16 de novembro de 2024

Relatórios da polícia revelam fotos de suspeitos de monitorar advogado morto no Rio juntos em carro

Investigação aponta indícios de monitoramento de outras possíveis vítimas, além de anotações de pagamento de suspeito: Cezar Daniel Mondego aparece em anotações do celular de suspeito de chefiar grupo de extermínio ligado à contravenção. Foto de Eduardo Sobreira e Cezar Daniel Mondego juntos aparece em relatório de investigação da Polícia Civil
Reprodução
Relatórios da Delegacia de Homicídios da Capital revelaram o que a polícia considera novos indícios contra os três suspeitos de monitorar os passos de Rodrigo Marinho Crespo por quatro dias antes de seu assassinato, em fevereiro, no Centro do Rio.
Segundo a polícia, fotos de Cezar Daniel Mondego e Eduardo Sobreira de Moraes juntos em um carro foram encontradas no celular de Moraes. A DH acredita que a foto foi feita durante uma atividade de monitoramento de alvos do grupo.
Além disso, policiais investigam a participação da dupla em outros homicídios praticados por um grupo de matadores de aluguel ligados às máfias do jogo ilegal e dos cigarros, principalmente na parte de monitoramento de vítimas.
Os dois relatórios foram inseridos no processo no dia 12 de setembro. Por causa disso, Mondego e Sobreira ficaram em silêncio nas audiências de instrução e julgamento do caso. O terceiro suspeito no caso, Leandro Machado, respondeu apenas às perguntas das defesas. Os três permanecem presos.
Advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, morto a tiros no Rio.
Reprodução
O g1 procurou as defesas de Cezar Daniel Mondego e Eduardo Sobreira.(leia as notas na íntegra ao final da reportagem)
De acordo com a quebra de sigilo do celular de Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma, Cezar Daniel recebia até R$ 900 pelo serviço de monitoramento de alvos. Anotações no bloco de nota citam “Visão Mondego” e o valor de R$ 900.
Mondego aparece em anotações no celular de “Sem Alma” com a expressão “Visão”
Reprodução
Já a quebra de sigilo do celular de Eduardo Sobreira revela as fotos dele com Mondego no que, segundo a DH, parecem atividades de monitoramento de alvos e locais.
A análise da polícia também encontrou no celular pesquisas por endereços na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Leblon e na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Centro do Rio, ponto em que Crespo foi executado em fevereiro.
Os três pontos eram frequentados por Crespo, sendo o último em frente ao local onde ele foi executado. No celular de Sobreira, também há buscas no aplicativo de mapas pelo endereço do 15º BPM (Duque de Caxias), onde Leandro Machado era lotado.
Há evidências, segundo a DH, que Mondego, Sobreira e Machado se encontraram no batalhão antes e depois do crime.
Cezar Daniel Mondego de Souza foi preso, suspeito de participação no assassinato do advogado Rodrigo Marinho Crespo
Reprodução/TV Globo
Orientação para detalhes
Imagem no celular de Eduardo Sobreira aponta monitoramento, segundo a Polícia Civil
Reprodução
Nos relatórios de interceptação, há mensagens indicando que Mondego e Sobreira deveriam estar atentos a tatuagens de possíveis monitorados.
“Preciso que você memorize bem aquela foto que você achou, memorize bem em detalhe, tatuagem, o c*r&lho! Se amanhã a gente for no lugar, a gente vai tá separado, a gente vai tá no mesmo lugar, mas separado, você dentro do carro e eu fora. Quem ver primeiro e identificar, enfim, a gente vai tá junto amanhã a gente conversa”, diz um trecho do relatório, que não especifica quem dá as instruções.
A quebra de sigilo revelou ainda que Mondego e Sobreira estiveram em endereços na Zona Norte e na Zona Sul do Rio que foram alvos de operações por atuação de bingos clandestinos.
Um dos endereços, que fica em Todos os Santos, na Zona Norte, e é indicado em mensagens trocadas citando um endereço de uma rua específica do bairro.
Outras mensagens mostram instruções de como tentar passar despercebido durante o monitoramento:
“Aí, presta atenção. Não é nada, né nada, quando for umas 9 horas, quinze pras nove, nove hora, tu vem aqui, pede um pãozinho na chapa, um pingadinho, senta aqui comigo e fica aqui. Claro, se ele chegar tu vai levantar, sair no talentinho, tu vai pra dentro do carro, pra tentar dar um segue nele.”
Um dos nomes pesquisados no celular de Eduardo Sobreira, segundo o relatório, é de Thiago Barbosa, assassinado em Nova Iguaçu em 2022.
A Polícia Civil investiga o crime como um dos homicídios cometidos por um grupo de extermínio ligado a Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho.
PM da ativa é acusado de participação em grupo de extermínio
O g1 procurou as defesas de Eduardo Sobreira e Cezar Daniel Mondego. Leia as notas na íntegra:
“A juntada de novos relatórios pela autoridade policial durante as audiências revela a tentativa de tumultuar o caso a partir de um novo factoide. Na verdade, nenhuma prova surgiu de que Eduardo tivesse participado desse crime ou de qualquer outro ilícito”, afirmou Felippe C. Teixeira, da defesa de Eduardo Sobreira.
A defesa de Cezar Daniel Mondego não respondeu até a publicação desta reportagem.

Mais Notícias