27 de dezembro de 2024

Região de Campinas chega a 8 feminicídios em 2024, todos aos finais de semana; saiba o que pode explicar tal cenário

Vítima mais recente, Milena Melotto, de 47 anos, foi morta a tiros pelo namorado, que se matou em seguida, em Indaiatuba.Em 2023, municípios da área de cobertura do g1 Campinas tiveram, ao todo, 17 feminicídios. Milena Melotto Meravil da Silva, de 47 anos, foi morta a tiros pelo namorado, que se matou em seguida em Indaiatuba
Reprodução/EPTV
Com o assassinato de Milena Melotto, de 47 anos, morta a tiros pelo namorado na noite deste domingo (28), em Indaiatuba (SP), a região de Campinas chegou a 8 casos de feminicídio em 2024 – todos cometidos aos finais de semana. Em 2023, a área de cobertura do g1 Campinas teve 17 crimes desta natureza.
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Empoderamento feminino e recusa a situações de violência, consumo de álcool e drogas pelos agressores, e homens que não aceitam a libertação das mulheres são fatores comuns aos crimes de gênero, explica a advogada Thaís Cremasco, cofundadora do movimento Mulheres pela Justiça.
Segundo Cremasco, o fato de os crimes contra mulheres seriam registrados aos finais de semana – oito deles foram aos domingos, e um no sábado – têm relação com o fato de muitas vezes esse ser o período em que os casais têm mais tempo juntos.
Nesse caso, o cenário de violência se desencadeia após “a mulher não querer continuar mais aquele relacionamento ou não aceitar determinada conduta do parceiro, que outrora poderia, de alguma forma, ser suportado”.
A legislação brasileira prevê, desde 2015, penalidades mais graves para homicídios que se encaixam na definição de feminicídio – ou seja, que envolvam “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
Dos oito casos de feminicídios registrados neste ano na região de Campinas, quatro foram na metrópole. Veja números:
Campinas: 5
Sumaré: 2
Holambra: 1
Indaiatuba: 1
‘Agressor com mais raiva’
A advogada destaca, inclusive, que o aumento dos feminicídios não deixa de ser uma resposta do movimento de libertação das mulheres, que não querem mais viver relacionamentos abusivos.
“Toda vez que analisamos os aumentos de feminicídios, algumas questões são bastante peculiares. Quanto mais as mulheres tem informações dos seus direitos, do que é violência, do que é certo, o que é errado, o que devem ou não suportar dentro de um relacionamento, elas vão se indispondo contra violência que durante anos acabavam aceitando dos parceiros. E o fato da mulher questionar, se indispor, não aceitar as questões de violência, faz com que o agressor fique como mais raiva de não conseguir dominar aquela situação como dominava antigamente”, analisa.
Situações inadimissíveis
Cremasco pontua que as mulheres, através das mídias, redes sociais, grupos de apoio e da própria evolução da sociedade começam a entender que “tem coisas que são inadimissíveis”.
“A gente sabe que a lei Maria da Penha é uma lei moderna que pune de forma severa esse tipo de violência e, ainda assim, os homens, eles se sentem no direito de violentar os nossos corpos porque, de fato, existe uma questão de misoginia, que é o ódio contra o corpo feminino, e eles acreditam que, de fato, eles têm direito aos nossos corpos. Então, [o aumento dos femincídios] é uma junção de todos esses fatores”, afirma.
A advogada Thais Cremasco, cofundadora do movimento Mulheres pela Justiça
Reprodução/Instagram
‘Toda a sociedade falhou’
Thais Cremasco enfatiza que o registro de feminicídios tem de ser visto coo uma falha de toda a sociedade, e que a erradicação da violência contra a mulher é uma pauta importante para uma sociedade sustentável.
“Quando acontece um feminicídio toda a sociedade errou. O feminicídio não é a violência contra a mulher, o feminicídio não é um problema daquele casal, ele não é um problema daquela mulher, ele não é um problema daquele bairro ou daquela cidade. Toda vez que acontece um feminicídio, a gente falhou enquanto sociedade. Todo mundo errou.”
Local onde ocorreu o feminicídio em Indaiatuba (SP) na noite deste domingo (28)
Gustavo Biano/EPTV
Crimes de 2024
O assassinato de Milena Melotto Meravil da Silva, de 47 anos, é o primeiro registrado em Indaiatuba neste ano, e o oitavo da área de cobertura do g1 Campinas. Ela foi morta a tiros pelo namorado, Mario Roberto Campelo, de 41 anos, que se matou em seguida.
Relembre os casos:
14 de janeiro: uma mulher de 29 anos foi morta a tiros em frente a um posto de combustíveis, na Avenida Ruy Rodriguez, no bairro Recanto do Sol II, em Campinas. Na data do crime, a polícia procurava pelo companheiro dela, que era suspeito do crime e havia fugido.
14 de janeiro: uma mulher de 31 anos foi encontrada morta sem roupas e com hematomas pelo corpo dentro de uma casa na zona rural de Holambra. O suspeito do crime – namorado da vítima – é dono da casa e não tinha sido localizado na data.
28 de janeiro: Fernanda Tavares Barbosa foi encontrada morta dentro de casa na região do Nova Veneza, em Sumaré. O companheiro da vítima, o operador Anderson Oliveira Costa, foi preso em flagrante por feminicídio.
17 de março: Andressa Vieira foi morta ao tentar proteger uma amiga que seria esfaqueada pelo namorado na Vila Brandina, em Campinas. O suspeito, de 24 anos, foi preso por homicídio qualificado por motivo fútil, tentativa de feminicídio e violência doméstica.
6 de abril: uma mulher de 45 anos foi morta a facadas dentro da própria casa, no Jardim Conceição, no distrito de Nova Veneza, em Sumaré. O companheiro da vítima foi preso.
14 de abril: Um homem armado invadiu uma casa e matou uma mulher com quem ele teria tido um relacionamento. O crime ocorreu no Jardim do Trevo, em Campinas.
14 de abril: Tatiane Aparecida Mendes Dias, de 35 anos, foi encontrada em casa, em Campinas, com sinais de esganadura. O caminhoneiro Jairo Ferreira dos Santos, de 39 anos, foi preso em Carapicuíba (SP) e, segundo a PM, admitiu que matou a mulher..
Andressa Vieira foi morta ao tentar proteger amiga de facada em Campinas
Reprodução/Facebook
Histórico de 2023
O retrato trágico das estatísticas de feminicídio na região é evidenciado pelo fato de que, no ano passado, 17 pessoas de diversas idades, cidades, classes sociais e raça tiveram a vida ceifada por questões de ligadas a gênero.
Fim trágico no ciclo de violência contra mulher, feminicídio tem 111 vítimas na região desde 2015
Com 19 anos, a influenciadora digital Micaelly Lara e a jovem Isabelli da Silva foram as vítimas mais jovens de feminicídio naquele ano, enquanto Vera Lúcia Tezzaro Momesso, de 69 anos, a mais velha. Veja, aqui, o históricos das mortes no ano passado.
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