12 de outubro de 2024

Próximos 5 anos vão determinar o futuro do planeta, diz relatório

Documento “Planeta Vivo” foi divulgado nesta quinta-feira (10) pela organização WWF, em conjunto com o Instituto de Zoologia de Londres. Risco a animais é risco ao ser humano e ao futuro de todo o planeta
Ananda Porto/TG
Os recentes eventos climáticos extremos em todo o mundo deram uma ideia do quanto as tão temidas mudanças climáticas já são uma realidade para esta geração. Mas agora um documento oficial trouxe dados alarmantes sobre os riscos que todos nós estamos correndo.
O relatório “Planeta Vivo” é uma pesquisa divulgada a cada dois anos, que traz um diagnóstico da conservação da biodiversidade e alerta para a necessidade de ações para reverter a destruição da natureza. O material, divulgado nesta quinta-feira (10) pela organização não-governamental WWF, em conjunto com o Instituto de Zoologia de Londres, afirmou que não é exagero dizer que os próximos cinco anos irão determinar o futuro da vida na Terra.
Segundo o documento, as alterações climáticas e a desflorestação conduzem à redução das chuvas, o que pode gerar um ponto do que a pesquisa chama de “inflexão”, ou seja, uma mudança irreversível em alguns domínios naturais, como a Amazônia.
“Os impactos seriam devastadores, com perdas irreversíveis de biodiversidade e de recursos culturais e implicações para a produtividade agrícola e abastecimento global de alimentos”, descreve um dos trechos que segue afirmando que “uma mudança desta magnitude também aceleraria as alterações climáticas globais, uma vez que a Amazônia deixaria de ser um sumidouro de carbono para se tornar uma fonte de emissões através de incêndios e da morte de plantas. Até 75 bilhões de toneladas de carbono poderiam ser liberadas na atmosfera”, o que perturbaria os padrões climáticos em todo o mundo.
Ainda segundo o relatório, esse ponto irreversível pode ser atingido se 20 a 25% da floresta amazônica forem destruídos e cerca de 14 a 17% já foram desmatados. Diante das atuais taxas de desmatamento, este “ponto de inflexão” seria alcançado dentro de uma década.
Relatório “Planeta Vivo” convoca sociedade para parar efeitos da destruição do planeta
WWF
A floresta amazônica armazena de 250 a 300  bilhões de toneladas de carbono e contribui significativamente para as chuvas no Pantanal e na Bacia do Prata. “Menos árvores significa menos transpiração, o que significa menos chuva, reduzindo a disponibilidade de água em outras partes da floresta e causando a morte de mais árvores. Isso reduz ainda mais transpiração e assim por diante em um círculo vicioso”, detalha o texto do relatório.
Apesar do dado assustador, o documento considera que esse ponto de inflexão pode ser evitado e que temos chances de aumentar a resiliência do ecossistema. “Sabemos o que precisa ser feito e como fazê-lo, mas será necessária uma liderança ousada e um enorme esforço coletivo dos governos, das empresas e de toda a sociedade para cumprir metas globais até 2030.
Podemos evitar os pontos de inflexão, a natureza pode começar a recuperar e as temperaturas podem ser estabilizadas, mas temos de agir agora, pressionar por mudanças e responsabilizar-nos mutuamente. Ao confrontar juntos este desafio, podemos garantir um planeta vivo para o presente e para as futuras gerações”, declara Kirsten Schuijt, diretora geral do WWF Internacional.
Relatório chama a atenção para os tipos de árvores que precisam existir na mata
Luciano Lima
Animais
Todos os indicadores apontados no relatório indicam um declínio no estado da natureza, em nível mundial. Nos últimos 50 anos (1970–2020), o tamanho médio das populações de vida selvagem diminuiu 73%. As populações de água doce foram as que mais sofreram, com uma diminuição de 85%, seguida pelas populações terrestres (69%) e marinhas (56%).
A América Latina e o Caribe mostram a mais rápida taxa de declínio de qualquer região, chegando a 95% entre 1970 e 2020. A conversão para pastagens, as alterações climáticas e a introdução de espécies exóticas contribuíram para essa situação. O estudo associa ainda essa situação ao fungo devastador que afetou os anfíbios nesta região.
“É um número alarmante para todos nós que nos preocupamos com o estado de nosso mundo natural. Mas é também outro indicador da pressão implacável causada pela dupla crise climática e pela perda da natureza – e pela ameaça de colapso do sistema regulador natural que sustenta o nosso planeta vivo”, diz Kirsten Schuijt.
Alimentos
Segundo o relatório, se por um lado a produção de alimentos é a principal causa da destruição de habitats e, consequentemente perda de biodiversidade, por outro a produção agrícola também pode sofrer – como já vem sofrendo – com a falta de água causada pela questão ambiental.
O documento afirma que “o Brasil, sendo o maior exportador líquido de produtos agrícolas do mundo, com uma diminuição da produtividade (principalmente no Cerrado e na Amazônia), perturbaria as cadeias de abastecimento alimentar em todo o mundo”.
Botos da Amazônia
O documento pontua ainda alguns dos animais mais atingidos. No Brasil, segundo o relatório, entre 1994 e 2016, a população dos botos cor-de-rosa da Amazônia diminuiu 65%. Na Reserva Mamirauá a população do boto tucuxi caiu 75%. Ambos os golfinhos são vítimas de redes de pesca e são caçados para isca de peixe.
O relatório traz uma pesquisa recente que indica que a tendência de queda é contínua e as alterações climáticas são uma ameaça crescente a esses animais. Segundo o levantamento da WWF, em 2023, mais de 330 golfinhos de rio morreram nestas regiões durante o período de calor extremo e seca.
Espécie teve redução de 65% da população 
MarkCarwardine/WWF
Mata Atlântica
O relatório traz ainda um estudo feito no Mata Atlântica do Brasil. O levantamento confirmou que quando a floresta perde populações de grandes animais frugívoros (antas, tucanos, micos, veados) devido à caça e ao comércio ilegal, perde a função de dispersão de sementes de árvores de sementes grandes que esses animais fornecem, e a composição das espécies de árvores tropicais muda.
Animais dispersores como a anta são essenciais para recuperação de áreas devastadas
Marcelo Moraes/TG
Acesse o relatório na íntegra
Como as árvores com sementes grandes são predominantemente árvores de madeira dura maiores, que armazenam mais carbono, a floresta perde capacidade de armazenamento de carbono à medida que é dominada por árvores menores e de madeira macia. Este fenômeno tem o potencial para causar perdas de armazenamento de carbono de 2 a 12% nas florestas de África, América Latina e Ásia, reduzindo a capacidade de armazenamento de carbono das florestas tropicais.
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