14 de janeiro de 2025

Quem é Pierre Poilievre, o populista conservador favorito para ser novo premiê do Canadá


Como um populista conservador prestes a conquistar o poder, Pierre Poilievre foi comparado a Donald Trump, mas ele tem uma história bem canadense. Pierre Poilievre
REUTERS
Aos 20 anos, Pierre Poilievre já tinha um roteiro para o Canadá.
O líder do Partido Conservador do Canadá — agora com 45 anos — expôs uma visão de baixo imposto e pouca intervenção do governo para o país em um concurso de redação sobre o que ele faria como primeiro-ministro.
“Um dólar deixado nas mãos de consumidores e investidores é mais produtivo do que um dólar gasto por um político”, afirmou.
Poilievre está um passo mais perto de tornar sua visão uma realidade, e até mesmo deu um aceno para o ensaio em uma entrevista recente com o psicólogo e comentarista conservador Jordan Peterson.
Durante meses, os conservadores de Poilievre desfrutaram de uma grande vantagem sobre o Partido Liberal, em dificuldades em pesquisas nacionais, sugerindo que eles teriam maioria para formar um governo se uma eleição fosse realizada hoje.
Agora, o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou sua renúncia, e com uma eleição provavelmente convocada em breve, Poilievre está prometendo um retorno à “política do senso comum”.
Para os canadenses frustrados com uma economia lenta e uma crise de moradia e acessibilidade, ele está oferecendo uma alternativa ao que rotulou como o “socialismo autoritário” de Trudeau.
Uma vitória o tornaria parte de uma onda de líderes populistas da direita que derrubaram governos em exercício no Ocidente.
Embora isso tenha gerado comparações com Donald Trump — e ele tem fãs como Elon Musk e outros na órbita do presidente eleito dos EUA — a história de Poilievre é particularmente canadense.
Um jovem conservador
Poilievre nasceu na província de Alberta, no oeste do Canadá, filho de uma mãe de 16 anos que o entregou para adoção. Ele foi acolhido por dois professores, que o criaram no subúrbio de Calgary.
“Sempre acreditei que a generosidade voluntária entre a família e a comunidade é a maior rede de segurança social que podemos ter”, disse ele à Maclean’s Magazine em 2022, refletindo sobre sua infância. “Esse é o meu ponto de partida.”
Quando adolescente, Poilievre demonstrou interesse precoce por política e fez campanha para conservadores locais.
Poilievre estava estudando relações internacionais na Universidade de Calgary quando conheceu Stockwell Day, que serviu como chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro conservador Stephen Harper.
Na época, Day buscava a liderança da Aliança Canadense — um partido de direita com raízes em Alberta que se tornou parte dos conservadores modernos em uma fusão em 2003 — e ele chamou Poilievre para ajudar com a comunicação do campus.
“Ele me impressionou desde o começo”, Day disse à BBC em uma entrevista. “Ele parecia ser um cara equilibrado, mas cheio de energia e capaz de chamar a atenção das pessoas.”
A tentativa de liderança de Day foi bem-sucedida, e ele partiu para Ottawa com Poilievre como seu assistente. Algum tempo depois, Poilievre entrou em seu escritório em uma noite fria de inverno para pedir sua opinião sobre a possibilidade de concorrer a um cargo.
Poilievre ganhou uma cadeira no Parlamento por Ottawa em 2004, aos 25 anos, tornando-se um dos conservadores eleitos mais jovens na época. Ele ocupa essa cadeira desde então.
De “Skippy” a líder partidário
Em Ottawa, Poilievre recebeu o apelido de “Skippy” (uma famosa marca de manteiga de amendoim americana) de colegas e inimigos devido ao seu entusiasmo juvenil e língua afiada.
Ele construiu uma reputação de ser “altamente combativo e partidário”, disse Randy Besco, professor assistente de ciência política na Universidade de Toronto.
Por trás das portas fechadas das reuniões do Partido Conservador, Poilievre mostrou seu lado diplomático, disse Day.
