6 de fevereiro de 2025

Prejuízos de produtores rurais com chuvas podem ser ainda maiores com aumento da temperatura


Em Mogi das Cruzes, agricultores perderam grande parte de suas produções. Engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral explica que o excesso de chuvas sucedido por dias quentes pode ser ainda pior para os produtores. Plantações em sítios de Mogi das Cruzes ficaram embaixo d’água
Arquivo pessoal/Josias Barbosa de Morais Filho
Após dias nublados e de fortes chuvas no Alto Tietê, a previsão é de que os próximos dias sejam de temperaturas mais elevadas e sol, mesmo que ainda com algumas pancadas de chuva, de acordo com a Climatempo. As variações do clima, então, prejudicam as produções rurais da região.
Engenheiro agrônomo da regional de Mogi das Cruzes da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Felipe Monteiro de Almeida explica que o excesso de chuvas por si só já prejudica as produções e quando é sucedida por altas temperaturas, o resultado é ainda pior.
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“Quando tem uma chuva constante, mesmo que ela não alague, ela aumenta bastante a ocorrência de doenças. As hortaliças são muito suscetíveis às doenças que têm influência da chuva. Depois, a temperatura alta vem como um ‘golpe de misericórdia’, porque as culturas perdem água com muito mais velocidade e ficam queimadas porque já estão fragilizadas pelo excesso de água de antes”, explicou o especialista.
Mesmo com temperaturas mais amenas nos últimos dias, a quantidade de água já causou bastante prejuízo aos produtores de Mogi das Cruzes. Nas áreas de várzea, a estimativa é de que, pelo menos, 50% das produções já tenham sido perdidas.
Para tentar minimizar esses impactos, Almeida diz que é possível que os produtores tomem algumas medidas, mas isso depende do estágio da cultura e também do clima nos próximos dias.
“O que é possível fazer é tentar antecipar a colheita. Algumas vezes, por exemplo, o consumidor encontra nas gôndolas do mercado dois alfaces sendo vendidos como se fossem um. Isso acontece porque o produtor precisou colher antes. Essa pode ser uma estratégia para amenizar o problema”, orientou.
O engenheiro agrônomo fala ainda que existem tratamentos preventivos e curativos, como agrotóxicos que fazem a proteção da planta. Para a eficácia, porém, é necessário que pare de chover.
Prejuízos
Produtor da Chácara Santo Ângelo perdeu parte da plantação de brócolis
Arquivo pessoal/Josias Barbosa de Morais Filho
Na Chácara Santo Ângelo, o produtor Josias Barbosa de Morais Filho perdeu uma parte significativa da produção que ele tinha de brócolis. Ele estava colhendo a plantação há 60 dias, mas precisaria de outros 30 dias para finalizar.
Com as chuvas, ele perdeu todo esse restante. Em média, o produtor estava colhendo 30 dúzias por semana, vendendo cada dúzia por R$80. Após as perdas, ele deixará de ter R$2,4 mil por semana.
Josias perdeu ainda a produção de salsinha e parcialmente uma plantação de rúcula, já que ele irá tentar recuperar as que ainda não estavam no tamanho certo. Já a produção de cebolinha, que fica em uma parte mais alta do sítio dele, não foi afetada.
“O volume de água aumentou muito rápido e deixou o solo encharcado. Agora, é um prejuízo e um dinheiro que vai fazer falta. O que pode melhor um pouco é depois, quando eu conseguir colher, porque o valor agregado vai aumentar, já que muita coisa foi perdida e estará em falta no mercado”, ressaltou.
E a previsão de dias mais quentes não anima o produtor, já que as altas temperaturas também poderão ser prejudiciais para as produções.
“Vamos dizer que é como colocar uma planta verdinha em uma panela de água fervendo. Vai dar um choque térmico e vai ter planta que não vai resistir, a qualidade vai cair bastante, a planta fica amarelada e não é o jeito que o consumidor gosta”, lamentou.
Também em Mogi das Cruzes, Cícero Pereira perdeu 100% da produção dele, que era composta por coentro, alface, couve e cebolinha. Ele ainda não sabe qual foi o prejuízo financeiro, mas lamenta que ainda vai demorar pra voltar a plantar, mesmo que a chuva dê uma trégua nos próximos dias.
“Mesmo que o tempo volte ao normal, eu não vou plantar agora, porque até uns 30 dias daqui para frente corre perigo, né? Eu só vou querer plantar agora lá para o final de abril, porque agora ainda posso ter prejuízo”, disse.
Cícero Pereira perdeu 100% da produção que tinha
Arquivo pessoal/Cícero Pereira
Auxílio
Para tentar reduzir os prejuízos, a Prefeitura de Mogi das Cruzes solicitou à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento auxílio emergencial para os produtores rurais afetados pelas fortes chuvas registradas nos últimos dias.
Segundo a administração municipal, no casos mais graves, ao menos 50 famílias residentes na região do Conjunto Santo Angelo e Jundiapeba tiveram prejuízos – 40% perdeu toda a produção e 60% teve ao menos metade da produção de hortaliças afetada pelas tempestades.
Em audiência com o secretário executivo de Agricultura do Estado, Edson Fernandes, o secretário municipal de Agricultura de Abastecimento, Renato Abdo, apresentou o cenário na cidade e solicitou a abertura de crédito emergencial do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), no valor de R$ 20 mil para as famílias afetadas, além de prorrogação do pagamento dos financiamentos rurais existentes.
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