Na última década, o número de contratos firmados por meio do Fies caiu: de mais de 700 mil passou para menos de 50 mil. Estudantes que dependem do Fies vão começar as aulas com atraso
As regras do Fies saíram nesta quarta-feira (21) no Diário Oficial. Mas quem depende disso para fazer o curso superior já está perdendo aula.
O sonho une Juazeiro do Norte, no Ceará, a Pirapozinho, no interior de São Paulo. Sarah e Rebeca querem ser as primeiras médicas da família. A ansiedade também é um sentimento comum.
“Para quem tem o hábito de estudar, começar atrasado e todo mundo na sua frente é muito angustiante”, diz a estudante Sarah Samantha Alves, de 22 anos.
“Além de perder matéria, de fazer provas atrasado, a gente perde momentos muito simbólicos para a gente que está há tanto tempo tentando entrar na faculdade de medicina, realizar um sonho”, afirma a estudante Rebeca Sayuri Higioka, de 20 anos.
As aulas para as turmas do segundo semestre já começaram, mas quem depende do Fies só vai poder se inscrever a partir desta quinta-feira (22). O programa do governo federal existe para que estudantes com renda familiar mais baixa financiem os estudos em uma faculdade particular. A previsão é que os resultados da seleção saiam no dia 9 de setembro.
Erro no Desenrola Fies assusta estudantes que aderiram à renegociação de dívidas de financiamento estudantil
A demora na publicação do edital fará com que muitos alunos só consigam estar em sala de aula no fim de setembro, início de outubro, com já dois meses de aula, calcula a entidade que representa as instituições privadas de ensino superior.
“Ele pode entrar com o Fies já reprovado por nota, por falta, por exemplo. Pode atrasar em um ou dois semestres a vida acadêmica desse estudante”, diz Alexandre Mori, assessor do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior.
Na última década, o número de contratos firmados por meio do Fies caiu: de mais de 700 mil passou para menos de 50 mil.
O ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, credita a perda de espaço do Fies à diminuição de recursos para esse tipo de política pública.
“Custa dinheiro, mas sai barato. Se você forma um médico bom, o resultado é muito auspicioso. É muito bom. A atratividade continua existindo porque continua havendo muito jovem que quer fazer o ensino superior, quer fazer a faculdade e precisa desse financiamento”, afirma Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
O MEC afirmou que critérios de seleção de seleção novos no Fies exigiram a utilização dos sistemas e o ajuste de cronograma. Por exemplo, a destinação de metade das vagas para estudantes inscritos no CadÚnico e a incorporação de cotas para pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência.
LEIA TAMBÉM
Processos envolvendo Fies triplicaram de 2022 para 2023: ‘Minha mãe vendeu uma casa de R$ 350 mil para eu cursar medicina’