23 de setembro de 2024

Prints mostram bispo pedindo ajuda de padre que denunciou estupro para ‘passar a máquina’ de depilar corpo

Crime ocorreu em 2023, mas o caso foi registrado em março de 2024. Na ocasião, o então bispo Dom Valdir Mamede, da Diocese de Catanduva (SP), agarrou e beijou a vítima à força, além de cometer a violência sexual. Suspeito renunciou ao cargo em 2023. Conversas por app mostram que ex-bispo de Catanduva (SP) pediu para padre que denunciou estupro ‘passar a máquina’ para depilar corpo
Arquivo pessoal
Prints de conversas por aplicativo enviados ao g1 mostram que o ex-bispo suspeito de estuprar, assediar e importunar sexualmente um padre, de 31 anos, pediu ajuda à vítima para depilar o corpo. O crime aconteceu em 2023, mas o boletim de ocorrência foi registrado no dia 22 de março deste ano.
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Ao g1, o padre que denunciou os crimes afirmou que Dom Valdir Mamede, então bispo da Diocese de Catanduva(SP), o agarrou e o beijou à força, além de cometer violência sexual. O suspeito chegou a renunciar ao cargo, em novembro de 2023 (entenda abaixo).
Segundo o padre, antes de abusá-lo sexualmente, o ex-bispo pediu, mais de uma vez, para que ele passasse a máquina de barbear em seu corpo (leia acima). Mesmo não se sentindo confortável, a vítima disse que ajudava o homem enquanto ele se demonstrava respeitoso. As conversas seriam de janeiro de 2022 e 2023.
“Ele dizia que gostava de estar perto de mim, que eu era especial na vida dele. Que se ele fosse transferido, gostaria que eu o acompanhasse, pois ocupava um lugar especial na vida dele. Assim, eu ficava feliz porque, até então, não via maldade, o considerava um pai”, descreve o padre.
Ex-bispo Dom Valdir Mamede de Catanduva (SP)
Diocese de Catanduva/Divulgação
Além de cometer a violência sexual (leia mais abaixo), a vítima também informou que o Dom Valdir ligava por chamada de vídeos, ficava nu e se masturbava em frente à câmera.
“Diante da hierarquia do bispo, eu me silenciava. Depois que ele retomava a consciência, fazia pressão para eu me calar, que ele não voltaria a repetir, mas os assédios eram contínuos.”
Os prints foram encaminhados à Polícia Civil para perícia. O delegado responsável pela investigação, Adriano Pitoscia, informou à reportagem que foram adotadas providências judiciárias, como oitivas de testemunhas. O caso está em segredo de Justiça.
Violência sexual
Ex-bispo suspeito de estuprar padre era responsável pela Diocese de Catanduva (SP)
Reprodução
O padre contou que a violência sexual ocorreu na casa do então bispo, quando o suspeito pediu que ele o acompanhasse até o local por estar alcoolizado.
“Ele pulou em cima de mim, me agarrou, me beijou à força. Me senti um lixo. Diante desse inesperado, fiquei travado, não conseguia reagir. Após algumas horas, ele me pediu perdão e disse que isso jamais voltaria a ocorrer”, lembra a vítima.
Na ocasião, o padre disse que Dom Valdir pediu desculpas, demonstrou-se arrependido e implorou para que ele não contasse o ocorrido a ninguém.
Ex-bispo suspeito de estuprar padre era responsável pela Diocese de Catanduva (SP)
Reprodução
Em outra oportunidade, o ex-bispo obrigou que a vítima abrisse a porta da casa para que ele entrasse. Na residência, segundo o padre, o homem tentou, novamente, abusar sexualmente dele. Porém, dessa vez, conseguiu impedi-lo.
“Desde os meus 13 anos sou acompanhado pela Diocese. Ter que passar por isso foi a maior decepção da minha vida. Fiquei sem chão. Nunca pensei em um dia ser abusado sexualmente”, lamentou o padre.
Neste dia, a vítima contou que Dom Valdir se masturbou em cima da cama. Por isso, ela pegou algodões e recolheu o esperma, o qual foi enviado para o laboratório para análise. O resultado do exame foi entregue para a Polícia Civil e será periciado.
“Ele falava coisas absurdas, as quais nunca imaginava ouvir da boca de um bispo. Não aceitei mais ser abusado sexualmente por ele. Ele dizia que eu o tinha abandonado”, detalha o padre.
A vítima ainda contou que denunciou o caso à Nunciatura Apostólica, que encarregou Dom Moacir Silva, Arcebispo de Ribeirão Preto (SP), a conduzir uma investigação interna da igreja.
Em nota, a Diocese de Catanduva informou que não pactua com condutas ilícitas praticadas. Ainda disse que a orientação em casos de cometimento de infrações civis, trabalhistas ou penais devem ser encaminhadas às autoridades da área.
“Muito embora não seja parte, irá sempre colaborar e prezar pela Justiça e a boa aplicação das leis, para que o bem e a ordem social sejam mantidos”, finaliza a nota.
O g1 tentou contato com o ex-bispo, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Renúncia
No dia 1º de novembro do ano passado, o boletim da Sala de Imprensa do Vaticano divulgou que o bispo renunciou ao cargo, sem justificar o motivo. Questionado sobre ter feito o B.O. somente neste ano, o padre disse que o agressor, afastado da função, voltou a frequentar à Diocese, o que motivou a denúncia.
Devido às pressões e danos psicológicos, o padre está de licença médica e afastado do trabalho por 90 dias.
“Eu nunca desejei recorrer à polícia. Só fiz isso porque a situação é delicada, e a igreja foi omissa. Após a desfaçatez de pisar na Diocese, e tecer ameaças, tomei coragem de ir à Justiça procurar paz”, finaliza o padre.
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