14 de novembro de 2024

Quase 100 mortes e mais de 1.330 acidentes são registrados em rodovias federais no ES em 2024

Ultrapassagens indevidas e proibidas e excesso de velocidade estão entre as principais causas de acidentes, segundo a PRF. Apesar do cenário, Dnit considera malha viária capixaba a melhor do país. Acidente na BR-262, no Espírito Santo.
Reprodução/TV Gazeta
Em 2024, 94 mortes foram registradas em rodovias federais que cortam o Espírito Santo entre os meses de janeiro e julho. A média é de uma vida perdida a cada três dias. Ainda assim, o número é menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram 98 mortes.
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Mortes nas rodovias federais do ES em 2024
Em se tratando de acidentes, as ocorrências aumentaram este ano. Foram 1.330 em 2024, nos primeiros sete meses, contra 1.301 em 2023. Os dados deste ano representam 190 ocorrências por mês, e média de seis acidentes por dia.
Acidentes nas rodovias federais do ES
Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e dizem respeito às cinco rodovias federais que passam pelo estado, que são BR-101, BR-259, BR-262, BR-393 e BR-447.
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Causa de acidentes
BR-262 em Viana, no Espírito Santo.
Fernando Madeira/Rede Gazeta
Também de acordo com a PRF, as principais causas de acidentes nas rodovias federais do Espírito Santo são:
Desrespeito à sinalização viária (Ultrapassagens indevidas e proibidas);
Excesso de velocidade;
Alcoolemia;
Falta de atenção (Ex.: Uso de aparelho celular).
“A gente verifica sim que mais de 90% dos acidentes são causados pela atitude do condutor, no sentido amplo, tanto na condução do veículo, quanto da manutenção do mesmo”, disse o chefe da Seção de Operações PRF/ES, inspetor Cleverton Lopes.
Cleverson lembrou que existe diferença entre a ultrapassagem “proibida” e a “indevida”.
“A ‘proibida’ ocorre quando a sinalização é com a faixa amarela contínua, indicando que a manobra não pode ser feita. Já a ‘indevida’ seria o que a gente enquadra como forçar a ultrapassagem, ou seja, é possível ultrapassar, a sinalização é com a faixa tracejada, mas é preciso que exista condições para fazer a manobra, nem sempre será o momento adequado, é preciso avaliar o trânsito”, explicou.
Trecho do km 28 da BR-259, em Colatina
Heriklis Douglas/ TV Gazeta
Para o inspetor, a imprudência dos motoristas pode ter consequências agravadas, dependendo do momento em que ela é realizada e das condições da pista.
“A gente sabe que muitos trechos das rodovias federais são de pistas simples, como, por exemplo nas BRs 259 e 262, que além de simples são sinuosos, sujeitos a intempéries climáticas, neblina. Então, diante disso, manobras erradas de ultrapassagens provocam acidentes mais graves. Muitas vezes, o motorista quer passar em pista simples, força a passagem em locais ainda sem acostamento, é uma combinação muito ruim”, disse.
Pontos considerados críticos nas rodovias federais do ES:
BR-101, KM 260-280 (perímetro urbano), Serra*;
BR-259, KM 0 ao 20, João Neiva;
BR-262, KM 40 ao 60, Marechal Floriano.
*Este trecho já foi considerado o mais perigoso do Brasil, é o top 1 do estado há muitos anos, e ainda figura entre os top 5 do Brasil. O perfil de acidente é com motociclistas e pedestres, em sua maioria, caracterizando o trecho urbano.
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Dnit “ressuscita” meme capixaba: 95% da malha viária boa
Apesar da realidade enfrentada pelos motoristas, um levantamento realizado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apontou que o Espírito Santo tem 95% da sua malha viária das rodovias federais considerada “boa”. A análise foi realizada em 562,8 quilômetros de BRs que passam pelo território.
DNIT ‘ressuscita’ meme capixaba e considera 95% da malha viária do Espírito Santo ‘boa’.
Redes sociais
Para ressaltar o resultado, o órgão fez uma publicação em uma rede social utilizando uma charge feita, justamente, por um cartunista capixaba. A imagem de Genildo Ronchi, que já viralizou algumas vezes ilustrando diversas situações, mostra dois passageiros em um ônibus, um triste olhando uma barreira e outro feliz olhando a paisagem pela janela.
