De acordo com a denúncia as anotações do diretor-geral da Abin permitiram identificar ações que precederam a trama golpista. O delegado Alexandre Ramagem, impedido de assumir o comando da PF por decisão do ministro Alexandre de Moraes
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
A denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República nesta terça-feira (18), na investigação da tentativa de golpe em 2022, traz detalhes sobre a atuação do deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.
A Polícia Federal identificou um arquivo, vinculado ao usuário aramagem@yahoo.com e denominado ‘’Bom dia Presidente.docx’, no qual Ramagem documentava orientações que ele repassava ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a denúncia da PGR, esse registro foi o que permitiu identificar ações que precederam o plano de permanência do grupo no poder.
Criado no dia 4 de março de 2020 e modificado pela última vez em em 11 de março de 2021, e redigido em primeira pessoa, Ramagem relatada a criação de um grupo técnico para desacreditar as urnas eletrônicas.
Outro arquivo digital vinculado ao ex-diretor-geral da Abin, intitulado ‘Presidente TSE informa.docx’, apresentava uma série de argumentos contrários às urnas eletrônicas para subsidiar os discursos de Bolsonaro.
“Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do Sr. no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos. O argumento na anulação de votos não teria esse alcance todo. Entendo que argumento de anulação de votos não seja uma boa linha de ataque às urnas”, teria escrito Ramagem no arquivo, segundo um trecho transcrito na denúncia da PGR.
Para a PGR, essa redação em primeira pessoa não deixa dúvidas de que “ali se encontravam orientações pessoais de Alexandre Ramagem ao então presidente Jair Bolsonaro”.
Ramagem alegou, em seu depoimento à PF, que costumava escrever textos para comunicação de fatos de possível interesse do então presidente, mas que não necessariamente tenha transmitido a totalidade ou parte dos argumentos que foram redigidos.
A PGR refuta esse argumento, citando convergências entre o conteúdo do documento escrito por Ramagem com outros arquivos encontrados pela investigação da PF. As coincidência levam a crer, segundo a denúncia, que os arquivos foram compartilhados com Jair Bolsonaro.