7 de janeiro de 2025

Preço da gasolina sobe 10% nos postos em 2024; Petrobras só ajustou valor nas refinarias uma vez no ano


Julho foi o único mês em que a petroleira elevou o valor de venda do combustível. Postura é reflexo da mudança na política de preços da companhia. Além da gasolina, custos do diesel e do etanol também aumentaram nas bombas em 2024. Posto de gasolina
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Os preços médios da gasolina, do diesel e do etanol subiram nos postos de combustíveis do país em 2024. É o que mostram dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Veja abaixo como ficou o acumulado no segundo ano do governo Lula 3.
GASOLINA: preço médio passou de R$ 5,58 na última semana de 2023 para R$ 6,15 na última semana de 2024. O avanço é de 10,21%.
ETANOL: no mesmo período, passou de R$ 3,42 para R$ 4,12. O aumento é de 20,46%.
DIESEL: foi de R$ 5,86 para R$ 6,06. A alta de 3,41% no ano.
O etanol, que registrou a maior alta do ano entre os combustíveis, foi impactado principalmente pela queda na produção de cana, em meio às queimadas, e pela cotação do açúcar no mercado internacional.
“O preço do açúcar teve uma forte alta em 2024. E, sempre que o açúcar sobe lá fora, as usinas direcionam parte da produção à commodity. Isso desequilibra a oferta e a demanda”, explica Ricardo Balistiero, professor de economia do Instituto Mauá de Tecnologia.
Os aumentos da gasolina e do diesel ocorreram, principalmente, por conta da reoneração do PIS/Cofins e da alta do ICMS.
Ainda que os preços tenham subido nos postos em 2024, os impactos da gasolina no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foram bem menores do que em 2023. Ou seja, o combustível — que têm grande peso na inflação oficial do país — pressionou menos o índice no ano que termina. (leia mais abaixo)
Há ainda o fator Petrobras nessa conta. Diferentemente do sobe e desce de preços nos últimos anos, a petroleira fez apenas um reajuste na gasolina vendida às distribuidoras em todo o ano de 2024. Isso fez com que os valores nas bombas ficassem menos voláteis.
Assim, o combustível registrou apenas duas variações significativas nos preços: em fevereiro, com a alta do ICMS, e em julho, com o ajuste feito pela estatal.
Veja no gráfico abaixo.

Mudanças de impostos
Se em 2023 houve um vaivém intenso de impostos sobre combustíveis, em 2024 as alterações foram poucas. Mais especificamente, em dois momentos:
Em 1º de janeiro, houve a reoneração de PIS/Cofins para óleo diesel A (sem adição de biodiesel) e biodiesel, de R$ 0,3515 e R$ 0,1480 por litro, respectivamente.
Em 1º de fevereiro, houve o aumento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). As altas foram de R$ 1,3721 por litro para a gasolina e de R$ 1,0635 para o diesel e biodiesel.
A mudança de cenário reflete o fim de um longo processo, iniciado em 2021, de isenções e reonerações de impostos sobre combustíveis.
De março daquele ano até fevereiro passado, foram pelo menos 13 anúncios importantes de alterações nos impostos sobre gasolina, diesel, etanol e gás natural veicular (GNV) — sendo sete só em 2023.
Mexer na tributação foi uma forma de conter a alta nos preços ao consumidor e, assim, reduzir os impactos na inflação, especialmente durante a pandemia de Covid-19 e após a eclosão da guerra na Ucrânia, que elevaram os custos do petróleo e do produto final nos postos do país.
Em 2024, com a reoneração integral dos combustíveis, esse ritmo frequente de mudanças chegou ao fim.
Petrobras
A Petrobras também interferiu menos nos preços em 2024. A postura não tão intervencionista da empresa coincide com a mudança, em maio de 2023, de sua política de preços.
Desde então, a estatal não segue mais a política de paridade internacional (PPI), que reajustava o preço dos combustíveis com base nas variações do dólar e da cotação do petróleo no exterior.
Tanto é que, em 2024, houve um único aumento no preço da gasolina, aplicado em 8 de julho. A alta foi de R$ 0,20 (ou 7,11%) para as distribuidoras, levando ao valor de R$ 3,01.
Veja o histórico no gráfico abaixo.

Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, lembra que a própria cotação do petróleo ajudou a conter os reajustes em 2024.
A commodity atingiu a máxima de US$ 90 em meados de abril, mas caiu ao longo do ano, o que contribuiu para que não houvesse uma pressão significativa sobre a gasolina — apesar da disparada do dólar.
Além disso, lembra o especialista, a mudança na política de preços da Petrobras permitiu que a petroleira segurasse a alta do combustível mesmo nos períodos de maior aperto.
“Houve momentos ao longo do ano em que a gasolina e o diesel estavam com uma defasagem próxima de 20% — principalmente no primeiro trimestre, quando o petróleo estava em patamares mais elevados”, diz.
Essa defasagem é a diferença entre os preços que a estatal efetivamente pratica e os que ela poderia (ou deveria) praticar, com base no câmbio e no preço do petróleo.
Ou seja, é quando a empresa opta por não repassar os custos imediatamente, mesmo com a alta do petróleo e o avanço do dólar. Assim, a Petrobras vende às distribuidoras a valores mais baixos, com o intuito de evitar que os combustíveis fiquem mais caros ao consumidor final.
Em geral, a nova política de preços da petroleira tem ajudado a conter os valores nos postos. Por outro lado, quando anunciada, a mudança gerou receios em relação à saúde financeira da empresa. Quase dois anos depois, os ânimos parecem ter se acalmado.
Um dos termômetros disso é o mercado de capitais. Ricardo Balistiero, da Mauá, destaca o desempenho das ações da Petrobras, que subiram cerca de 20% no ano. O bom resultado foi visto tanto nos papéis preferenciais (sem direito a voto dos acionistas) quanto nos ordinários (com direito a voto).
“Isso mostra que a nova política de preços, de certa maneira, agradou ao mercado”, diz. “Enquanto isso, o Ministério da Fazenda não tem tido nos combustíveis um grande problema inflacionário.”
A estatal apresentou uma deterioração nas margens de refino, transporte e comercialização (RTC) nos últimos trimestres, aponta Frederico Nobre, da Warren. Para ele, porém, o movimento pode não ser necessariamente um reflexo da nova política de preços da companhia.
“Há uma série de outros fatores influenciando esses resultados, como utilização das refinarias, preço de produção de derivados e variação cambial. Então, é difícil atribuir essa perda de margens a uma mudança na política de preços”, diz.
Conforme mostrou o g1, o lucro da estatal recuou 33,8% em 2023 na comparação com 2022. Mesmo assim, o resultado foi o segundo melhor da história da empresa, segundo a própria companhia.
O dado mais recente, referente ao terceiro trimestre de 2024, mostra um avanço de 22,3% no lucro da empresa em relação ao mesmo período do ano anterior.
Lei eleva teor de biocombustíveis na gasolina e no diesel
Impactos da gasolina na inflação
A gasolina é o combustível que mais pesa no IPCA, a inflação oficial do país. Ela compromete, em média, 5% do orçamento das famílias, explica André Braz, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Com a menor variação de preços nos postos em 2024, os combustíveis foram responsáveis por 9,53% do IPCA no acumulado de 12 meses até outubro, diz Braz. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2023, eles responderam por 17,57% do índice nacional de preços — quase o dobro.
Em outras palavras: apesar do forte peso, em 2024 a gasolina gerou menos impacto no bolso das famílias do que em 2023.
Veja abaixo as variações da inflação e da gasolina, conforme dados do IBGE:
No acumulado de 12 meses até outubro, o IPCA ficou em 4,76%; a gasolina subiu 7,08%.
Na mesma janela até outubro de 2023, o IPCA foi de 4,82%; a gasolina saltou 16,60%.
“O combustível que mais subiu no período foi o etanol. Mas ele pesa muito pouco, compromete menos de 1% no orçamento familiar. Então, [com impacto menor da gasolina] a participação dos combustíveis na inflação caiu muito”, explica Braz.
O pesquisador afirma que o cenário pela frente é de incerteza, com uma série de conflitos internacionais em curso — que impactam diretamente o preço do petróleo — e a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, que promete mexer com a geopolítica global e pressionar a inflação.
No Brasil, destaque para a atividade econômica, que tem apresentado resultados positivos, como um PIB forte e a menor taxa de desemprego da história. Por outro lado, os desafios fiscais — e, consequentemente, inflacionários — seguem, ao passo que o governo busca alternativas para controlar as contas públicas.
Recentemente, o Executivo federal anunciou um pacote de corte de gastos, que está sendo discutido e precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional. Enquanto o mercado financeiro segue descrente em relação à efetividade da proposta, o dólar tem atingido as máximas, acima de R$ 6.
Em resposta, o Banco Central do Brasil (BC) também sinalizou fortes elevações na Selic, a taxa básica de juros do país, como tentativa de controlar a inflação.
Braz, da FGV, acredita que a dívida pública “incomoda um pouco, mas o país não quebraria por causa disso”. Para o economista, é necessária uma “sinalização de comprometimento maior com as contas públicas” para acalmar os ânimos do mercado.
“Um comunicado um pouco mais maduro e assertivo por parte do governo colocaria um fim a essa dúvida de cumprimento de meta da inflação. Esse ruído, então, desapareceria”, conclui o economista.
Qual combustível está valendo mais a pena no seu posto? Confira na calculadora do g1:

Como funciona a calculadora?
O cálculo médio é feito a partir do preço e do rendimento de cada combustível. Com a oscilação dos valores da gasolina e do etanol nos postos, a opção mais vantajosa pode variar.
Segundo especialistas, o etanol vale mais a pena quando está custando até 70% do preço da gasolina. Entenda o cálculo.

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