18 de outubro de 2024

Preso por suspeita de ter liberado órgãos com HIV afirma à polícia que não era funcionário do PCS na época de exames e se diz ‘surpreso’

Cleber dos Santos foi preso nesta quarta-feira (16) ao chegar no Aeroporto do Galeão. Na última terça-feira (15), o Conselho Regional de Biologia (CRBio-02) informou que Cleber teve o registro de biólogo cancelado. Biólogo preso por suspeita de ter liberado órgãos com HIV disse à polícia que não era funcionário do PCS na época dos exames
Cleber de Oliveira dos Santos, preso por suspeita de ter liberado órgãos que infectaram com HIV 6 transplantados no Rio, disse à Polícia Civil que não era funcionário do PCS Lab Saleme na época de exames feitos para liberar os órgãos de um dos dois doadores com HIV.
Em seu depoimento na Delegacia do Consumidor (Decom), responsável pelas investigações, Cleber disse estar surpreso em ver seu nome e o de outras pessoas sendo utilizado nesses exames. A advogada de Cleber também disse que ele apenas prestou serviço ao laboratório por um curto período.
Cleber foi preso nesta quarta-feira (16), no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão). Ele é um dos investigados pelas falhas nos exames que levaram à infecção por HIV de seis pacientes transplantados.
O biólogo Cleber de Oliveira dos Santos foi preso assim que desembarcou no Aeroporto do Galeão.
Marcelo Gomes / TV Globo
Segundo as investigações, o biólogo Cleber de Oliveira era técnico de laboratório contratado pelo PCS Lab Saleme para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
Ele estava foragido desde segunda-feira (14), quando uma operação tentou cumprir quatro mandados de prisão. Cleber foi preso pela Polícia Civil do Rio quando desembarcou de um avião que vinha de João Pessoa, na Paraíba. Outras três pessoas já haviam sido presas.
Cleber é suspeito de liberar os órgãos de um dos dois doadores com HIV que infectaram seis pacientes transplantados. A Delegacia do Consumidor (Decom), responsável pelas investigações, busca esclarecer os culpados pelos erros nos exames realizados no PCS Lab Saleme.
Órgãos infectados por HIV: o que se sabe e o que falta saber
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Segundo seu advogado, Cleber estava de férias no Nordeste quando a polícia deflagrou a operação, por isso não foi encontrado imediatamente e demorou para se apresentar na delegacia.
Biólogo sem registro
Na última terça-feira (15), o Conselho Regional de Biologia (CRBio-02) informou que Cleber teve o registro de biólogo cancelado. Contudo, o órgão não disse se o cancelamento ocorreu antes ou depois do caso dos seis pacientes infectados.
“O registro do sr. Cleber de Oliveira dos Santos consta Baixado (Cancelado) junto a este CRBio-02, não sendo Biólogo”, dizia parte da nota publicada pelo Conselho Regional de Biologia.
Polícia detalha operação contra laboratório que emitiu laudos negativos para HIV
Na terça-feira (15), Jacqueline Iris Bacellar de Assis, a técnica de laboratório cuja assinatura aparece em um dos laudos de órgãos infectados por HIV, também se entregou à polícia.
Os alvos dos mandados de prisão são investigados por:
crime contra as relações de consumo;
associação criminosa;
falsidade ideológica;
falsificação de documento particular;
e infração sanitária.
Relembre o caso
Seis transplantados do RJ testaram positivo para HIV após receberem órgãos infectados. O incidente é inédito na história do serviço de transplantes do estado.
Sede do PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu
Rafael Nascimento/g1
Segundo o governo do estado, o erro foi em 2 exames do PCS Lab Saleme. A unidade privada fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e foi contratada pela SES-RJ em dezembro do ano passado, em um processo de licitação via pregão eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para fazer a sorologia de órgãos doados.
Entenda a falha apontada pela polícia:
Por contrato, o PCS Lab Saleme deveria analisar o sangue de todo candidato a doador de órgãos.
Para saber se o doador era soropositivo, uma amostra do sangue é exposta a um reagente.
Mas esse reagente precisa ser submetido a um teste de qualidade antes de ser usado.
A prova era feita diariamente no Saleme, mas, segundo as investigações, houve uma ordem para passar a fazer só semanalmente.
De acordo com a polícia, isso abriu uma lacuna, que tornou maior a chance de um reagente ineficaz ser usado.
Em coletiva sobre a Operação Verum, o secretário estadual da Polícia Civil do RJ, Felipe Curi, disse que, a fim de lucrar, o PCS Lab Saleme deliberadamente afrouxou o controle dos testes em órgãos para transplantes.
“Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, afirmou Curi.
Segundo as investigações, houve uma ordem para tornar menos frequente o controle de qualidade dos reagentes usados nas análises dos órgãos doados.
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Os policiais não deram detalhes de como o afrouxamento supostamente aumentou os lucros do laboratório nem esclareceram se há a possibilidade de nenhum teste ter sido realizado de fato.
Os advogados que representam o laboratório PSC Lab Saleme informaram que os sócios da empresa “prestarão todos os esclarecimentos à Justiça”.
Quem é quem na operação:
Walter Vieira: é sócio do PCS Lab Saleme, médico ginecologista, responsável técnico do laboratório e signatário de um dos laudos errados. Vieira também é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ no ano passado. Foi preso.
Ivanilson Fernandes dos Santos: técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes. Foi preso.
Jacqueline Iris Bacellar de Assis: auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme e cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV. Foi presa.
Cleber de Oliveira dos Santos: Cleber é biólogo e técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes. Foi preso.
Policiais arrombaram a porta para entrar no laboratório PCS Lab Saleme.
Reprodução/ TV Globo

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