20 de setembro de 2024

Queimadas sem autorização, seca e alta temperatura: MT registra maior número de focos de incêndio do país em março

Estado registrou 1.624 focos no mês, maior índice desde o começo da medição. Amazônia e o Cerrado são os biomas mais atingidos. Focos de calor do satélite de referência adotado pelo INPE detectados de 01 de janeiro a 31 de março de 2024.
ICV
Mato Grosso registrou o maior número de focos de incêndio do Brasil em março, com 1.624 focos entre os dias 1° e 31, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde janeiro deste ano, foram registrados 3.334 focos no estado, o segundo maior número do país, e também recorde, em Mato Grosso, para um primeiro trimestre desde o início do monitoramento, em 1999.
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As principais causas dos focos de incêndio foram:
Queimadas sem autorização: segundo especialistas, a maioria das áreas com focos de incêndio não possuem autorização de queima controlada.
Seca: o estado enfrenta uma de redução no regime de chuvas e isso afeta o balanço hídrico, sendo uma das causas do aumento dos incêndios.
Altas temperaturas: outro fator que afeta para o aumento nos focos são as altas temperaturas, especialmente pelo efeito do El Niño desde o ano passado.

De acordo com o Inpe, em janeiro de 2024, foram registrados 847 focos e, em fevereiro, 863 no MT.
Em março, o número de focos de incêndio em 2024 (1.624) também foi recorde desde 1999, ultrapassando o registrado em 2020, quando 4,5 milhões de hectares foram queimados, em 21 municípios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Neste ano, o número de focos foi 12% maior do que em 2020.
Em 2023, foram registrados 576 focos de incêndio no mês de março. O monitoramento do Inpe é feito há 25 anos.
De acordo com os dados, 12 dos 20 municípios que mais registraram focos de incêndio são de Mato Grosso. Nova Maringá é o 6° no ranking, com 141 registros. Em segundo, a cidade de Brasnorte, com 85 focos, na 10° posição.
10 estados com maior número de focos em março de 2024
Os três municípios que mais registraram focos de incêndio no país são de Roraima: Caracaí, com 320 focos, seguido por Iracema, com 187, e Cantá, com 179.
Segundo o Inpe, entre os estados que mais registraram focos de incêndio nesse período, depois de Mato Grosso, estão: Roraima, com 1.378; Bahia, com 400 focos, Mato Grosso do Sul, com 307 e Tocantins, com 222.
Confira os 10 municípios de MT que mais registraram focos de incêndio em março de 2024:
Nova Maringá – 141 focos
Brasnorte – 101 focos
Nova Mutum – 84 focos
Nova Ubiratã – 67 focos
Marcelândia – 52 focos
Paranatinga – 47 focos
Cáceres – 46 focos
Gaúcha do Norte – 43 focos
Diamantino – 42 focos
Tapurah – 40 focos
Dentre esses 10 municípios, pelo menos 8 estão localizados principalmente no bioma Amazônia.
🔥 Manejo de fogo sem autorização
O coordenador do núcleo de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), Vinicius Silgueiro, explicou que a maioria dos focos de incêndio acontece em áreas de transição onde há propriedades rurais de expansão da prática produtiva.
“Mais de 90% estão ocorrendo em imóveis com atividades agropecuárias. O uso do fogo em áreas de conversão para soja ou pastagem é o que os dados têm mostrado. Áreas de expansão em que o fogo é usado no processo de limpeza”, disse.
Essas áreas ficam próximas aos biomas da Amazônia e do Cerrado, que ocupam a maior porção do estado e é onde está a fronteira de transição do uso agropecuário.
Segundo o ICV, 90% dessas áreas com focos de incêndio não possuem autorização de queima controlada — aquela onde o fogo é usado de forma monitorada para auxiliar nas atividades agrícolas. Porém, essa prática também exige uma autorização do órgão ambiental do estado.
O uso do fogo não é permitido em áreas de vegetação nativa. Para fazer a queima é preciso solicitar aos órgãos ambientais uma autorização e que o proprietário faça dentro da área permitida, além de implementar medidas para que o fogo não se expanda.
🍂 Seca
Nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, os municípios de Rondonópolis, Barra do Garças e Sorriso decretaram situação de emergência por falta de chuvas.
O coordenador explicou que outro fator que pode ter contribuído para o aumento dos focos são as secas frequentes e altas temperaturas. “Desde 2019, a gente tem uma situação de seca, redução no regime de chuvas e isso tem afetado o balanço hídrico”, disse.
Segundo Vinicius, a tendência neste ano também é de bastante seca. Por isso, é preciso fiscalizar essas áreas. Em Mato Grosso, o período proibitivo de queimadas na área rural começa em julho.
“É necessário que no período proibitivo, no auge da seca, que é em julho, de fato não seja utilizado fogo e que as medidas preventivas implementadas sejam da altura da emergência que estamos vivenciando. O estado também precisa empreender ações para os momentos de combate. A resposta rápida que vai Influenciar para termos os menores impactos”, disse.
Segundo o meteorologista do Climatempo, Guilherme Borges, normalmente na faixa Norte do estado em março chove em torno de 300 a 350 mm. No entanto, este ano, a chuva foi irregular e abaixo do que é considerado normal. Na ilustração abaixo é possível notar essa irregularidade:
Quantidade prevista de chuva para março X chuva registrada em março
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☀️ Altas temperaturas
Ainda de acordo com o especialista, outro fator que afeta para o aumento nos focos são as altas temperaturas, especialmente pelo efeito do El Niño desde o ano passado.
“Neste ano, a partir de julho, há 75% de probabilidade de influência do La Niña que infelizmente vai fazer com que a chuva comece um pouco mais tarde. Por isso, o fogo tende a se permanecer mais tempo quando ele é iniciado”, explicou.
Segundo o meteorologista Guilherme Borges, Mato Grosso sofreu com uma nova onda de calor, entre os dias 16 à 20 de março. De acordo com ele, o estado passou por temperaturas de 3 a 5 graus acima da média.
🔍 Fiscalização
Conforme a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT), fora do período proibitivo é possível realizar a queima controlada com autorização do órgão ambiental.
Segundo o órgão, além da limpeza de áreas, essa técnica é uma medida de prevenção aos incêndios de grande proporção por meio do emprego do fogo com monitoramento e controle.
A Sema também informou que em circunstâncias que envolvam queimadas ilegais, incêndios florestais e transporte de produtos perigosos, tóxicos ou nocivos à saúde humana, a competência para fiscalizar, apurar a responsabilidade, aplicar multas e realizar perícia é do Corpo de Bombeiros.
O g1 procurou os bombeiros, que disse por meio de nota que já aplicou neste ano mais de R$ 1,5 milhão em multas por uso irregular do fogo e que planeja as ações o monitoramento dos focos.
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Focos de incêndio batem recorde em Mato Grosso no mês de março
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