Relatório mostra que mar avançou 15 centímetros em 30 anos no Pacífico, volume maior que a média global. No entanto, mar também está avançando, mas em outras intensidades, ao redor do mundo. Tuvalu é formada por um conjunto de ilhas que podem desaparecer nas próximas décadas
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Berço de paisagens paradisíacas, as ilhas do Oceano Pacífico estão em risco. Elas podem ser completamente engolidas pelo avanço do mar, que vem subindo ano a ano, reflexo das mudanças climáticas.
➡️ Nesta terça-feira (27), a ONU disse que a crise local é uma “catastrofe mundial”, e o g1 conversou com especialistas que explicam que isso é porque o que está acontecendo com elas é uma previsão do que pode acontecer com todo o mundo.
Eles são vítimas das emissões do mundo todo e são a previsão do futuro para nós. Se não conseguirmos reverter essa situação, o futuro das demais comunidades em litorais pelo mundo é também serem engolidas pelo avanço do mar.
Como isso está acontecendo?
Ilhas como Maldivas, Tuvalu, Ilhas Marshall, Nauru e Kiribati estão na lista dos lugares na Terra que podem desaparecer, reflexo da ação humana. Com muita natureza preservada e sem muitas indústrias, essa área é responsável por apenas 0,02% das emissões globais anuais de CO2, mas estão sendo vítimas das emissões do mundo todo.
O excesso de gases que causam o efeito estufa está tornando a Terra mais quente. Eles são liberados com a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo. Na atmosfera, esses gases aprisionam o calor, fazendo com que a temperatura fique cada vez mais alta.
Apesar das ilhas no Pacífico terem pouca participação nesta emissão, a atmosfera é única. Ou seja, tudo que é emitido e chega a essa camada afeta a todos de forma global.
Nos últimos anos, as concentrações desses gases têm se tornado cada vez maiores ano a ano. (Veja o gráfico abaixo)
E você pode se perguntar: qual a relação entre as emissões e o aquecimento dos oceanos?
➡️ A Terra está ficando mais quente e os oceanos têm papel fundamental para reduzir os impactos desse aumento da temperatura porque eles absorvem 90% de todo esse excesso.
Durante o El Niño, por exemplo, que aumenta a temperatura dos oceanos, os mapas mostraram um aquecimento acima da média pelo mundo. (Veja o mapa abaixo)
Todo esse calor é o que causa o aumento do nível do mar e isso acontece em dois processos:
🔥 Quando a temperatura das águas aumenta, seu volume também aumenta. Ou seja, ele se expande, elevando o nível. Essa reação representa 40% da causa do aumento do nível do mar.
🔥 Isso se soma ao derretimento das calotas polares. Mais quente, o oceano faz com que a camada de gelo se derreta se transformando em mais água e, portanto, aumentando o nível dos mares.
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Por que o Pacífico?
É importante saber que esse processo afeta todos os oceanos, mas a situação no Pacífico é que ele é mais vulnerável por dois motivos:
➡️ Por ser mais quente por natureza e seu calor se soma ao gerado pela ação humana
➡️ Por envolver ilhas onde, em caso de um colapso, não há recuo ou maneira de permanecer no país.
Para se ter uma ideia, o relatório que a ONU usa para dizer que a situação é uma catástrofe mostra que em grande parte do Pacífico, o nível do mar subiu cerca de 15 centímetros, o que é quase o dobro da taxa global medida desde 1993.
“As pessoas pensam que são milímetros inofensivos, mas isso é ano a ano por décadas. E quando a gente pensa no avanço desse em uma costa, isso tem uma extensão maior, que pode chegar a metros de território perdido”, explica Regina.
O Pacífico envolve várias ilhas que têm elevação média de apenas um a dois metros acima do nível do mar. Cerca de 90% da população vive a apenas 5 quilômetros da costa e metade da infraestrutura está a 500 metros do mar.
Os efeitos já vêm sendo sentidos na região. Segundo o relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), no ano passado mais de 200 pessoas morreram e outras 25 milhões de pessoas foram afetadas por chuvas e tempestades na região do Pacífico.
O especialista em desastres naturais, Pedro Camarinha, explica que antes que essas regiões atinjam um colapso, elas vão ser cada vez mais vítimas de desastres climáticos.
“Essas ilhas são vulneráveis não só pelo avanço do mar, mas para os efeitos combinados. Como o oceano está mais dentro do continente, tempestades e ressacas são muito mais intensas e atingem regiões que antes de todo esse avanço do mar eram seguras, podendo causar desastres climáticos”, explica Camarinha.
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Qual o risco para o mundo e o que é preciso fazer?
O processo que afeta o Pacífico também age sobre os demais oceanos e coloca em risco as comunidades costeiras pelo mundo. Ainda não se sabe, exatamente, quando ou em que proporção, mas o que os especialistas apontam é que o futuro das ilhas é uma previsão do que pode acontecer com o mundo. A estimativa da ONU é de que a população costeira mundial seja de um bilhão de pessoas.
“As ilhas são como um projeto piloto do que vai acontecer com o mundo quando os oceanos avançarem sem que a gente faça nada. Uma amostra do que vai acontecer com todas as regiões costeiras ao redor do mundo”, explica Regina Rodrigues.
➡️ No Brasil, por exemplo, banhado pelo Atlântico, pesquisadores descobriram que na Paraíba, Nordeste do país, o mar avançou quase dez metros em 40 anos.
➡️ Outras regiões litorâneas, como Florianópolis, em Santa Catarina, estão tendo que investir milhões para aumentar a faixa de areia que vem se perdendo, também, como consequência do avanço do mar.
No anúncio da ONU, o secretário-geral, António Guterres, reforçou que a ameaça é global e que a ação necessária para impedir que o cenário seja catastrófico é a redução das emissões dos gases do efeito estufa.
O Brasil é o sexto maior emissor de gases estufa e tem um compromisso de zerar as emissões em pouco mais de 50% até 2050. O que a especialista aponta é que a necessidade é mais urgente porque há previsões que mostram que se as emissões forem zeradas agora, o nível dos oceanos ainda demoraria mais de 200 anos para voltar ao seu volume natural.