Antes mesmo do fechamento do mês, índice de focos registrados por satélite já supera todas as marcas do mês nos anos anteriores. Total de queimadas detectadas em 2024 também já supera 2022 e 2023. Queimada no bairro Vila Acre, no Segundo Distrito de Rio Branco
Arquivo pessoal
Seca de rios e igarapés, baixa umidade do ar e muitos focos de incêndios. Esta é a realidade do Acre no período em que a estiagem se intensificou ainda mais. É neste cenário que o estado chegou ao seu pior mês de agosto em relação aos registros de queimadas, com 3.482 focos até este domingo (25), segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Antes mesmo do fechamento do mês, o índice já supera todas as marcas do mês nos anos anteriores, na série histórica que se inicia em 1998. Até então, o pior índice havia sido detectado em agosto de 2010, com 2.444 focos, segundo o Inpe.
Na comparação com o mesmo período em 2023, os dados são ainda mais preocupantes: em agosto do ano passado, foram 352 focos, o que equivale a um aumento de 889% entre um ano e outro.
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Arquivo pessoal
Ainda no oitavo mês, o ano de 2024 também já supera 2022 (1.599) e 2023 (1.666) no total de queimadas. Entre 1º de janeiro e 25 de agosto deste ano, ainda segundo o monitoramento do Inpe, o Acre já teve 5.280 focos.
Este total também representa 96% do total de registros de 2021, que fechou em 5.469. O pior ano da série histórica é 2010, com 7.291 focos.
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O crescimento também foi exponencial entre julho e agosto. O número de queimadas registrados, segundo o Inpe, ficou em 499 no mês passado. A variação foi de 597% a mais na comparação com agosto.
A análise histórica dos dados também mostram que o alcance e a destruição provocadas por estes focos também preocupam. De acordo com um levantamento do projeto Acre Queimadas, que envolve diversos órgãos ambientais e pesquisadores, 2022 foi o segundo ano com maior área queimada mapeada desde 2005, quando foi registrado o ano mais crítico no estado.
“Em 2022, foram registrados 322.019 ha (3.220 km2) de queimadas em áreas antropizadas, cerca de 29% maior que no ano de 2021, ano com a segunda maior estimativa desde 2005. Aproximadamente 51% do fogo mapeado em 2022, ocorreu em áreas antropizadas consolidadas, desmatadas antes de 2021. Nestas áreas, o uso do fogo está possivelmente associado às práticas de manejo agropecuário (pastagens e agricultura anual ou perene). O restante das áreas afetadas pelo fogo, que contabilizam 49% do total da área queimada, foram detectadas em áreas desmatadas em 2021 e 2022, ou seja, o fogo foi utilizado para completar o processo do desmatamento”, destaca o relatório.
Saúde
O g1 conversou com o médico alergista Guilherme Pulicci, que falou sobre os efeitos da exposição à fumaça e das doenças que podem se agravar a longo prazo.
O especialista chamou atenção para outro fator que contribui para uma piora do cenário: a baixa umidade do ar na região durante esse período.
Acre registra níveis de poluição seis vezes acima do recomendado pela OMS
De acordo com Pulicci, o mínimo considerado pela Organização Mundial de Saúde para a umidade do ar é de 60%, sendo que o índice tem se mantido entre 20% e 30% em Rio Branco entre as 9h e as 19h.
Para o médico, isso significa que a prática de exercícios físicos ao ar livre pode ser prejudicial à saúde. E não só o sistema respiratório sofre com os sintomas: Pulicci destaca que a poluição também contribui para maior incidência de problemas cardiovasculares.
“A principal medida que a gente deve tomar nesse período é não sair para prática de exercícios físicos, porque desde as 9h da manhã às 7h da noite, a umidade do ar está abaixo do considerado normal pela OMS. O mínimo considerado pela OMS é 60%, e aqui ela varia entre 20 a 30%, muito abaixo do normal”, avalia.
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Conforme o especialista, o período de aumento da fumaça originada pelas queimadas aumenta a incidência de doenças por contato direto com a fumaça, como conjuntivite (infecção ocular) e dermatite (infecção de pele), além de doenças respiratórias, como rinite, sinusite, crises asmáticas e até mesmo sintomas que não necessariamente acompanham uma doença de base, como tosse crônica.
Se os altos níveis de poluição se mantiverem, a tendência é que esses quadros piorem. Quanto maior a exposição, maior é a intensidade dos quadros clínicos, segundo Pulicci. A longo prazo, a contaminação do ar pode intensificar também a ocorrência de problemas renais e hepáticos. As máscaras cirúrgicas, que foram indispensáveis durante a pandemia de covid-19, não apresentam eficácia satisfatória na qualidade do ar.
“As máscaras comuns, as máscaras cirúrgicas, tem pouco efeito. Não vou dizer que não faz nenhum efeito, mas muito pouco, então a gente acaba não recomendando por conta da relação custo-benefício. As partículas que circulam, são muito pequenas e as máscaras cirúrgicas não são capazes de filtrar”, diz.
Outras dicas valiosas que o especialista destaca para o período de contaminação pelo ar, são:
1. Hidratar-se bem
“Água é importante para a gente, não só para o sistema imune mas para o sistema respiratório também. Os efeitos da fumaça não repercutem apenas no respiratório mas também no cardiovascular, então temos aumento na incidência de infarto nessa época do ano, vários estudos comprovam”, ressalta.
2. Dar preferência a alimentos que sejam mais nutritivos
“Frutas, legumes, verduras, alimentos ricos em água, até para fazer essa hidratação indireta”, destaca.
3. Vacinação
“Mantenha atualizado o calendário vacinal, porque a gente ainda tem doenças circulando na nossa região”, acrescenta.
VÍDEOS: g1