20 de setembro de 2024

Resgatado na rodovia, tamanduá-bandeira deve ser solto na natureza neste mês

Após 16 meses de acompanhamento, mamífero deve ser solto ainda no mês de abril. Projeto auxilia na recuperação e soltura de outros tamanduás da espécie. Jorginho foi resgatado em setembro de 2022, próximo da Fazenda Lageado
Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (Cempas)
Um tamanduá-bandeira resgatado da natureza ganhou um novo lar em 2022. Ainda filhote, ele foi encontrado com uma fratura no membro superior e sobre as costas da mãe, que havia morrido atropelada em uma estrada na região da Fazenda Lageado, na cidade de Botucatu (SP).
O resgate foi feito pelo Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (Cempas) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, em parceria com a ONG Instituto de Defesa da Fauna (IDF) e a propriedade rural Agropecuária Santa Fé.
Após 16 meses na instituição de medicina veterinária, o animal carinhosamente apelidado de Jorginho completou seu ciclo de crescimento e deverá ser solto no ambiente natural no mês de abril, por meio de um processo de soltura branda.
De acordo com Rogério Zacariotti, diretor-científico do IDF, a soltura branda se diferencia de solturas comuns por promover um período para a adaptação do animal, até que o recinto seja aberto e ele possa voltar à natureza. Além disso, depois de solto, o tamanduá continuará a ser monitorado por mais dois anos, por meio de um colete com transmissor.
Durante a estadia na fazenda que fica na região de Pardinho, a 30 km de Botucatu, Jorginho também passou por adaptações na alimentação. Quando chegou foi alimentado com fórmulas específicas em substituição ao leite materno, já que a mãe havia morrido.
Das rações, o animal passou a se alimentar de cupins e formigas, em preparação ao procedimento de soltura. Segundo os veterinários, o tamanduá-bandeira se adaptou bem à nova dieta e obteve “significativo ganho de massa muscular”.
Na comparação do peso quando chegou ao Cempas, Jorginho passou de 5 para 35 kg, medido em dezembro de 2023. Com os resultados animadores, o centro de medicina começou a receber mais tamanduás e, em 2023, foram cerca de 30 indivíduos, muitos deles filhotes encontrados ao lado de mães mortas.
Segundo Rogério, a fazenda foi foi escolhida pensando na distância das principais rodovias, o que diminui os riscos de atropelamento, e a proximidade de uma área de proteção ambiental de tamanho adequado.
Tendência de extinção
Ainda segundo o diretor, o objetivo principal do projeto é reverter a tendência de extinção do tamanduá-bandeira no estado de São Paulo, e uma das inspirações vem de uma iniciativa conduzida na Argentina pela Fundação Rewilding.
Ativo há 15 anos, segundo Rogério, o programa da fundação já retornou diversas espécies à natureza e o avistamento de um tamanduá-bandeira no Rio Grande do Sul após 130 anos foi atribuído ao projeto por biólogos.
Para o diretor da ONG, ainda há muito trabalho a ser feito. “Em 2022 chegaram a Botucatu 20 indivíduos machucados, no ano passado o número subiu para 30 e, só nos três primeiros meses deste ano, o número já chegou a 10”, comenta ele.
Filhote de tamanduá-bandeira deitado no corpo da mãe
Suziane Brugnara
Segundo os veterinários, nem todos os animais têm condições de voltar para a natureza e alguns ficaram o resto da vida em recintos fechados. Mas o atropelamento não é o único risco à sobrevivências dos tamanduás.
Ataques por cães e episódios de caça também são ameaças. A região abriga grande quantidade de javalis, espécie invasora cuja caça é autorizada pelo governo e que, além de causar prejuízos nas plantações, também aparece em conflitos com outros animais nas zonas rurais.
“As pessoas usam cães para caçar javalis. Muitas vezes, durante as caçadas, os cães veem um tamanduá e partem para cima deles. Daí, os caçadores acabam atirando [e matando os animais selvagens] para que os seus cães não sejam machucados”, explica o veterinário do IDF.
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