24 de dezembro de 2024

Registro de onça-parda predando javaporco auxilia no estudo de interações entre espécies nativas e invasoras

Equipe do programa MonitoraBioSP flagrou predação durante atividade em campo na Estação Ecológica de Jataí, em Luiz Antônio (SP). Na manhã da última quarta-feira (29), uma equipe do programa MonitoraBioSP, da Fundação Florestal, foi surpreendida com a cena de uma onça-parda (Puma concolor) predando um javaporco (Sus scrofa) na Estação Ecológica de Jataí, localizada na cidade de Luiz Antônio (SP).
O grupo, que realiza um trabalho de monitoramento da biodiversidade em Unidades de Conservação (UCs), estava indo checar armadilhas de borboletas quando se deparou com a predação. Ao perceber a aproximação do veículo, o felino abandonou a presa e a deixou o local.
De acordo com a pesquisadora científica e coordenadora do MonitoraBioSP Andréa Pires, observações diretas de predação são raras e valiosas para a compreensão do comportamento alimentar dos grandes felinos.
Espécie: javaporco.
TV TEM/Reprodução
“Este registro fornece informações sobre as estratégias de caça da onça-parda e suas preferências alimentares, mesmo o javaporco sendo uma espécie exótica. Ele pode ser usado para estudos sobre a interação entre predadores nativos e presas invasoras, contribuindo para a formulação de estratégias de manejo e conservação”, explica.
Andréa comenta que os impactos das espécies invasoras são profundos e multifacetados, resultando em perdas significativas para a biodiversidade e a integridade dos ecossistemas nativos.
Dessa forma, a compreensão dos mecanismos pelos quais esses desequilíbrios ocorrem é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo e controle, a fim de proteger as espécies nativas e manter a saúde dos ecossistemas.
“Animais invasores frequentemente competem com espécies nativas por alimentos, podendo levar à redução das populações de espécies locais. Por exemplo, o javaporco compete diretamente com herbívoros nativos, como capivaras e veados, por vegetação e frutos”, pontua.
Espécies invasoras podem mudar as interações entre as nativas, como mutualismos e competições, afetando a estrutura e a dinâmica das comunidades ecológicas. Além disso, a competição por locais de abrigo e reprodução também afeta negativamente a sobrevivência da fauna nativa.
O javaporco não é uma presa tradicional na dieta da onça-parda
Hugo Hulsberg / iNaturalist
Segundo ela, javaporcos possuem um comportamento de forrageamento que envolve revolver o solo em busca de raízes e invertebrados, destruindo a vegetação do local. Esse comportamento leva à degradação do habitat, alterando a estrutura do solo e promovendo a erosão.
“A presença de javaporcos em áreas protegidas exige esforços intensivos e contínuos de manejo e controle, incluindo a captura, abate e monitoramento das populações invasoras. Esses esforços demandam recursos financeiros e humanos significativos”.
A pesquisadora comenta que há armadilhas fotográficas espalhadas por toda a Estação Ecológica de Jataí , e a equipe está sempre atenta ao que acontece por lá.
“Infelizmente, a equipe não podia imaginar que naquele momento estaria ocorrendo essa predação e a onça-parda abandonou a presa, no entanto, o felino após ter detectado que humanos se foram, ela provavelmente voltou a investir na caçada”, afirma.
Espécie: onça-parda (Puma concolor).
Pedro Santana
Devido aos poucos registros de predação de javaporco por onça-parda, avistar a predação é algo raro e só foi possível porque os técnicos estão constantemente em campo e atenta aos registros, sejam rastros, pegadas, fezes ou interações ecológicas.
“Observações diretas de predação na natureza são difíceis de documentar devido aos hábitos furtivos dos predadores e ao comportamento evasivo das presas. Os predadores, como a onça-parda, tendem a ser solitários e caçam principalmente durante a noite ou em áreas de difícil acesso, tornando o registro visual desses eventos um desafio para os pesquisadores”.
Além disso, o javaporco não é uma presa tradicional na dieta da onça-parda, que tipicamente caça mamíferos nativos como capivaras e cervos. Para Andréa, documentar essa interação proporciona insights valiosos sobre a adaptabilidade do comportamento predatório deste felino em resposta à presença de espécies invasoras.
Ainda assim, o relatório anual do MonitoraBioSP mostra uma frequência alta de registros de javaporco na área onde foi feito o flagrante, assim como de catetos (Dicotyles tajacu). Foram coletadas fezes com pelos para analisar se as onças-pardas têm predado esses animais na área.
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