Embarcação, de ONG espanhola, enfrentará agora desafio de desembarcar alimentos. Porto foi construído às pressas na costa da Cidade de Gaza. EUA também envio navio, que cruza o Oceano Atlântico. Embarcação da ONG espanhola Open Arms, que transportou primeira leva de ajuda humanitária por mar à Faixa de Gaza, é visto da costa do território palestino, em 15 de março de 2024.
Mohammed Salem/ Reuters
O primeiro navio com ajuda alimentar à Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas chegou nesta sexta-feira (15) à costa do território palestino.
A embarcação, da ONG espanhola Open Arms, inaugura a entrada de ajuda humanitária por mar a Gaza, à revelia de Israel. Os Estados Unidos, que vêm se distanciando do governo israelense, também enviaram uma embarcação com suprimentos ao território palestino, que tem previsão para chegar na semana que vem.
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A população de Gaza passou a receber, assim, ajuda humanitária por três vias:
Por terra — através de caminhões com envios de diversos países coordenados pela ONU;
Pelo ar — com os lançamentos aéreos feitos pelos EUA;
E, agora, por mar.
Se a nova rota marítima for bem-sucedida, ela poderá ajudar a aliviar a crise de fome que afeta Gaza, onde centenas de milhares de pessoas sofrem de desnutrição. A ONU e hospitais nas áreas mais afetadas do norte relataram que crianças estão morrendo de fome.
Mas o grande desafio é que as embarcações consigam atracar em Gaza — não há um porto para grandes embarcações no território. O navio da ONG Open Arms ainda não havia atracado até a última atualização desta reportagem.
Os EUA vão construir um porto provisório, mas as obras podem levar semanas para ficarem prontas. Enquanto isso, ONGs que atuam em Gaza começaram a montar, de forma improvisada, um píer temporário para receber a embarcação que chegou nesta sexta.
O navio da ONG espanhola transportou 200 toneladas de alimentos, provenientes de uma ONG europeia de distribuição de alimentos.
No entanto, as agências de ajuda humanitária têm dito repetidamente que os planos de levar ajuda por via marítima e aérea não serão suficientes para atender as vastas necessidades do território.
A guerra começou com um ataque dos combatentes islâmicos do Hamas, que mataram 1.200 pessoas e fizeram 253 reféns em Israel no dia 7 de outubro, de acordo com os registros israelenses. Desde então, uma ofensiva israelense já matou mais de 31.000 pessoas e expulsou quase toda a população de 2,3 milhões de habitantes de Gaza de suas casas.
O Hamas apresentou aos mediadores sua mais recente contraoferta para um cessar-fogo de semanas, mas ela foi rejeitada por Israel, que disse que ela se baseava em “exigências irrealistas”.
Como as ofertas anteriores de ambos os lados nos últimos dois meses de negociações, a proposta do Hamas, analisada pela Reuters, prevê a libertação de dezenas de reféns israelenses em troca de centenas de palestinos mantidos em prisões israelenses.
Mas ela também exige conversações durante uma segunda fase que acabaria por levar ao fim da guerra. Israel tem dito persistentemente que discutirá apenas pausas temporárias nos combates e não o fim da guerra até que o Hamas seja erradicado.
Sami Abu Zuhri, uma autoridade sênior do Hamas, disse à Reuters que a rejeição de Israel mostra que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está “determinado a prosseguir com a agressão contra nosso povo e a minar todos os esforços feitos para chegar a um acordo de cessar-fogo”.
Cabe a Washington pressionar seu aliado Israel a aceitar um cessar-fogo, afirmou ele.
Os mediadores de Estados Unidos, Egito e Catar esperavam chegar a um cessar-fogo a tempo para o mês sagrado muçulmano do Ramadã, mas esse prazo expirou esta semana. O presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, cujo país sediou as principais negociações neste mês, disse que ainda estava trabalhando duro para chegar a um acordo.
As Nações Unidas afirmam que todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão sofrendo com uma crise alimentar e um quarto deles está à beira da fome, especialmente no norte.
Israel, que fechou todas as rotas terrestres para Gaza, com exceção de duas passagens no extremo sul do território, nega a culpa pela fome e diz que as agências de ajuda deveriam fazer um trabalho melhor na distribuição de alimentos. As agências dizem que precisam de melhor acesso e segurança, ambos de responsabilidade das forças israelenses que bloquearam a faixa e invadiram suas cidades.
A distribuição da ajuda limitada que chega tem sido caótica e frequentemente violenta sob a vigilância dos tanques israelenses.
Em um dos piores incidentes já relatados, as autoridades de saúde de Gaza informaram que pelo menos 21 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas na noite de quinta-feira, culpando as forças israelenses por abrirem fogo contra uma multidão que fazia fila para pegar comida em um cruzamento de estradas perto da Cidade de Gaza.
Israel negou que suas tropas fossem as culpadas, como fez em incidentes anteriores, incluindo o mais mortal até agora, em 29 de fevereiro, quando mais de 100 pessoas foram mortas.