Em Mogi das Cruzes, agricultores perderam grande parte de suas produções. Engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral explica que o excesso de chuvas sucedido por dias quentes pode ser ainda pior para os produtores. Plantações em sítios de Mogi das Cruzes ficaram embaixo d’água
Arquivo pessoal/Josias Barbosa de Morais Filho
Após dias nublados e de fortes chuvas no Alto Tietê, a previsão é de que os próximos dias sejam de temperaturas mais elevadas e sol, mesmo que ainda com algumas pancadas de chuva, de acordo com a Climatempo. As variações do clima, então, prejudicam as produções rurais da região.
Engenheiro agrônomo da regional de Mogi das Cruzes da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Felipe Monteiro de Almeida explica que o excesso de chuvas por si só já prejudica as produções e quando é sucedida por altas temperaturas, o resultado é ainda pior.
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“Quando tem uma chuva constante, mesmo que ela não alague, ela aumenta bastante a ocorrência de doenças. As hortaliças são muito suscetíveis às doenças que têm influência da chuva. Depois, a temperatura alta vem como um ‘golpe de misericórdia’, porque as culturas perdem água com muito mais velocidade e ficam queimadas porque já estão fragilizadas pelo excesso de água de antes”, explicou o especialista.
Mesmo com temperaturas mais amenas nos últimos dias, a quantidade de água já causou bastante prejuízo aos produtores de Mogi das Cruzes. Nas áreas de várzea, a estimativa é de que, pelo menos, 50% das produções já tenham sido perdidas.
Para tentar minimizar esses impactos, Almeida diz que é possível que os produtores tomem algumas medidas, mas isso depende do estágio da cultura e também do clima nos próximos dias.
“O que é possível fazer é tentar antecipar a colheita. Algumas vezes, por exemplo, o consumidor encontra nas gôndolas do mercado dois alfaces sendo vendidos como se fossem um. Isso acontece porque o produtor precisou colher antes. Essa pode ser uma estratégia para amenizar o problema”, orientou.
O engenheiro agrônomo fala ainda que existem tratamentos preventivos e curativos, como agrotóxicos que fazem a proteção da planta. Para a eficácia, porém, é necessário que pare de chover.
Prejuízos
Produtor da Chácara Santo Ângelo perdeu parte da plantação de brócolis
Arquivo pessoal/Josias Barbosa de Morais Filho
Na Chácara Santo Ângelo, o produtor Josias Barbosa de Morais Filho perdeu uma parte significativa da produção que ele tinha de brócolis. Ele estava colhendo a plantação há 60 dias, mas precisaria de outros 30 dias para finalizar.
Com as chuvas, ele perdeu todo esse restante. Em média, o produtor estava colhendo 30 dúzias por semana, vendendo cada dúzia por R$80. Após as perdas, ele deixará de ter R$2,4 mil por semana.
Josias perdeu ainda a produção de salsinha e parcialmente uma plantação de rúcula, já que ele irá tentar recuperar as que ainda não estavam no tamanho certo. Já a produção de cebolinha, que fica em uma parte mais alta do sítio dele, não foi afetada.
“O volume de água aumentou muito rápido e deixou o solo encharcado. Agora, é um prejuízo e um dinheiro que vai fazer falta. O que pode melhor um pouco é depois, quando eu conseguir colher, porque o valor agregado vai aumentar, já que muita coisa foi perdida e estará em falta no mercado”, ressaltou.
E a previsão de dias mais quentes não anima o produtor, já que as altas temperaturas também poderão ser prejudiciais para as produções.
“Vamos dizer que é como colocar uma planta verdinha em uma panela de água fervendo. Vai dar um choque térmico e vai ter planta que não vai resistir, a qualidade vai cair bastante, a planta fica amarelada e não é o jeito que o consumidor gosta”, lamentou.
Também em Mogi das Cruzes, Cícero Pereira perdeu 100% da produção dele, que era composta por coentro, alface, couve e cebolinha. Ele ainda não sabe qual foi o prejuízo financeiro, mas lamenta que ainda vai demorar pra voltar a plantar, mesmo que a chuva dê uma trégua nos próximos dias.
“Mesmo que o tempo volte ao normal, eu não vou plantar agora, porque até uns 30 dias daqui para frente corre perigo, né? Eu só vou querer plantar agora lá para o final de abril, porque agora ainda posso ter prejuízo”, disse.
Cícero Pereira perdeu 100% da produção que tinha
Arquivo pessoal/Cícero Pereira
Auxílio
Para tentar reduzir os prejuízos, a Prefeitura de Mogi das Cruzes solicitou à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento auxílio emergencial para os produtores rurais afetados pelas fortes chuvas registradas nos últimos dias.
Segundo a administração municipal, no casos mais graves, ao menos 50 famílias residentes na região do Conjunto Santo Angelo e Jundiapeba tiveram prejuízos – 40% perdeu toda a produção e 60% teve ao menos metade da produção de hortaliças afetada pelas tempestades.
Em audiência com o secretário executivo de Agricultura do Estado, Edson Fernandes, o secretário municipal de Agricultura de Abastecimento, Renato Abdo, apresentou o cenário na cidade e solicitou a abertura de crédito emergencial do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), no valor de R$ 20 mil para as famílias afetadas, além de prorrogação do pagamento dos financiamentos rurais existentes.
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