Professora diz ter sido demitida sob a justificativa de que os estudantes estavam constrangidos de ter aulas com ela. Desde então, há quase 5 meses, ela não consegue outro emprego. Escola Estadual Doutor Gerson de Faria Pereira, em Alto Paraíso de Goiás
Reprodução/Google Street View
Desempregada há quase 5 meses, a professora de história Bruna Flor de Macedo Barcelos se desespera ao contar que tem vivido de favor na casa de pessoas. Ela denuncia ter sido demitida após ter fotos íntimas vazadas por alunos que acessaram pastas privadas do celular pessoal dela, na Escola Estadual Doutor Gerson De Faria Pereira, em Alto Paraíso de Goiás.
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“Eu fui demitida no dia 2 de novembro de 2023, mas as consequências disso estão até hoje, porque eu fiquei sem como pagar o aluguel, estou vivendo na casa de pessoas, de 20 em 20 dias eu troco de casa. Tenho recebido muita humilhação, não estou tendo dinheiro para me alimentar, um constrangimento muito grande”, lamenta a professora.
O g1 entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para pedir um posicionamento, mas não houve retorno até a última atualização da reportagem.
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Bruna explica que emprestou o aparelho para que os alunos pudessem tirar fotos de um evento escolar que, posteriormente, seriam usadas em uma atividade pedagógica. No entanto, eles acessaram pastas particulares e compartilharam as imagens com os demais colegas.
“Me senti violada, violentada. Na sequência, a gestão da escola criou um ofício dizendo que os estudantes se sentiam constrangidos de assistirem às minhas aulas por terem visto minha foto nua. Uma inversão de quem foi vítima na situação”, disse a professora.
Vazamento informado à polícia
Professora denuncia que foi demitida após ter fotos nua vazadas por estudantes, em Alto Paraíso de Goiás
Divulgação/Bruna Barcelos
A professora denunciou o vazamento das fotos na Polícia Civil. O g1 pediu informações sobre o caso à delegada responsável, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
Bruna relata que a gestão da escola soube do ocorrido após uma coordenadora ver diversos estudantes reunidos e, ao se aproximar, ver que eles estavam olhando uma foto da professora nua. Mesmo assim, a gestão permitiu que ela trabalhasse até o final do dia com todos já sabendo do vazamento, exceto ela.
“Eu trabalhei até o quinto horário normalmente, sem saber de nada. Enquanto estava todo mundo já sabendo da situação, eu só vim a saber às 18 horas, quando a diretora, no final do dia, me chamou para uma reunião, dizendo que era [uma conversa] só eu entre mim e ela. Mas tinham seis pessoas na sala, me senti inibida e é onde ela me passou o fato. Fiquei estarrecida”, relembrou a professora.
Destratada em ambiente escolar
Após a situação, a professora contou que passou a ser destratada no ambiente escolar por parte de colegas e da gestão. Conforme a professora, ela tinha um contrato de cinco anos com a escola, e a demissão ocorreu em menos de oito meses após o início do contrato, em 2023.
Em resposta a um ofício em defesa da professora, a escola afirmou que o regimento escolar estipula que os professores não podem emprestar seus celulares de uso pessoal aos alunos. A instituição também destacou que as decisões foram tomadas em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que preconiza a proteção integral das crianças e seus direitos.
A instituição também alegou que orientou a professora a procurar a polícia. Bruna defende que o celular foi emprestado porque a escola não tinha aparelhos que fizessem filmagem e que o registro do evento, que fazia parte do Mês da Consciência Negra, era importante.
“Solicitar que estudantes façam o registro de uma atividade é dotá-los de autonomia. Tem valor imprescindível para um ser humano livre e cidadão”, afirmou.
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