7 de janeiro de 2025

Prejuízo de até R$ 1,5 bilhão e ameaça à biodiversidade: queimadas crescem mais de 130% em Goiás em 2024, e profissionais traçam estratégias de prevenção


Entre as principais ações estão o monitoramento via satélite e a integração entre órgãos e entidades para fortalecer as medidas preventivas. Especialistas alertam ainda para o agravamento das mudanças climáticas a partir do aumento dos incêndios. Focos de queimadas aumentam mais de 130% em Goiás em 2024
Anualmente, as chamas das queimadas criam uma paisagem acinzentada e impactam de forma significativa a vida da população goiana. São problemas de saúde relacionados à baixa qualidade do ar e diversos prejuízos econômicos e ambientais, como uma ameaça à biodiversidade. De 2023 (ano que teve redução nas queimadas) para 2024, os focos de queimadas em Goiás aumentaram em mais de 130%, segundo um levantamento, deixando marcas profundas no coração do Cerrado.
“Nós temos a ‘cultura do fogo’ [costume do uso indiscriminado do fogo para atividades diversas]. No Brasil e em Goiás mais ainda. Tem que mudar esse padrão para evitar futuros incêndios”, avaliou o promotor de Justiça Juliano Araújo.
“A grande maioria dos incêndios é causada por ação humana, seja ela acidental ou intencional”, disse o capitão do Corpo de Bombeiros Jonathan Soares.
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Os dados do aumento das queimadas são do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse acréscimo, de acordo com uma análise feita em setembro pelo Instituto Mauro Borges (MIB), pode trazer um prejuízo de até R$ 1,5 bilhão para a economia goiana.
Para reduzir o impacto das queimadas, profissionais de diversas áreas, como a Secretaria de Meio Ambiente (Semad), o Ministério Público de Goiás (MP-GO), o Corpo de Bombeiros e as forças de segurança goianas, têm elaborado estratégias de combate e prevenção. Entre as principais ações estão o monitoramento via satélite, que agiliza a resposta aos focos de incêndio, e a integração entre órgãos e entidades para fortalecer as medidas preventivas.
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Incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em Goiás
Divulgação/ICMBio
Aumento das queimadas
Dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que, de janeiro a 30 de setembro de 2023, foram registrados 2.478 focos de incêndio ativos em Goiás. No mesmo período em 2024, esse número saltou para 5.796, representando um aumento de 133,9%.
Na análise dos últimos dez anos, o monitoramento mostra que, em 2014, Goiás registrou 5.897 focos de incêndio ao longo de todo o ano. Outro ano crítico foi 2019, com 7.160 focos. Em 2024, agosto e setembro foram os meses mais graves, com 1.120 e 3.111 focos, respectivamente. Segundo o Inpe, a maioria das queimadas em Goiás ocorre entre junho e outubro, refletindo uma sazonalidade que coincide com o período de seca.
“Esse período de meados de agosto até meados de setembro é o mais severo. É quando temos uma biomassa extremamente seca, com uma grande quantidade de material disponível nesses sistemas e um teor baixíssimo de umidade. Durante o período seco, a vegetação do Cerrado fica extremamente vulnerável”, detalhou o professor Fernando Araújo.
Comparação do total de focos ativos detectados pelo satélite de referência em Goiás
O professor Fernando Araújo atua no Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e explicou que, apesar desse aumento de incêndios em Goiás, o bioma Cerrado como um todo apresentou certa estabilização na média das áreas queimadas nos últimos anos.
Os dados divulgados no monitoramento do Inpe mostram, nos anos de 2014 e 2015, que o Cerrado teve 65 mil e 76 mil focos, respectivamente. Esses dados se mantêm estáveis ao passo de que a margem de 60 mil focos se repetiu nos anos de 2019, 2020 e 2021. Além da quantidade dos focos de incêndio, a intensidade do fogo é um fator importante a ser considerado, segundo o professor.
“[No Cerrado], a gente não pode dizer que houve uma queda de ano a ano. Se compararmos, por exemplo, o ano de 2012 [que, segundo o Inpe, teve 90 mil focos], esse aumento não é tão significativo. A questão é a intensidade do fogo. Ou seja, o fogo, nos últimos anos, devido a essas alterações climáticas, vem aumentando em severidade”, ponderou Fernando.
O capitão do Corpo de Bombeiros Jonathan Soares lembra, inclusive, sobre a dificuldade de combate do fogo a depender da intensidade do incêndio. Além disso, ele pontua que esses desafios são ainda maiores durante o período de seca.
“Nesse período de estiagem, os maiores desafios são que a vegetação fica mais seca, a umidade fica muito baixa e os ventos muito intensos. Então todos esses itens juntos, associados, fazem com que os incêndios se tornem de difícil combate”, complementou Jonathan.
Causas naturais e ação humana
Incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Divulgação / PNCV
É consenso entre os especialistas que a maior parte dos incêndios florestais que acontecem em Goiás é fruto de ação humana. Além de relembrar que provocar incêndio florestal é um crime previsto pela Lei dos Crimes Ambientais, o capitão do Corpo de Bombeiros de Goiás Jonathan Soares afirmou serem raros os focos iniciados com causa natural.
“As principais causas que a gente tem acompanhado é o uso de fogo para a limpeza de terrenos, renovação de pastagens, turistas que vão em locais ou trabalhadores que usam fogueiras e não têm o zelo com essa fogueira. Isso pode provocar um incêndio. Além da queima de lixo, tanto em propriedades rurais, quanto em áreas baldias”, exemplificou o capitão.
Em concordância, o professor do Iesa, Fernando Araújo, reforça a responsabilidade da ação humana na maior parte dos incêndios ocorridos em Goiás e diz que a maior parte desses focos acontece em áreas naturais. “Em média, de 60 a 70% desse fogo acontecem em ambientes naturais, com alta recorrência. Eles vão se degradando e não apresentando mais aquela resiliência”, complementou.
Incêndio em parque da Chapada dos Veadeiros em Goiás
Divulgação/Icmbio
O desmatamento, segundo o professor, é um fator que intensifica ainda mais as queimadas.
“O desmatamento é basicamente retirada da cobertura da vegetação nativa, que drena o dióxido de carbono disponível na atmosfera, nos nossos ambientes, para que ela possa realizar a sua fotossíntese. Ela utiliza para gerar energia, [para realizar] a evapotranspiração, liberando água e umidade para a atmosfera. Esse desmatamento e as atividades agrícolas pressionam cada vez mais os remanescentes naturais deixando ali a área mínima”, disse o professor.
O pesquisador detalhou que, sem essa vegetação nativa para realizar a evapotranspiração, que ajuda a manter o ciclo de chuvas, o solo fica cada vez mais seco. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esse ano informaram que, em 2023, Goiás atingiu a maior produção agrícola da história. O desmatamento, no entanto, que é fundamental para a realização dessas atividades agrícolas, contribui para a intensificação das queimadas nas áreas naturais.
“Essas áreas desmatadas e destinadas a atividades agrícolas consomem muita água, mas elas não retêm essa água no sistema. O que estamos vendo é uma retirada contínua da água subterrânea para irrigação, mas sem a reposição natural. Estamos pressionando os nossos sistemas hídricos e promovendo um déficit que afeta diretamente a agricultura e a disponibilidade de água nos próximos anos”, analisou Fernando.
“A cada ano nós vamos enfraquecendo cada vez mais as espécies nativas. Esse fogo vai ser cada vez mais intenso e [com essa] frequência de fogo, ela [a vegetação] começa a ficar extremamente degradada”, complementou.
Fogo destrói máquinas e assusta animais e fazendeiros em propriedades em Terezópolis de Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Monitoramento, prevenção e combate ao fogo
Esse contexto de um alto número de focos por ano traz a necessidade de estratégias assertivas na prevenção e no combate ao fogo, de modo a reduzir os estragos o máximo que for possível.
“Preservando nossas florestas e evitando emissão de gases de efeito estufa, nós estaremos contribuindo para a melhoria das condições climáticas do nosso estado”, ponderou o promotor Juliano Araújo.
