12 de janeiro de 2025

Responsável pelo controle do acesso ao depósito da Cidade da Polícia na época de furto de máquina foi preso por vender maconha a traficantes

Os equipamentos estavam entre os bens apreendidos pela Polícia Civil em uma fábrica clandestina de cigarros e que deveriam ter ficado guardados pela Delegacia de Cargas, dentro da Cidade da Polícia, até serem vendidos em um leilão. Juan Felipe Alves da Silva, ex-chefe do setor de investigação da Delegacia de Roubo e Furto de Cargas.
Reprodução
Um dos responsáveis pelo controle de acesso ao depósito da Cidade da Polícia na época do sumiço da máquina de produzir cigarros era o policial Juan Felipe Alves da Silva, ex-chefe do setor de investigação da Delegacia de Roubo e Furto de Cargas.
Em outubro do ano passado, ele, outros 3 policiais civis e um advogado foram presos suspeitos de vender 16 toneladas de maconha, que tinham sido apreendidas na Via Dutra, para bandidos do Comando Vermelho. A carga deveria ter sido levada para a Cidade da Polícia, mas foi descarregada por bandidos em Manguinhos.
A investigação já sabe que o furto contou com a ajuda de pessoas tinham acesso ao depósito. Ele não foi arrombado: quem entrou para retirar o equipamento, tinha a chave.
O sumiço da máquina de produzir cigarros ocorreu às vésperas do carnaval do ano passado e foi noticiado com exclusividade pelo RJ2 desta quarta-feira (20). Nesta quinta, o governador Cláudio Castro se pronunciou sobre o caso, afirmando ter feito “uma cobrança muito dura” ao secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, sobre o furto do equipamento.
O furto da máquina só foi percebido quatro meses depois, após a máquina ter sido arrematada num leilão, quando a empresa vencedora foi até a Cidade da Polícia para verificar o equipamento.
Além de máquina de cigarros, Justiça questiona sumiço de mais dois equipamentos pesados da Cidade da Polícia
Criminosos usaram caminhão para retirar máquina
Outra conclusão do inquérito é que os criminosos teriam usado um caminhão do tipo Munck. Só a carroceria do veículo que transportou a máquina mede mais de 14 metros. E ele ainda tem um equipamento parecido com um guindaste para içar peças pesadas, como a máquina que foi furtada.
Além de tirar a peça do chão, os envolvidos precisaram tirar o objeto do depósito para depois colocarem no caminhão, e fizeram tudo isso, sem levantar suspeitas.
As investigações para apurar o caso foram abertas em novembro do ano passado. Desde o sumiço, a secretaria de Polícia Civil teve duas trocas de comando. Somente na atual, o inquérito foi instaurado na corregedoria – 9 meses depois do crime. Quase cinquenta policiais foram ouvidos.
Outros equipamentos também sumiram
Além da máquina de produzir cigarros de 6 metros de comprimento, quase 2 metros de altura e pesa mais de 5 toneladas, também sumiram da Cidade da Polícia – o centro de comando da Polícia Civil no estado- outros dois equipamentos grandes: uma máquina de fazer embalagens e um compressor industrial.
A ausência dos outros dois itens foi questionada pela Justiça. Os equipamentos estavam entre os bens apreendidos pela Polícia Civil em uma fábrica clandestina de cigarros e que deveriam ter ficado guardados pela Delegacia de Cargas, dentro da Cidade da Polícia, até serem vendidos em um leilão.
Em uma manifestação da Justiça do Trabalho, o juiz pede que o fiel depositário, ou seja, a Polícia Civil informe a localização da máquina elaboradora e da máquina embaladora, além de informar sobre a suposta troca do compressor industrial.
O RJ2 apurou que o compressor teria sido trocado no depósito da Delegacia de Cargas. Alguém teria substituído o que foi apreendido e deveria ter sido entregue ao vendedor.
Os equipamentos têm as seguintes características:
O compressor mede aproximadamente um metro e meio, pesa 400 kg e custa em torno de R$ 60 mil reais, quando novo.
A máquina embaladora mede cerca de um metro e meio, pesa 600 kg e serve para colocar uma embalagem de plástico filme em volta de vários produtos, como um maço de cigarro.
O Ministério Público do Trabalho, que ajudou a encontrar os trabalhadores em situações precárias na fábrica clandestina e participou da apreensão do equipamento, também está cobrando providências à Polícia do Rio.
Área da Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio
Reprodução/TV Globo
Sem câmeras
Além de não ter sido aberta logo após o furto, o que atrapalha a obtenção de provas, a investigação não poderá contar com um recurso muito importante para solucionar crimes: imagens de câmeras de segurança. Isso porque no dia do crime a Cidade da Polícia – um local com 15 delegacias e mais de 3 mil agentes – não tinha esses equipamentos instalados.
Segundo depoimentos que constam na investigação, só em meados do ano passado, