4 de março de 2025

Quatro escolas abrem neste domingo o Grupo Especial, em dia de enredos afro


Desfilam Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Estação Primeira de Mangueira. Saiba como é calculada a data do carnaval
Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Estação Primeira de Mangueira abrem neste domingo (2) a 1ª de inéditas 3 noites de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro.
Desde 1984, ano da inauguração do Sambódromo, as agremiações da elite saíam apenas no Domingo e na Segunda-feira de Carnaval. Agora, para dar mais destaque a cada coirmã e para garantir que nenhuma delas saia com dia claro, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) fez a redivisão.
Cada escola tem entre 70 minutos e 80 minutos para apresentar seu carnaval.
O g1 vai transmitir na íntegra todos os desfiles do Grupo Especial. Na página especial, você também acompanha destaques das escolas, trechos das apresentações e as últimas notícias da Sapucaí.
Saiba tudo sobre o carnaval do Rio!
Blocos: veja a lista oficial e faça sua busca
Essas 4 escolas vão trazer enredos de temática afro. A saber:
A história do 1º terreiro de Candomblé do Brasil;
A viagem cheia de perrengues de um orixá;
A trajetória de um líder quilombola que se tornou um espírito poderoso;
A homenagem a um povo da África que nos influenciou bastante.
Clique na sua escola para ir direto à seção dela.
Unidos de Padre Miguel
Imperatriz Leopoldinense
Unidos do Viradouro
Estação Primeira de Mangueira
Previsão de horários do Grupo Especial
1. Unidos de Padre Miguel
Logo do enredo da UPM 2025
Divulgação
Egbé Iyá Nassô
Há muito tempo, na África, existia um reino poderoso chamado Oyó — no que é hoje o sudoeste da Nigéria e o sudeste do Benim. Nele, as pessoas tinham uma grande fé nos orixás, que são forças da natureza que nos protegem e nos guiam. Um desses Orixás é Xangô, o senhor da justiça e dos trovões.
Um dia, o reino foi atacado, e muitas pessoas foram escravizadas e levadas para longe, atravessando o oceano. No Brasil, mesmo enfrentando muitas dificuldades, elas mantiveram viva sua fé e suas tradições. Entre essas pessoas, havia uma mulher muito especial chamada Iyá Nassô. Ela era uma líder sábia e corajosa, que trouxe consigo a força de sua terra e ajudou a fundar um lugar sagrado para celebrar os orixás. Esse lugar, a Casa Branca do Engenho Velho, se tornou o 1º terreiro de Candomblé do Brasil.
Com o tempo e a proteção de Xangô, a semente que Iyá plantou cresceu, espalhando sua cultura, fé e ensinamentos por todo o país. E hoje, no carnaval, essa história será contada e celebrada com muita música, dança e alegria, mostrando que a força do axé continua viva, unindo as pessoas e mantendo as raízes de Oyó.
Samba e Enredo: Unidos de Padre Miguel homenageia a história do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil
Carnavalescos: Alexandre Louzada e Lucas Milato
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vinicius Antunes e Jessica Ferreira
Comissão de Frente: Sergio Lobato
Mestre de Bateria: Mestre Dinho
Rainha de Bateria: Andressa Marinho
Componentes: 2.700 em 28 alas
Alegorias: 6 carros e 2 tripés
Cante o samba
Autores: Thiago Vaz, W. Corrêa, Richard Valença, Diego Nicolau, Orlando Ambrósio, Renan Diniz, Miguel Dibo, Cabeça do Ajx , Chacal do Sax, Julio Alves, Igor Federal, Caio Alves, Camila Myngal, Marquinhos, Faustino Maykon e Claudio Russo.
Intérprete: Bruno Ribas
Cidade do Samba:Unidos de Padre Miguel celebra os 200 anos do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô!
Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika

