1 de janeiro de 2025

Quem é o assessor da prefeitura de Indaiatuba flagrado fugindo algemado de operação; PM achou armas e drogas

Município afirmou ao g1 que exonerou o comissionado nesta quarta. Reportagem tenta contato com a defesa dele. Vídeo mostra comissionado da prefeitura tentando fugir durante operação em Indaiatuba
Alvo de mandado de prisão da Operação Chicago, deflagrada nesta terça-feira (26) pelo Ministério Público Estadual (MP-SP) com o apoio da Polícia Militar, um servidor comissionado da Prefeitura de Indaiatuba tentou fugir dos policiais, conforme vídeo acima, e foi encontrado com armas e drogas.
Segundo o MP, o homem flagrado no vídeo é Fábio Augusto Moraes. O investigado tem 46 anos e ocupa um cargo de direção e assessoria na Secretaria de Assistência Social. Ele tinha salário bruto de R$ 8 mil e, segundo a prefeitura, fazia o serviço de abordagem social com pessoas em situação de rua.
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Na casa e no carro de Fábio, policiais encontraram armas de fogo e drogas. Por isso, além do cumprimento do mandado de prisão temporária da operação, o servidor também foi preso em flagrante por posse de drogas e porte ilegal de armas. Veja lista dos itens encontrados com o comissionado:
1 revólver calibre 32
1 simulacro de pistola
1 carabina de pressão calibre 22
104 munições calibre 22
Porções de crack
Pinos e papelotes de cocaína
As investigações apontam que Fábio é suspeito de integrar o núcleo da organização criminosa que seria responsável por cobrar dos comerciantes as propinas. Além dele, outras 12 pessoas, entre policiais, advogados e guardas municipais, foram presas temporariamente nesta terça-feira durante a operação.
Vídeo mostra comissionado correndo algemado da PM
Reprodução/EPTV
Procurada pelo g1, a Prefeitura de Indaiatuba afirmou que Fábio era servidor desde janeiro de 2017 e foi exonerado nesta quarta-feira (27). “Por se tratar de um cargo comissionado, não há necessidade de processo administrativo para a exoneração”, disse em nota.
O g1 tenta contato com a defesa do investigado, mas, até a última atualização desta reportagem, não conseguiu retorno.
O esquema criminoso
Segundo o Ministério Público, o delegado-titular do 1º Distrito Policial, José Clésio Silva de Oliveira Filho, é o suspeito de chefiar o esquema criminoso que extorquia dinheiro de empresários em Indaiatuba (SP).
O delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho, do 1º Distrito Policial de Indaiatuba
Gustavo Biano/EPTV
Segundo promotores de Justiça, Clésio mantinha no 1º DP de Indaiatuba uma “sala de extorsão”, onde policiais ameaçavam imputar crimes a detidos se não pagassem propina à quadrilha.
“É bem narrado na investigação uma sala que nós chamamos de sala de extorsão, aonde foi colocado drogas na mesa e tinha uma vítima que estava algemada com claros indicativos de, olha, aceita o acordo ou essas substâncias ilícitas serão suas’, explicou o promotor de Justiça Paulo Carolis.
Promotor afirma que existia “sala de extorsão” no 1º DP de Indaiatuba
À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Delegado titular do 1º DP de Indaiatuba foi preso suspeito de liderar organização criminosa
Reprodução/EPTV
Células de atuação
Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.
Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.

Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Major Auguto Martinelli, comandante do 1º Baep, e Paulo Carolis, promotor de Justiça do Gaeco, durante coletiva de imprensa
Toni Mendes/EPTV
Segundo Carolis, essas foram as divisões de tarefas apuradas até o momento pela investigação e que podem ser melhor detalhadas quando ocorrer o oferecimento da denúncia à Justiça.
A operação
Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram nesta manhã 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.
A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.
Saiba como funcionava esquema que forjava investigações para extorquir empresários
Alvos de prisão temporária
Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).
Clésio, o delegado do 1º DP de Indaiatuba;
Um escrivão;
Dois investigadores, sendo uma mulher presa na casa dela em Itu (SP);
Dois guardas municipais;
Três advogados;
Três funcionários comissionados da Prefeitura de Indaiatuba;
Um fiscal da Prefeitura de Indaiatuba;
Um décimo quarto indivíduo foragido.
Alvos de busca e apreensão
Foram ainda expedidos, por determinação da Justiça,17 mandados de busca e apreensão. Todos cumpridos nesta quinta:
Nos endereços dos 14 investigados;
No prédio do 1º DP de Indaiatuba;
Em dois escritórios de advocacia.
Crimes investigados
Extorsão mediante restrição de liberdade
Organização Criminosa
Roubo
Furto
Corrupção ativa
Invasão de comércios e fabricação de inquéritos
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.
Chicago
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.
Delegacia de Indaiatuba foi alvo de busca e apreensão
Jorge Talmon/EPTV
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