Jorge Santos trabalhou para Isac Félix (PL) até terça (29), quando foi exonerado do cargo de assessor de gabinete. Na quarta (30), a Justiça decretou prisão do dirigente da torcida do Palmeiras por participar do ataque que matou cruzeirense e feriu 17 torcedores da Máfia Azul. Jorge Santos, presidente da Mancha Alviverde, era funcionário do vereador Isac Félix (PL). Torcida organizada do Palmeiras chegou a pedir que seus associados votassem no vereador durante as eleições municipais deste ano
Reprodução/Redes sociais
Jorge Luiz Sampaio Santos, presidente da Mancha Alviverde, procurado pela polícia por suspeita de idealizar, planejar e participar da emboscada da torcida organizada do Palmeiras que deixou um cruzeirense morto e feriu outros 17 torcedores da Máfia Azul, organizada do Cruzeiro, trabalhou até dois dias após o crime como funcionário do vereador Isac Félix (PL).
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O ataque dos palmeirenses aos dois ônibus dos cruzeirenses ocorreu no domingo (27) na Rodovia Fernão Dias em Mairiporã, Grande São Paulo. Jorge foi exonerado na terça-feira (29) do cargo de assessor de gabinete de Isac, segundo publicação do Diário Oficial do município de São Paulo.
Ele tem 43 anos e recebia salário mensal bruto de R$ 7.344,92 como assessor parlamentar. Ele foi funcionário de Isac por seis e anos e oito meses, mas pediu exoneração do cargo um dia antes da decretação da prisão dele pela Justiça.
O pedido foi atendido pelo vereador do PL e ele acabou desligado da Câmara Municipal de São Paulo.
Na quarta-feira (30), a Justiça de São Paulo atendeu pedidos da Polícia Civil e do Ministério Público (MP) e decretou a prisão temporária, por 30 dias, de Jorge e de mais cinco palmeirenses da Mancha. Na sexta, outros dois membros da Mancha tiveram pedido de prisão decretados, e um deles, Alekssander Ricardo Tancredi, foi detido.
Outras passagens criminais
Os seis palmeirenses que tiveram as prisões decretadas (da esquerda para a direita): Jorge Santos, Leandro Santos e Aurélio Lima (na primeira linha); Felipe Santos, Henrique Lelis e Neilo Silva (na segunda linha) — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Reprodução/Arquivo pessoal
Além do presidente, outros dois dirigentes da organizada são procurados pela polícia: Felipe Mattos dos Santos, o “Fezinho”, vice-presidente; e Leandro Gomes dos Santos, o “Leandrinho”, diretor.
Também tiveram as prisões decretadas Henrique Moreira Lelis, o “Ditão Mancha”; Aurélio Andrade de Lima; e Neilo Ferreira e Silva, o “Lagartixa”, professor de boxe e muai thai. O oitavo torcedor não teve o nome revelado.
Jorge teve um inquérito policial aberto contra ele em 2023 por suspeita de ter feito ameaças contra a atual presidente do Palmeiras, Leila Pereira. Ele também havia sido condenado antes por posse ilegal de arma de fogo.
E na Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), na capital paulista, responsável pela investigação, ele é citado em ao menos cinco boletins de ocorrência envolvendo tumultos com a Mancha Alviverde. A torcida é considerada a principal e maior organizada do Palmeiras.
Quem tiver informações sobre o paradeiro dos investigados pode telefonar para o Disque-Denúncia pelo número 181. Não é preciso se identificar.
O advogado Gilberto Quintanilha, que defende os interesses de seis palmeirenses da Mancha Alviverde foi nesta sexta-feira (1º) à delegacia que investiga o caso na capital paulista. Ele disse à imprensa que não poderia comentar o assunto porque precisaria ter acesso à investigação.
Vereador defende presidente da Mancha
Faixa de campanha do vereador Isac Félix e placa com o nome dele homenageando a Mancha Alviverde estavam na sede da torcida durante operação da polícia e do MP
Reprodução
Um cartaz de campanha de Isac foi encontrado pela polícia e pelo Ministério Público (MP) nesta sexta durante operação dentro da sede da Mancha Alviverde, na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. Além disso, uma placa de abril de 2024 da Câmara Municipal em homenagem aos 41 anos de existência da torcida palmeirense. Nela tem o nome de Isac Félix, idealizador da menção à organizada (veja foto acima).
O g1 entrou em contato com o vereador Isac, por meio de sua assessoria de imprensa, que se manifestou por nota sobre o fato de Jorge ter sido seu funcionário na Câmara Municipal e ser apontado pela polícia como mentor da emboscada contra os cruzeirenses.
O político, que é líder do Partido Liberal (PL) na capital paulista, defendeu Jorge da suspeita de ter participado da emboscada que matou um cruzeirense, mas não informou por qual motivo ele foi exonerado.
Sede da torcida do Palmeiras é alvo de busca e apreensão em SP
“Não reconhecemos qualquer envolvimento do funcionário de nosso gabinete, Jorge, no triste incidente ocorrido com o torcedor do Cruzeiro. Jorge atua conosco desde o início do mandato e sempre desempenhou suas funções com integridade e responsabilidade.
Em relação ao material de campanha apreendido hoje na sede da Mancha Verde, informamos que somente após analisarmos o conteúdo poderemos emitir uma opinião e nos posicionar sobre o assunto.