Vou voltar, mainha, eu vou
Vou voltar, mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o Boi Vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá
Bandeira da Unidos de Padre Miguel
Divulgação/ UPM
2. Imperatriz Leopoldinense
Logo do enredo da Imperatriz Leopoldinense para 2025′
Divulgação
Ómi Tútú ao Olúfon: Água fresca para o senhor de Ifón
Há muito tempo, na África, havia um reino místico chamado Ifón, governado por Oxalá, o orixá da paz e da criação. Ele vestia roupas brancas e carregava um cajado especial. Certo dia, decidiu visitar Xangô, outro rei poderoso e seu grande amigo. Antes de partir, foi avisado por um sábio que sua viagem teria problemas e que deveria fazer uma oferenda para Exu, o guardião dos caminhos. Mas Oxalá achou que não precisava e ignorou o conselho.
No caminho, Exu apareceu e começou a pregar peças. Primeiro, jogou carvão em Oxalá, sujando sua roupa branca. Depois, derramou vinho e azeite de dendê, deixando-o ainda mais manchado. Cada vez que isso acontecia, Oxalá se lavava e trocava de roupa, mas, depois de tantas travessuras, ficou sem roupas limpas. Então, cansado, ele adormeceu, e Exu amarrou um saco de sal em suas costas, fazendo-o parecer corcunda.
Quando chegou ao reino de Xangô, foi confundido com um ladrão e preso. Oxalá ficou encarcerado por 7 anos, e, durante esse tempo, o reino de Xangô começou a sofrer com secas e dificuldades. Um dia, Xangô descobriu que o homem preso injustamente era seu próprio amigo e, arrependido, ordenou que trouxessem água fresca para banhá-lo. Quando Oxalá se lavou, a paz e a prosperidade voltaram ao reino.
Desde então, esse ritual é lembrado todos os anos no Candomblé, com roupas brancas e água pura para Oxalá, como forma de respeito e devoção.
Enredo e samba: Imperatriz conta a saga de Oxalá para visitar o reino de Xangô
Carnavalesco: Leandro Vieira
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro
Comissão de Frente: Patrick Carvalho
Mestre de Bateria: Lolo
Rainha de Bateria: Maria Mariá
Componentes: 3 mil em 24 alas
Alegorias: 5 carros, 2 tripés e 1 elemento cenográfico
Cante o samba
Autores: Me leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro
Intérprete: Pitty de Menezes
Cidade do Samba: Imperatriz conta os percalços em viagem de Oxalá
Vai começar o itan de Oxalá
Segue o cortejo funfun pro senhor de Ifón, Babá
Orinxalá, destina seu caminhar
Ao reino do quarto Alafin de Oyó
Alá, majestoso em branco marfim
Consulta o ifá e assim
No odú, o presságio cruel
Negando a palavra do babalaô
Soberano em seu trono, o senhor
Vê o doce se tornar o fel
Ofereça pra Exu… um ebó pra proteger
Penitência de Exu, não se deixa arrefecer
Ele rompe o silêncio com a sua gargalhada
É cancela fechada, é o fardo de dever
Mas o dono do caminho não abranda
Foi vinho de palma, dendê e carvão
Sabão da costa pra lavar demanda
E a montaria te leva à prisão
O povo adoeceu, tristeza perdurou
Nos sete anos de solidão