Segundo a publicação, umas das interpretações que poderiam ser feitas é a de que o passageiro feliz estaria trafegando pela BR-262 com a manutenção feita atualmente pelo governo federal.
Entretanto, é importante destacar o que exatamente o levantamento considera. O Índice de Condição da Manutenção (ICM) é realizado mensalmente pelo departamento e os dados são relativos ao mês de junho de 2024.
Acidente deixou 3 mortos e 3 feridos na BR-259, no Espírito santo, em junho de 2024.
Reprodução/ TV Gazeta
Esse cálculo é composto pelo Índice de Pavimentação – IP (panelas, remendos e trincas), que representa 70% do valor final; e pelo Índice de Conservação – IC (roçada, drenagem, sinalização horizontal e vertical), que representa os 30% restantes.
O g1 já ouviu especialistas sobre o assunto, quando o Espírito santo ficou em primeiro lugar no Brasil no levantamento. Segundo eles, a avaliação positiva pode ser exagerada e não corresponde à percepção do motorista, no dia a dia, porque no estado os problemas das vias federais são maiores que questões de manutenção.
ES tem melhores BRs do país, diz o Dnit, mas realidade enfrentada por motoristas é outra
Rodovias ultrapassadas e fluxo de movimento intenso
Para o engenheiro e professor de pavimentação, Lauro Keler, as rodovias do Espírito Santo estão trabalhando em níveis de serviço piores do que deveriam. Ainda que o trecho esteja bem conservado, não é isso o que determina o toda a condição da estrada.
“O tráfego em todas elas está pedindo que sejam feitas melhorias estruturais, duplicação, terceira faixa, quer dizer, aumentar a sua capacidade. Mesmo que a manutenção esteja boa, não é só isso. Você sabe que quando sai para uma rodovia federal aqui no estado vai ter que ter paciência, vai ficar atrás de caminhão. Se você considerar as estradas como um todo, elas estão de um jeito que é como se você quisesse botar um time profissional de basquete dentro de um fusquinha muito bem conservado”, considerou.
Na avaliação do professor, a pior situação é a da BR-101, já que, mesmo o trecho estando sob concessão, ainda não está bem resolvido. Mas muitas deficiências se repetem em outras rodovias no estado, como mortes, acidentes e falta de publicação.
Trecho da BR-259, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
O superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviário de Cargas e Logística no Espírito Santo (Transcares), Mário Natali, também entende que as rodovias federais que cortam o estado não são proporcionais ao fluxo de veículos que existe.
“As principais estradas começaram a ser construídas na década de 1970 e não passaram por grandes mudanças estruturais depois disso. Hoje, a carreta é de até 74 toneladas. Naquela época, era menos que a metade disso. Isso sem falar do aumento de empresas, de veículos, tanto dos usuários comuns – motoristas, caminhoneiros -, como do motorista ocasional – de final de semana”.
Para Natali, a BR-262 é a que apresenta mais dificuldade para quem trafega.
“É uma via que não sofreu grandes intervenções físicas nos últimos anos e enfrenta uma novela para sua duplicação. É uma construção do século passado, de geometria sinuosa, inclinações, se vale apenas de radares para estancar a velocidade, acostamentos pequenos – quando eles existem -, e ainda passa por uma mudança radical do clima, favorecendo o aparecimento de neblina e cerração em alguns trechos”, pontuou.
Trecho da BR-262 no Espírito Santo: rodovia federal deve ser duplicada e ganhará novo traçado, viadutos e túnel
Fernando Madeira/Rede Gazeta
O inspetor da PRF Cleverton Lopes apontou que o mundo ideal seria combinar a modernização e atualização estrutural com a manutenção bem feita, e explicou que uma rodovia ideal minimiza os erros dos motoristas.
“A gente tem como planejamento ideal de uma rodovia aquela que perdoa o erro do condutor. O que isso significa? Significa que a gente sabe que os erros vão acontecer, mas o ideal é que a rodovia tenha mecanismos para perdoar esses erros e minimize os riscos, como ajudar a evitar uma saída de pista, ter uma divisão física entre as pistas, entre outros”, disse.
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