“Pierre sempre foi bom em dizer: ‘Ok, sabe de uma coisa? Eu não tinha pensado nisso’, ou ele ouvia e dizia: ‘Você já pensou nisso?'”, disse Day.
Ainda assim, a política de confronto se tornou a pedra angular da persona pública de Poilievre. Após se tornar líder conservador em 2022, ele atacaria Trudeau com comentários mordazes como uma forma de se conectar com eleitores descontentes.
Isso o colocou em apuros às vezes. Em abril, ele foi expulso da Câmara dos Deputados por chamar o primeiro-ministro de “maluco”.
Poilievre disse ao Montreal Gazette em junho que ele é fã de uma “conversa franca”.
“Eu acho que quando a polidez está em conflito com a verdade, eu escolho a verdade”, ele disse. “Eu acho que fomos educados demais por muito tempo com nossa classe política.”
Seu estilo combativo também tem sido divisivo, e ele tem sido criticado por simplificar demais questões complexas para ganho político.
Enquanto os canadenses abriram-se à mensagem do líder da oposição como uma mudança da marca de política progressista de Trudeau, pouco mais da metade deles tem uma opinião desfavorável sobre ele, segundo as últimas pesquisas.
Poilievre também teve que mudar sua visão desde o anúncio da renúncia de Trudeau, para se antecipar ao inevitável confronto entre ele e o próximo líder liberal.
Poilievre sobre populismo, imigração e Trump
O líder conservador foi descrito como um populista “brando” por seus apelos diretos aos canadenses comuns e críticas às elites estabelecidas, incluindo o Canadá corporativo.
Ele se manifestou em apoio àqueles que protestaram contra a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 em 2021, nas manifestações que ficaram conhecidas como “Freedom Convoy” e paralisaram Ottawa por semanas.
Ele prometeu realizar “a maior repressão ao crime na história canadense”, prometendo manter os reincidentes atrás das grades.
Em questões sociais, Poilievre raramente se manifestou — algo que o professor Besco disse ser típico de conservadores mais experientes, que veem esses tópicos como “uma questão perdida”.
Embora Poilievre tenha votado contra a legalização da união homoafetiva no início dos anos 2000, ele disse recentemente que o casamento gay permanecerá legal e “ponto final” se ele for eleito.
Os conservadores também não apoiam a legislação para regular o aborto, embora permitam que os parlamentares votem livremente sobre o assunto.
“Eu lideraria um pequeno governo que cuidasse da própria vida”, disse Poilievre em junho.
Em meio a um debate público no Canadá nos últimos meses sobre imigração, o partido disse que vincularia os níveis de recém-chegados ao número de novas casas construídas e se concentraria em trazer trabalhadores qualificados.
A esposa de Poilievre, Anaida, chegou ao Canadá como uma criança refugiada de Caracas, Venezuela.
O líder conservador pressionou pela integração dos recém-chegados, dizendo que o Canadá não precisa ser uma “sociedade dividida”.
Uma de suas principais promessas — cortar o programa nacional de precificação de carbono de Trudeau, argumentando que é um fardo financeiro para as famílias — levantou questões sobre como seu governo lidaria com questões urgentes como as mudanças climáticas.
O Canadá também enfrenta a ameaça de tarifas altas quando Trump assumir o cargo no final deste mês, com a relação EUA-Canadá esperada para ser um grande desafio.
Poilievre rejeitou os comentários de Trump sugerindo que o Canadá se tornaria o 51º estado dos EUA, prometendo “colocar o Canadá em primeiro lugar”.
Ele não se aprofundou muito na política externa de outra forma, com sua mensagem focada em restaurar “o sonho canadense”.
Acima de tudo, Poilievre diz que quer acabar com a “grandiosidade” e o “wokesimo utópico” (em alusão ao woke, termo associado à justiça social e racial) que ele acredita ter definido a era Trudeau, em favor das “coisas que são grandiosas e ótimas sobre as pessoas comuns”.
“Eu tenho dito exatamente a mesma coisa esse tempo todo”, ele disse a Peterson.

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