Justiça maior é de meu pai Xangô
Traz água fresca pra justiça verdadeira
Justiça maior é de meu pai Xangô
Meu pai xangô mora no alto da pedreira
Preceito nagô a purificar
Desata o nó que ninguém pode amarrar
Transborda axé no ibá e na quartinha
Pra firmar tem acaçá, ebô e ladainha
Oní sáà wúre! Awure awure!
Quem governa esse terreiro ostenta seu adê
Ijexá ao pai de todos os oris
Rufam atabaques da Imperatriz
Bandeira da Imperatriz Leopoldinense
Divulgação/ Imperatriz Leopoldinense
3. Unidos do Viradouro
Logo do enredo da Viradouro
Divulgação
Malunguinho: o mensageiro de três mundos
Há muito tempo, existiu um grande líder no Norte de Pernambuco chamado Malunguinho. Ele era um guerreiro forte que lutava para libertar seu povo da escravidão. Junto com seus companheiros, ele fugiu para a floresta e criou um lugar seguro para quem queria viver livre — o Quilombo do Catucá. Ele conhecia os segredos das plantas, sabia como se esconder e sempre ajudava quem precisava.
Mesmo depois que sua vida na Terra terminou, Malunguinho se tornou um espírito poderoso. Agora, ele é um zelador da floresta (caboclo da mata), um senhor da sabedoria (mestre juremeiro) e um protetor dos caminhos (guardião das encruzilhadas). Ele está presente nos rituais sagrados, onde as pessoas pedem sua força e sua proteção.
No carnaval, sua história será lembrada com muito tambor, dança e festa. Malunguinho vem para celebrar, para lembrar que seu espírito de luta nunca se apagou e que sua força ainda vive em cada pessoa que busca justiça e liberdade!
Enredo e Samba: Viradouro traz Malunguinho; o mensageiro de três mundos como enredo para o Carnaval
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Julinho e Rute
Comissão de Frente: Rodrigo Negri e Priscilla Mota
Mestre de Bateria: Mestre Ciça
Rainha de Bateria: Erika Januza
Componentes: 2.800 em 22 alas
Alegorias: 6 carros e 1 tripé
Cante o samba
Autores: Paulo César Feital, Inácio Rios, Marcio André Filho, Vaguinho, Chanel, Igor Federal e Vitor Lajas.
Intérprete: Wander Pires
Cidade do Samba: Viradouro traz Malunguinho, o mensageiro de três mundos, como enredo para o carnaval
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
Bandeira da Unidos do Viradouro
Divulgação/ Viradouro
4. Estação Primeira de Mangueira
Logo do enredo da Mangueira
Divulgação
À flor da Terra, no Rio da negritude entre dores e paixões
No Rio de Janeiro, a história dos povos africanos que vieram de longe continua viva. Eles trouxeram seus costumes, sua força e seu jeito de ver o mundo, misturando passado e presente. Para eles, a vida e a morte não são coisas separadas, mas partes de um mesmo ciclo, como as ondas do mar que vão e voltam.
Um desses povos são os bantos, ou bantus, que foram trazidos escravizados para o Rio e transformaram a cidade com seus saberes. Eles trabalhavam como ferreiros, cozinheiras, barbeiros e carregadores de água. Criaram laços, se ajudaram e reinventaram seu modo de viver, ocupando espaços e deixando sua marca no Rio.
Na rua, na dança, na música, no jeito de falar e de cozinhar, tudo tem um pedacinho dessa cultura. O samba, o funk e os batuques têm o ritmo que veio da África. A cidade inteira carrega essa herança, e o carnaval é a grande festa que celebra essa história de resistência e alegria.
Enredo e samba: Mangueira
Carnavalesco: Sidnei França
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Matheus Olivério e Cintya Santos
Comissão de Frente: Karina Dias e Lucas Maciel
Mestres de Bateria: Taranta Neto e Rodrigo Explosão
Rainha de Bateria: Evelyn Bastos
Componentes: 3 mil em 26 alas e 3 grupos cênicos
Alegorias: 5 carros e 3 tripés
Cante o samba
Autores: Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim
Intérpretes: Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz
RJ1 mostra bastidores da preparação da Mangueira para o carnaval
Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue
Oya, Oya, Oya ê ô
Oya Matamba de Kakoroká zingue ô
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena
Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou
Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente
Meu som, por você criticado
Sempre censurado pela burguesia
Tomou a cidade de assalto
E hoje, no asfalto
A moda é ser cria
Quer imitar meu riscado
Descolorir o cabelo
Bater cabeça no meu terreiro
Bandeira da Estação Primeira de Mangueira
Divulgação/ Mangueira
Sapucaí vista do alto, durante desfile da Portela em 2023
Fernando Maia/Riotur

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