Bombeiros combatem incêndio em Cavalcante para evitar que chamas atinjam Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Reprodução/Corpo de Bombeiros
O promotor enfatiza que a parceria entre os órgãos goianos é essencial para que as ações preventivas sejam eficazes, pois assim cada entidade contribui com sua especialidade de forma integrada e coordenada. Um exemplo é o Gabinete de Gestão Integrada para Combater Queimadas, criado pelo Governo de Goiás, que reúne o Ministério Público, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e outras forças de segurança para atuar no combate aos incêndios florestais.
“[O objetivo] é ter uma resposta mais rápida no [combate] aos focos de incêndio. Para isso, é extremamente necessária essa parceria entre os diversos órgãos”, resumiu o promotor.
Nesse gabinete, o Ministério Público atua como um articulador entre os demais órgãos. O promotor detalhou que o grupo atua em três eixos principais:
Diagnóstico Preventivo: Durante o período chuvoso, é feito um mapeamento das áreas com maior incidência de incêndios nos últimos três anos. Em locais sem Defesa Civil e brigadas municipais, o MP-GO trabalha com promotores locais para fortalecer esses recursos e incentivar a criação de planos de contingência. Proprietários rurais também são orientados a adotar práticas preventivas em suas propriedades para evitar focos de incêndio.
Monitoramento de Unidades de Conservação: O gabinete monitora a implementação de medidas de precaução em parques estaduais e municipais e atua com a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) e concessionárias de rodovias e ferrovias para aumentar as áreas de aceiros e roçagens e reduzir o risco de queimadas próximas às estradas.
Procedimentos Operacionais de Combate: O terceiro eixo visa definir protocolos claros para o combate efetivo aos incêndios, com orientações sobre quais órgãos devem ser acionados em diferentes situações, facilitando uma resposta rápida e coordenada.
“O que vamos cobrar e acompanhar é que os órgãos possam atuar de forma uniformizada. [Por exemplo,] a brigada de incêndio precisa ser treinada e orientada pelo Corpo de Bombeiros, porque é uma questão perigosa. Nas unidades de conservação, tem que ter uma parceria com os órgãos que cuidam dos parques estaduais e municipais. Também [apoio dos] sindicatos rurais, Agrodefesa, secretaria de Agricultura, tudo para orientar os produtores sobre como evitar os incêndios”, exemplificou o promotor.
Incêndio na Chapada dos Veadeiros
Divulgação / IBC
Além do treinamento feito aos produtores rurais, o capitão do Corpo de Bombeiros Jonathan Soares acrescentou que é feita a distribuição de abafadores a eles, facilitando o combate ao fogo. Ele também menciona a importância da locação de mais viaturas e até da decretação de estado de emergência durante os períodos críticos, proibindo o uso de fogo. A parceria entre o governo e a iniciativa privada também é importante para esse trabalho preventivo, segundo a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis.
“Esse ano, então, o que é que a gente observou? Aqueles que se preveniram, fizeram seus aceiros, fizeram todas as medidas adequadas, conseguiram proteger os seus imóveis. Aqueles outros que não fizeram, tiveram mais áreas queimadas. Essa integração é fundamental porque cada órgão público tem uma competência e uma atuação. A gente precisa capacitar as pessoas, precisa preparar todo o mundo para esses eventos”, afirmou Andréa.
O promotor Juliano Araújo avalia, no entanto, a insuficiência das políticas públicas existentes no Brasil para enfrentar com real eficácia o problema das queimadas:
“A gente percebe no Brasil [que] esse enfrentamento ainda é muito incipiente. Nós já deveríamos estar pensando em ações para poder mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Nós temos que estar preparados não só para o fogo, mas também para a enchente, por exemplo. [No Brasil e em Goiás], as políticas públicas ainda são muito pontuais. Às vezes, focam primeiramente na unidade de conservação, fazem o aceiro só no parque e esquecem de fazer o aceito em toda a região. Precisa integrar e ampliar essa visão da política pública, para que todos os envolvidos comecem a trabalhar de forma preventiva.”
