25 de dezembro de 2024

Quem é e o que fez Orelha, o 1º condenado no caso Marielle

Delação de Élcio levou a PF e o MP a descobrirem que Orelha foi o responsável por desaparecer com o carro usado no crime. Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha
Reprodução
Primeiro condenado nas investigações do caso Marielle, o comerciante Edilson Barbosa dos Santos, de 55 anos, o Orelha, é um empreendedor na Zona Norte do Rio e na Baixada Fluminense. Já foi dono de uma oficina mecânica, de um ferro-velho, em Rocha Miranda, e atualmente é sócio de uma sorveteria em Duque de Caxias.
A diversificação no comércio e os bons rendimentos não impediram que fosse preso, em fevereiro, pela Polícia Federal e pela Força-tarefa Marielle e Anderson (FTMA), do Ministério Público estadual do RJ, por envolvimento no crime que resultou na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A condenação, decisão do juiz Renan de Freitas Ongaratto, da 39ª Vara Criminal, aponta que Orelha ajudou os assassinos da vereadora a se desfazerem do carro GM Cobalt usado no crime.
Ele foi condenado a 5 anos e 17 dias de prisão pelo crime de embaraçar a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. Irá cumprir em regime semiaberto.
A prática de se desfazer de veículos, de acordo com investigações da Polícia Federal e da força-tarefa, acontece há anos.
Orelha é conhecido no submundo do Rio desde os tempos em que possuía a oficina “Duzirmãos” e que, depois do fim de uma sociedade, seguiu com um ferro-velho com o mesmo nome.
“Medidas cautelares deferidas em desfavor do denunciado trouxeram à tona fortes indícios de que ele permanece inserido de forma visceral nas entranhas do submundo do crime organizado, em especial, em atividades criminosas envolvendo o desmanche de veículos e a compra e venda de veículos objeto de crimes”, escreveram promotores da FTMA.
Neste período de desmonte de veículos, por volta do ano de 2008, Orelha já conhecia o bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel – outro réu no caso.
A amizade começou com o futebol que jogavam em Rocha Miranda. A proximidade entre eles veio também nos negócios: ambos compravam carros danificados em leilão e depois consertavam para revenda.
Folheto do ferro-velho ‘Duzirmão’ que pertencia a Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha
Reprodução
Orelha também conhecia Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle e Anderson, mortos em 14 de março de 2018.
Horas depois do crime, Orelha se encontrou com Lessa no bar Resenha, na Barra da Tijuca. Ele foi ao local a convite de Suel para assistir ao jogo do Flamengo pela Taça Libertadores de 2018.
No dia seguinte, 15 de março de 2018 à tarde, mais de 12 horas após a morte da vereadora, Orelha foi procurado por Suel e Lessa que queriam se desfazer do Cobalt usado no crime.
Em 25 de março de 2020, pouco mais de 2 anos após o assassinato, Orelha foi chamado para prestar depoimento como testemunha na Delegacia de Homicídios.
Na ocasião, disse que quando tinha o ferro-velho, no início dos anos 2000, não era bom ter uma relação de amizade com Lessa, já que o assassino de Marielle era policial. A afirmação foi uma forma de justificar um suposto afastamento do executor de Marielle.
A delação de Élcio de Queiroz, em 2023, pôs em xeque esse questionamento ao narrar que Suel e Lessa procuram por Orelha para desaparecer com o Cobalt.
Orelha foi preso em 28 de fevereiro de 2024. Ao chegarem em sua residência, em Duque de Caxias, os policiais se depararam com uma casa que se destaca na rua: é mais nova e possui um interior que foi considerado moderno pelos agentes.
PF e MP do Rio prendem dono de ferro-velho que desmontou carro usado no assassinato de Marielle Franco
Na decisão, o juiz menciona que Orelha “tinha consciência da gravidade das infrações penais que estavam sendo investigadas”, referindo-se aos homicídios de Marielle e Anderson.
Ele destaca que o réu sabia da importância social de uma solução rápida pelo Poder Público, principalmente porque “todos os jornais, redes sociais e demais veículos midiáticos noticiavam o ocorrido, sua gravidade e possíveis repercussões”.
A destruição do veículo dificultou as investigações, “reforçando a sensação de impunidade”.
O magistrado afirma também que Orelha agiu com dolo ao embaraçar as investigações. Ongaratto enfatiza que foi comprovado que Orelha tinha conhecimento de que o veículo que destruiu havia sido usado nos homicídios. Ele também ressalta que Edilson tinha uma relação de confiança com Maxwell e Ronnie Lessa, o que contribuiu para a execução da ação de destruir o veículo.
Ongaratto observa que “a destruição do carro embaraçou as investigações daqueles homicídios, impossibilitando a realização de perícia criminal no veículo” e contribuindo para o atraso na identificação dos executores e mandantes do crime.
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro
Reprodução/TV Globo

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