Relatório lançado antes do Fórum Econômico Mundial, em Davos, também prevê cinco trilionários daqui a 10 anos. Enquanto isso, número de pessoas vivendo na pobreza mal mudou desde 1990. Notas de dólar
Murad Sezer/ Reuters
Um total de 204 novos bilionários surgiu no mundo em 2024, ou seja, quase quatro por semana, aponta um relatório da organização não-governamental Oxfam lançado em razão do Fórum Econômico Mundial, que começa nesta segunda-feira (20).
O evento anual reúne líderes governamentais, empresariais e da sociedade civil em Davos, na Suíça, para definir qual é a agenda do ano para solucionar desafios globais.
No relatório, a Oxfam pede aos governos que “taxem os mais ricos para reduzir a desigualdade, acabar com a riqueza extrema e desmontar a nova aristocracia”.
De acordo com a pesquisa, a riqueza dos bilionários aumentou em US$ 2 trilhões em 2024, três vezes mais rápido que no ano anterior, enquanto o número de pessoas vivendo na pobreza mal mudou desde 1990.
A fortuna dos dez homens mais ricos do mundo cresceu em média quase US$ 100 milhões por dia, o que significa que, mesmo que eles perdessem 99% de sua riqueza da noite para o dia, ainda permaneceriam bilionários.
A organização também prevê que o mundo terá pelo menos cinco trilionários daqui a 10 anos.
“A captura da nossa economia global por um seleto grupo privilegiado atingiu níveis antes inimagináveis. A falha em deter os bilionários agora está gerando futuros trilionários. Não apenas a taxa de acumulação de riqueza dos bilionários acelerou — por três vezes — mas também seu poder”, disse Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
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De onde vem a riqueza?
O relatório, denominado “As custas de quem? – A origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo”, também aponta que 60% da riqueza dos bilionários de hoje vem de herança, monopólio ou conexões com poderosos.
Segundo o documento, uma pesquisa da Forbes descobriu que todos os bilionários com menos de 30 anos herdaram sua riqueza.
Além disso, mais de 1 mil dos bilionários atuais deixarão mais de US$ 5,2 trilhões para seus herdeiros nas próximas duas a três décadas, de acordo com o Grupo UBS, maior banco da Suíça.
A Oxfam discute ainda no relatório o que descreve como “colonialismo moderno”, uma dinâmica de extração de riqueza do Sul para o Norte do planeta e os seus cidadãos mais ricos.
Conforme a pesquisa, os países do Norte controlam 69% da riqueza global, 77% da riqueza dos bilionários e abrigam 68% dos bilionários, apesar de representarem apenas 21% da população mundial.
Estudos também mostram que os salários no Sul do planeta são de 87% a 95% mais baixos do que no Norte, para trabalhos de habilidade equivalente.
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Recomendações
Após apresentar os dados de desigualdade e riqueza extrema, o relatório da Oxfam traz três recomendações às autoridades governamentais:
Reduzir radicalmente a desigualdade. Os governos precisam se comprometer a garantir que, tanto globalmente quanto a nível nacional, as rendas dos 10% mais ricos não sejam mais altas do que as dos 40% mais pobres. De acordo com dados do Banco Mundial, reduzir a desigualdade poderia acabar com a pobreza três vezes mais rápido. Os governos também devem combater e acabar com o racismo, o sexismo e a divisão que sustentam a exploração econômica em curso.
Taxar os mais ricos para acabar com a riqueza extrema. A política fiscal global deve estar sob uma nova convenção tributária da ONU, garantindo que as pessoas e corporações mais ricas paguem sua parte justa. Os paraísos fiscais devem ser abolidos. A análise da Oxfam mostra que metade dos bilionários do mundo vive em países sem imposto de herança para descendentes diretos. A herança precisa ser taxada para desmontar a nova aristocracia.
Acabar com o fluxo de riqueza do Sul para o Norte. Cancelar dívidas e acabar com o domínio de países e corporações ricos sobre mercados financeiros e regras comerciais. Isso significa desmontar monopólios, democratizar as regras de patentes e regular as corporações para garantir que paguem salários dignos e limitem os salários dos CEOs. Reestruturar os poderes de voto no Banco Mundial, no FMI e no Conselho de Segurança da ONU para garantir uma representação justa dos países do Sul Global. Os poderosos frutos do colonialismo também devem enfrentar os danos duradouros causados por seu domínio colonial, pedir desculpas formalmente e fornecer reparações às comunidades afetadas.