Comandante da Defesa Civil do CBMGO, coronel Pedro Carlos Borges de Lira, aponta alta de casos de incêndios
Nielton Santos/G1 Goiás
Uso de tecnologias e campanhas
Para um bom entendimento da situação do fogo em Goiás, como o surgimento de novos focos, o uso de tecnologias é essencial. O Corpo de Bombeiros, por exemplo, trabalha diretamente com um monitoramento feito por satélites que registra o fogo e envia uma mensagem via WhatsApp para a unidade mais próxima daquele incêndio. O uso de drones (tanto para a prevenção, quanto para o combate) também é essencial para que os bombeiros possam visualizar as melhores estratégias de combate.
Esses equipamentos foram cruciais durante a Operação Cerrado Vivo deste ano, por exemplo. A ação é feita pelo Corpo de Bombeiros de Goiás na Região da Chapada dos Veadeiros e, em 2024, iniciou de 15 de julho a 31 de outubro. Segundo a instituição, a operação fez quase 350 atendimentos à população local, concentrando-se principalmente no combate aos incêndios florestais, salvamento e atendimentos pré-hospitalares.
Neste ano, o Governo de Goiás criou um aplicativo chamado “Monitor de Queimadas de Goiás”, disponível nas lojas de aplicativos dos celulares. Nesse app, é possível denunciar, de forma anônima ou não, a existência de focos de incêndio.
A realização de ações educativas e de conscientização à população também são de extrema importância no trabalho preventivo. Por isso, o capitão do Corpo de Bombeiros Jonathan Soares conta que o órgão faz palestras em escolas e campanhas em meios de comunicação, como TV, rádio e redes sociais.
Operação Cerrado Vivo, realizada na Chapada dos Veadeiros
Divulgação/Corpo de Bombeiros
Ameaça à biodiversidade, escassez hídrica e perda de fertilidade do solo
Tatu-canastra, jiboia arco-íris e sapo-foguetinho foram vistos
Reprodução/TV Anhanguera/Corpo de Bombeiros/Pedro Peloso
Uma das grandes consequências das queimadas, sem dúvidas, é a ameaça à biodiversidade. Com o aumento da frequência dos incêndios causados por ação humana, o professor Fernando Araújo detalha que áreas inteiras acabam degradadas, levando à invasão de espécies e fragilização dos ecossistemas.
“Essas regiões vão ficando cada vez mais pobres do ponto de vista da biodiversidade, afetando diretamente a manutenção desses ecossistemas e fazendo com que eles fiquem extremamente frágeis”, pontuou Fernando.
Em 2024, por exemplo, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros sofreu queimadas que atingiram quase 12 mil hectares. Embora essa área represente uma pequena parte dos mais de 700 mil hectares do parque, a chefe do local, Nayara de Oliveira Stacheski, explicou que, dentro da área em que ocorreram os focos, a flora foi devastada e, provavelmente, a fauna menor, como pequenos répteis, também foi gravemente afetada.
“A gente perdeu muita área de campo, mas danos em valores para biodiversidade é algo incalculável. A gente não consegue calcular qual o dano. A gente pode ter perdido espécies que a gente nem tenha descrito ainda, nem saiba da existência. Pode ter perdido espécies endêmicas [nativas do Cerrado]. Mas o maior dano, com certeza, é um dano que a gente consegue ver na flora nativa do Cerrado”, ponderou Nayara.
Incêndio em parque da Chapada dos Veadeiros em Goiás
Divulgação/ICMBio
Além disso, como lembra Fernando, com as queimadas, o solo sofre com a perda de fertilidade, pois o fogo consome a biomassa essencial para nutrir os microrganismos e preservar a saúde do solo.
“Esse processo compromete a fertilidade do solo, dificultando a produção de nutrientes essenciais para a biodiversidade e para a saúde do solo”, disse o professor.
Consequência das queimadas não apenas em Goiás e no Brasil, mas em todo o mundo, outro problema é o aumento das emissões de dióxido de carbono. Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a concentração de dióxido de carbono na atmosfera (que é elevada pelos incêndios) cresceu mais de 10% nas duas décadas. Esse acúmulo de CO2, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), é o mais rápido já experienciado durante a existência humana.
