4 de janeiro de 2025

Quatro anos depois, filho ainda busca respostas para acidente com ambulância da SAP que matou sua mãe: ‘Sonho destruído’

Marcelo de Oliveira, morador de Itu (SP), teve seu veículo completamente destruído após acidente com uma ambulância da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), em 2020. Até hoje, as autoridades não chegaram a nenhum parecer sobre o caso. Após 4 anos, morador de Itu ainda busca por respostas em acidente que matou sua mãe
Muitas vezes, a entrada em uma universidade pode significar uma transformação na vida de um ser humano, seja no âmbito pessoal, profissional ou acadêmico. Para a família Oliveira, este sonho, tão almejado por muitos, estava apenas começando a se tornar realidade, mas um acidente de trânsito destruiu os planos deles.
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A data que marcaria o início de uma trajetória se tornou um pesadelo. Em 1º de agosto de 2020, Marcelo de Oliveira decidiu acompanhar a mãe, Francisca, de 74 anos, em uma viagem de Porto Feliz (SP) para a capital, no intuito de buscar a bateria de um notebook usado que a idosa teria ganhado para iniciar o curso de eventos na Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Itu (SP).
Na volta para casa, eles precisaram parar devido a um congestionamento na Rodovia Castello Branco (SP-280), em Barueri (SP). Durante o período de espera, uma ambulância da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) bateu violentamente no veículo de Marcelo, causando a morte imediata de dona Francisca.
“Fiquei com o carro parado por cerca de cinco segundos apenas. Quando desci do carro, não conseguia entender nada do que estava acontecendo. Naquele momento, me afastei do carro. A hora que vi minha irmã descendo do carro e a minha mãe não, aí eu percebi a gravidade do acidente. Eu literalmente passei mal”, relembra.
Veículo de Marcelo ficou completamente destruído após o acidente
Arquivo pessoal
Hoje, cerca de quatro anos após o caso, o auxiliar administrativo ainda busca por respostas. Durante o período, a família relata que chegou a ser negligenciada e ignorada pelas autoridades. E o sentimento de injustiça os persegue diariamente.
“Não recebi nenhuma ligação da SAP para receber qualquer tipo de amparo. O motorista que bateu no meu carro segue trabalhando normalmente até hoje, sem nenhuma sanção. É nítido nas filmagens que ele sequer freou na hora do acidente. Tive que lidar com o funeral da minha mãe somente com a ajuda da minha irmã, ambos fraturados e sem condições de proporcionar um enterro digno para ela”, relata.
Lidar com a saudade fica ainda mais dolorido com o sentimento de vazio. Os e-mails enviados por Marcelo à SAP foram excluídos sem serem lidos pela instituição.
E-mails enviados por Marcelo à SAP foram excluídos sem serem lidos
Arquivo pessoal
Além disso, o Ministério Público de Barueri afirma que não há imagens da batida e que teve sua divulgação negada pela CCR ViaOeste, empresa que administra a Rodovia Castello Branco.
“O vídeo nunca foi anexado no relatório do MP. Nunca consegui entender essa informação, visto que eu consegui as imagens através das autoridades policiais. Na época, fui orientado pelos funcionários da administradora da rodovia a procurar o setor das filmagens para recebê-las, mas a sua divulgação foi negada pela empresa. Sequer tenho acesso ao processo, devido à falta de condições financeiras para ter um advogado”, conta.
Francisca Moreira de Oliveira tinha 74 anos e havia iniciado a faculdade recentemente
Arquivo pessoal
Para Marcelo, hoje morador de Itu, os últimos quatro anos se resumem a uma única palavra: indignação. A data, que teria um significado tão especial, ficou marcada por uma vida e um sonho interrompidos para sempre.
“Eu entrava na faculdade todos os dias e dava de cara com a minha mãe. Ela estava cursando eventos, assim como eu. Ela estava estampada no mural da Fatec. Minha mãe tinha o anseio em estudar, em se formar. Francisca se formaria agora, em março de 2024. Desde então, tenho vivido dias terríveis. Não tenho dormido, perdi meu emprego, perdi meu relacionamento. Preciso que a Justiça me ajude”, afirma.
Enquanto não houver justiça, Marcelo admite que irá lutar o máximo que conseguir. Para ele, a necessidade de um retorno, favorável ou não, é imprescindível para que casos iguais ao de sua mãe não aconteçam novamente.
Ambulância da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) envolvida no acidente
Arquivo pessoal
Respostas
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) informou que o motorista da ambulância está respondendo a um Processo Administrativo Disciplinar por falta grave, que está em trâmite na Procuradoria Geral do Estado. Além disso, a organização afirma que o funcionário foi afastado de suas atividades normais e trabalha como porteiro de uma unidade prisional.
A CCR ViaOeste, concessionária administradora da Rodovia Castello Branco, afirmou que não fará nenhum comentário sobre o caso por “não fazer parte do processo”. De acordo com a assessoria da empresa, as filmagens registradas pelas câmeras das rodovias são divulgadas apenas para as autoridades policiais.
Já o Ministério Público de Barueri disse que está ciente do caso e que se manifestará apenas ao final das investigações policiais. De acordo com o Promotor de Justiça do Estado de São Paulo, Estêvão Luís Lemos Jorge, as imagens estão devidamente anexadas ao processo, junto ao laudo.
“Não quero encontrar outra dona Francisca presa entre as ferragens. Meu descontentamento social é esse. Não consigo admitir o fato dos envolvidos não se sensibilizarem com uma situação tão forte, muito menos deixar isso tudo impune. Irei atrás do que tiver ao meu alcance para ser esclarecido. A indiferença corrói a alma”, finaliza Marcelo.
*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku e Matheus Arruda
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