Assim que tomamos conhecimento do ocorrido com o torcedor, repudiamos prontamente o ato, independentemente de qualquer relação ou responsabilidade de Jorge, cuja participação será apurada pelas autoridades competentes. Esta é a nossa posição. Estamos à disposição para eventuais esclarecimentos”, informa nota divulgada pela comunicação de Isaac.
Operação apreende camisas com sangue
Policiais buscam computadores e outros objetos na sede da Mancha Alviverde
Reprodução/SSP
Uma operação conjunta das autoridades foi até ao prédio da Mancha na manhã da sexta (1º) para cumprir um dos dez mandados de busca e apreensão decretados pela Justiça no inquérito que apura o envolvimento da torcida no ataque a Máfia Azul. Os outros mandados foram feitos em Taboão da Serra, na região metropolitana, e São José dos Campos, interior do estado.
Dentro da Mancha os policiais e promotores apreenderam computadores, documentos e máquinas de cartões bancários.
Também foram encontrados uma barra de ferro e objetos, como uma mochila com roupas e camisas com manchas de sangue. Mesmo tendo sido lavados antes, eles serão periciados para saber se há vestígios de material genético das cruzeirenses agredidos pelos palmeirenses no domingo passado.
Um dos três veículos que aparecem em vídeos e foram usados pelos palmeirenses na emboscada aos cruzeirenses, um Chevrolet Celta prata, foi apreendido pela polícia num dos locais verificados no estado.
Cruzeirense morto teve queimaduras
José Victor Miranda, torcedor do Cruzeiro morto em São Paulo
Facebook/ Reprodução
Segundo a investigação da polícia e do Ministério Público, palmeirenses usaram “miguelitos” (pregos retorcidos) para furar os pneus dos veículos na rodovia e obrigá-los a parar. Um dos ônibus foi incendiado e outro acabou depredado.
O cruzeirense José Victor Miranda, torcedor da Máfia Azul, teve queimaduras e morreu. Ele tinha 30 anos. Um laudo pericial da polícia irá apontar a causa da morte. O exame ainda não ficou pronto. Dos cruzeirenses continuavam internados em hospitais de Mairiporã e Franco da Rocha, na região metropolitana, até a última atualização desta reportagem.
As autoridades apreenderam 12 barras de ferro, dois pedaços de madeira, cinco rojões e duas bolas de sinuca no local do crime e que foram usados para agredir os cruzeirenses. Os palmeirenses fugiram após o ataque e depois postaram vídeos da ação criminosa nas redes sociais, o que ajudou as autoridades a identificá-los.
Mancha quis se vingar da Máfia Azul
Ônibus foram destruídos durante briga entre torcedores de Palmeiras e Cruzeiro na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, na Grande SP
Montagem/g1
O inquérito da Drade da polícia e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP apura os crimes de homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e tumulto com violência — este no âmbito da Lei Geral do Esporte.
O MP também apura o envolvimento de torcidas que agem como “facções criminosas”.
Segundo as autoridades, os palmeirenses atacaram os cruzeirenses para se vingar de um ataque que haviam sofrido deles em 2022 em Minas Gerais. Naquela ocasião, Jorge, presidente da Mancha, foi agredido e filmado. Ele ainda teve a identidade mostrada nas redes sociais como um troféu por membros da Máfia.
Ainda na quarta-feira, a Federação Paulista de Futebol (FPF) divulgou comunicado interno informando que irá acatar a recomendação do MP para proibir a presença da Mancha Alviverde ou de torcedores com seus uniformes e bandeiras em estádios de futebol no estado de São Paulo.
O que a Mancha diz
Sede da Mancha Alviverde é aberta a força por policiais para cumprimento de mandados de busca e apreensão no inquérito que apura a morte de um cruzeirense e as agressões a 17 torcedores do Cruzeiro
Divulgação/SSP
A TV Globo e o g1 tentam contato com a Mancha Alviverde para tratar da decretação das prisões dos seis torcedores palmeirense e as buscas e apreensões. A torcida também não comentou a decisão da Federação Paulista de Futebol que proibiu a entrada da torcida organizada em partidas de futebol.
Em suas páginas oficiais na internet, a direção da Mancha Alviverde negou que tenha organizado, participado ou incentivado qualquer ação relacionada à emboscada contra os cruzeirenses. E que não se responsabiliza por ações isoladas de palmeirenses envolvidos no ataque. A torcida informou ainda que lamenta profundamente o que ocorreu e que repudia com “veemência” a violência.
A direção da Máfia Azul se manifestou em suas redes sociais na web. No Instagram, a torcida fez postagens com mensagens repudiando o ataque dos palmeirenses contra cruzeirenses. Numa delas, escreveu que “o choro da mãe do seu rival não traz a alegria da sua”.
O Palmeiras informou por meio de nota enviada à TV Globo que repudia as cenas de violência do final de semana envolvendo torcedores do clube contra a torcida do Cruzeiro. E defendeu uma punição rigorosa para os criminosos.
O Cruzeiro também se manifestou informando por sua rede social que “lamenta profundamente” mais um episódio de violência. E que é preciso dar um basta a atos criminosos.
Ação conjunta da polícia e do MP apreende computadores, documentos e outros objetos na sede da Mancha Alviverde
Reprodução/SSP