26 de dezembro de 2024

Relógio centenário volta a funcionar no centro de Salvador e mantém numeração romana criada em império na França

Monumento foi entregue nesta terça-feira (30) após passar por restauração e automatização com investimento próximo a R$ 70 mil, segundo a Prefeitura de Salvador. Relógio de São Pedro volta a funcionar em Salvador
Jefferson Peixoto/Secom PMS
O Relógio de São Pedro, considerado um monumento icônico da história de Salvador, foi restaurado e automatizado. Mas manteve sua estrutura inusitada de marcação das horas.
É que o número quatro aparece em uma versão pouco convencional do algarismo romano. Ao invés do símbolo comum formado pelas letras I + V (IV), usa-se o “I” quatro vezes (IIII).
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Segundo o historiador Murilo Mello, “reza a lenda” que a origem dessa versão parte de um incômodo do imperador Carlos V da França, nos idos de 1384, no século XIV.
“Da torre do palácio, tinha um relógio no qual estava marcando IV [quatro horas]. Só que, de onde ele enxergava, o quatro parecia o cinco, que é o ‘V’, né? Então, ele não achou de bom grado essa marcação”, explica o professor em entrevista ao g1.
Com isso, o imperador teria ordenado que fosse feita a substituição, seguindo o modelo da sequência I, II e III.
Mas como essa tradição chega à Bahia?
O Relógio de São Pedro foi inaugurado em 1916, em meio à Proclamação da República, no governo de Joaquim José Seabra, o J.J. Seabra. De acordo com o professor, o político tentava empreender e tirar a Bahia de um “estado de letargia” por acreditar que o território estivesse “atrasado” em relação ao país.
“E aí, nesse afã modernista, ele quer derrubar várias casas pra construir uma avenida aos moldes do Rio de Janeiro, que tinha construído uma super avenida no começo do século XX, inspirada nas reformas do Barão de Haussmann em Paris”, conta Mello.
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Assim, “para que Salvador não perdesse o bonde”, o administrador mandou “derrubar” a igreja de São Pedro. Seu objetivo era a construção da Avenida Sete de Setembro, uma das principais vias da capital, que hoje liga a Barra ao Centro Histórico da cidade.
Como a igreja, com seus sinos, também servia como referência de tempo à população, o relógio foi construído ao lado do monumento do Barão de Rio Branco.
A encomenda foi feita à França, onde persistia a tradição de substituir o quatro em algarismo romano. Henri Le Pante cuidou da fabricação no país, enquanto a instalação em terras brasileiras foi feita pelo italiano Pasquale De Chirico.
Restauração e preservação
Entregue à população na terça-feira (30), o Relógio de São Pedro foi restaurado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), através da Alma Arquitetura e Restauro. De acordo com a gestão municipal, o investimento foi de aproximadamente R$ 70 mil.
Relógio de São Pedro na Av. Sete de Setembro
Jefferson Peixoto/Secom PMS
Além do restauro, o monumento foi automatizado, o que significa a instalação de motores elétricos. Segundo a FGM, isso garante a funcionalidade contínua do relógio ao longo do tempo.
“Com mais de 100 anos, o Relógio de São Pedro é dotado de grande relevância para a soterópolis, uma vez que se constitui ainda hoje em marco e em um forte elemento referencial paisagístico do Centro da Cidade de Salvador. Um dos poucos relógios urbanos datados do começo do século XX, ainda ativos no Brasil. A história do relógio está intimamente ligada à abertura da Avenida Sete de Setembro e às obras de remodelação, modernização e de embelezamento da capital baiana empreendidas naquela época”, afirma Elias Machado, restaurador responsável pela recuperação do monumento.
De acordo com a FGM, a estrutura segue composta por um escultura em bronze, quatro atlantes que sustentam um globoide com quatro relógios e uma coluna clássica, que visa refletir a riqueza arquitetônica e artística da época.
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