Por meio do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024, a organização disse que os países precisam reduzir em 42% a emissão de gases de efeito estufa para evitar um aumento catastrófico de temperatura de até 3,1°C. Gerando um cenário difícil de ser revertido e que reforça a urgência de estratégias de mitigação de impacto, esse aumento de temperaturas torna as condições mais favoráveis para novos incêndios, que, por sua vez, liberam ainda mais CO2 na atmosfera, intensificando o ciclo de aquecimento.
Essas mudanças e os eventos climáticos extremos (veja abaixo ilustração do cartunista Jorge Braga publicada no Jornal O Popular) são agravados pelos incêndios e podem gerar consequências que afetam diretamente a vida cotidiana da população.
“Isso vai agravar os eventos climáticos extremos: chuvas muito fortes e secas muito prolongadas. Isso vai impactar, de certa forma, na produção agrícola. Ou vai se tornar mais cara ou vai diminuir a quantidade da produção em razão da falta de água. Isso vai ser sentido na pele de cada cidadão”, concluiu Juliano.
Charge do cartunista Jorge Braga acerca dos eventos climáticos extremos, em Goiás
Reprodução/Jornal O Popular
R$ 1,5 bilhão em perdas: o custo das queimadas
O aumento nos incêndios divulgado pelo Governo de Goiás vai causar prejuízos à economia goiana. De acordo com dados do Instituto Mauro Borges (IMB), que é vinculado à Secretaria-Geral de Governo (SGG), a estimativa é de uma perda que pode chegar a R$ 1,5 bilhão até o final de 2024. Essa análise divulgada pelo instituto no final de setembro deste ano considera os custos diretos associados a fatores econômicos, sociais e ambientais e respeita a destinação da terra atingida e os processos de recuperação e replantio.
“É um prejuízo de perdas econômicas sofridas pelo estado em razão das queimadas. Por exemplo, uma lavoura de cana que foi queimada e perdeu a produção, está contabilizado aí nessa estatística. Também os investimentos necessários para colocar o pessoal [que combate os incêndios] em campo”, explicou a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Andréa Vulcanis.
Bombeiro auxilia no combate às chamas na Serra dos Pireneus
Divulgação/Bombeiros
Ao detalhar esse prejuízo, o instituto informou que, de janeiro a agosto deste ano, as queimadas geraram uma perda de R$ 710 milhões para a economia de Goiás. Cerca de 60% das áreas atingidas são produtivas e, em termos concretos, essa área representa quase 102 mil hectares. Para ilustrar, considerando que o tamanho máximo de um campo de futebol estipulado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) é de 10,8 mil metros quadrados, a área queimada equivale a aproximadamente 94,4 mil campos de futebol.
Se considerar apenas as áreas produtivas de Goiás, o aumento dos incêndios nesses locais foi de 40%, de 2023 para 2024. O instituto explicou que o impacto financeiro desse aumento, que pode atingir até R$ 1,5 bilhão, é referente ao custo total das queimadas e foi estabelecido com a mensuração dos custos diretos. Para esse cálculo, foram feitas estimativas diretas da produção agropecuária, bem como os custos intangíveis considerando o valor da terra. Os custos indiretos das queimadas em Goiás não foram incluídos no cálculo em razão da sua dificuldade de mensuração.
O instituto acredita que a perda pode chegar ao valor de R$ 1,5 bilhão caso a extensão das áreas queimadas produtivas e não produtivas de setembro a dezembro seja semelhante à observada em 2023. Além disso, como a projeção foi realizada em setembro, será necessária uma reavaliação das perdas, considerando o aumento das chuvas desde o início de outubro.
Saúde em alerta
Fumaça encobrindo Goiânia
Weimer Carvalho/O Popular
Mais do que as próprias chamas, as queimadas carregam no ar um impacto silencioso, mas profundo, na saúde da população. Profissionais da saúde se preocupam, principalmente, com o impacto das partículas de fumaça e das cinzas que pairam invisíveis, agravando problemas respiratórios e sobrecarregando os hospitais.
Em agosto deste ano, devido ao avanço da frente fria que mudou o fluxo dos ventos, cidades em Goiás passaram dias cobertas por nuvens de fumaça das queimadas. Na época, o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, explicou que foram afetadas as regiões centro-sul, norte e nordeste do estado.
