas problema. Eu costumo dizer que eles não são violentos, eles sofreram várias formas de violência. Não são problemas, são potências (…) Eles precisavam fazer algo para resgatar a autoestima”, diz Francisco Celso.
Professor há 21 anos, o idealizador do RAP conta que quando começou dar aula no sistema socioeducativo, sabia que precisava fazer algo diferente. “Não podia ser mais do mesmo. Eles passaram por escolas regulares e elas não deram conta deles, né? Então, não podia repetir a mesma fórmula, porque senão seria fadado ao fracasso”.
‘Não são copos vazios’
Ex-socioeducandos do projeto RAP de unidade de internação no DF cantando em show
Os adolescentes que terminam o cumprimento da medida socioeducativa são acompanhados fora da instituição. Muitos continuam se valendo da cultura hip para não reincidir no ato infracional, conta o professor (veja acima vídeo de ex-internos).
Dentro da unidade de internação, antes de entrar em sala de aula, o professor também faz um “diagnóstico”.
“Primeiro percebi que eles tinham perdido completamente a capacidade de sonhar. A segunda percepção é que dentro da minha disciplina [história], os alunos não se identificavam com as histórias contadas nos livros didáticos, mas se viam nas narradas nas letras de rap, e escolhi a música como ferramenta pedagógica”.
Francisco Celso diz que os adolescente em conflito com a lei “não são copos vazios, eles carregam letramento com eles e com elas, que muitas vezes nós educadores não carregamos”.
Jovens que cumprem pena no socioeducativo participam de festival de poesia e hip hop na unidade
Arquivo Pessoal
De acordo com Francisco Celso, 90% dos alunos se autodeclaram negros e negras e 100% moram em regiões periféricas do DF. “São regiões onde a cultura urbana é muito presente. Então, eles carregam essa potência. O que eu fiz foi eu oportunizar pra que essa potência fosse ainda mais amplificada”.
A principal diferença em ensinar em uma escola regular e em uma unidade de internação é a sequência dos conteúdos, diz o professor.
“No socioeducativo isso é quase impossível, porque você entra numa turma hoje, entra na mesma turma na semana seguinte, ela já tem outra configuração completamente diferente. Tem jovem que já foi liberado, porque terminou de cumprir a sentença, tem novos jovens. Então, você tem que preparar uma aula em que você consiga atravessar a mente e o coração daquele aluno naquele momento, porque você não sabe se no próximo encontro ele vai estar”.
Francisco Celso diz que trabalha basicamente com três eixos transversais do currículo da educação básica do Distrito Federal:
Diversidade 🧒🏻🧒🏿
Direitos humanos 🫱🏼🫲🏿
Sustentabilidade 🌱
“Dentro de diversidade, eu posso abordar a questão racial no Brasil e pegar um videoclipe ou uma música dos Racionais MCs, como Negro Drama. Depois, eu deixo eles muito à vontade pra manifestar as aprendizagens no formato que eles se sentem mais a vontade”, diz o professor.
Prêmio Melhores Escolas do Mundo
Vista de um módulo da unidade de internação de Santa Maria, no DF
Marília Marques/G1
O prêmio Melhores do Mundo é promovido pelo T4 Education, com apoio da Fundação Lemann, Accenture e American Express, e tem o objetivo de reconhecer mundialmente o melhor do ensino; são cinco categorias:
👉Colaboração Comunitária
👉Ação Ambiental
👉Inovação
👉Superação de Adversidades
👉Apoio a Vidas Saudáveis
Na quinta-feira (13), foram divulgados os nomes de 10 finalistas em cada uma das categorias do prêmio. Além do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria, outras três escolas públicas brasileiras foram indicadas à premiação: o Colégio Militar de Manaus, Escola Estadual Deputado Pedro Costa em São Paulo e Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria das Graças Escócio Cerqueira, em Itaituba, no Pará.
Os próximos passos da premiação são:
Em setembro deste ano, mais uma etapa classifica apenas três escolas por grupo.
Os resultados finais saem em novembro de 2024, após decisão de educadores, ONGs, empreendedores sociais e representantes do governo, da sociedade civil e do setor privado.
Como votar?
Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria oferece projetos relacionados à música para jovens privados de liberdade
Divulgação/T4 Education
O colégio público do DF é um dos quatro brasileiros que fazem parte dos indicados a premiação internacional. As outras três instituições brasileiras são: o Colégio Militar de Manaus, Escola Estadual Deputado Pedro Costa em São Paulo e Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria das Graças Escócio Cerqueira, em Itaituba, no Pará.
Os vencedores serão escolhidos por voto popular e as votações se encerram dia 27 de junho.
👉🏻Clique aqui para votar no Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria do DF.
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