“Quando está chovendo, é formada uma zona de convergência, que é um fluxo que vai lá nas Cordilheiras, bate e volta para a região central do Brasil. Esse fluxo continua. Só que ele estava transportando, além de umidade, fumaça, onde está seco”, destacou André.
A análise divulgada pelo Instituto Mauro Borges acerca dos prejuízos das queimadas sugere que, até agosto de 2024, 342 pessoas foram internadas por causa das queimadas no estado resultando em um custo de mais cerca de R$ 496 mil aos cofres públicos no estado. No entanto, a nota divulgada destaca que o cálculo pode estar subestimando o real valor do custo associado a doenças respiratórias, já que há indivíduos que não buscaram tratamento médico ou, ainda, pessoas cujos problemas respiratórios não exigiram internação. Ou seja, essa quantidade pode ser ainda maior.
Fumaça encobrindo Goiânia
Weimer Carvalho/O Popular
Ao g1, a infectologista Marina Roriz, do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), detalhou os riscos que a fumaça das queimadas pode causar ao organismo e ressaltou que essa condição é prejudicial, principalmente, para pessoas que já possuem alguma alergia, como rinite e sinusite: “Essa fumaça tem gás carbônico e fuligens, que são partículas maiores irritantes para a mucosa do nariz e de todo o trato respiratório”, disse.
“Cresce as crises alérgicas, causa um processo inflamatório nas vias aéreas e deixa as pessoas mais suscetíveis às gripes e resfriados”, afirmou.
Entre os cuidados necessários para enfrentar o clima durante um período de seca, associado a queimadas, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) recomendou os seguintes cuidados:
Hidrate-se;
Evite exposição ao sol;
Fique em ambientes fechados;
Proteja as vias respiratórias;
Cuidado com os sintomas.
Recuperação e reflorestamento
Ação do programa ArborizaGyn, realizado em Goiânia
Divulgação/Prefeitura de Goiânia
Neste contexto, ações de recuperação e reflorestamento se tornam essenciais. Em novembro deste ano, por exemplo, está previsto o lançamento de uma edição especial do programa ArborizaGyn pela Prefeitura de Goiânia. O objetivo é plantar 50 mil mudas e recuperar uma Área de Preservação Permanente (APP) que foi vítima de um incêndio criminoso no Residencial Três Marias. Esse incêndio é investigado pela Delegacia Estadual de Meio Ambiente (DEMA).
Além da plantação das mudas, será construída uma pista de caminhada que servirá como aceiro para preservar a unidade de conservação. Para o plantio, a Prefeitura de Goiânia convidou a população da região, além de estudantes e educadores de unidades escolares próximas.
Projeto já plantou mais de 1milhão de mudas em ação de reflorestamento do Cerrado
Arquivo pessoal/Emiliano Lobo de Godoi
Outro destaque é o projeto Virada Ambiental, que nasceu dentro da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2019. Com o objetivo de sensibilizar para a conservação ambiental, até julho de 2023, a ação promoveu o plantio de mais de 1 milhão de mudas em 206 municípios goianos. Na época, Emiliano Lobo de Godoi, coordenador da Virada Ambiental, explicou que a conservação da vegetação do bioma e o aumento da qualidade ambiental do estado são os principais propósitos das ações.
“O plantio das mudas é pano de fundo. Queremos sensibilizar para conservação ambiental e o projeto usa o plantio de mudas para sensibilizar para isso”, explica.
Para o promotor Juliano Araújo, que atua há 27 anos na área ambiental, ações desse tipo são essenciais para tentar reverter o cenário atual onde a tendência é o aumento das temperaturas, o agravamento dos eventos climáticos extremos e o crescimento da quantidade de focos de incêndios.
“Manter a cobertura ambiental e até ampliar a cobertura vegetal é crucial, pois com isso você aumenta a absorção de carbono da atmosfera. Conseguimos, assim, atingir os níveis de alerta que a sociedade científica tem dado para a gente não aumentar a temperatura na Terra e desequilibrar ainda mais o sistema climático”, arrematou Juliano.
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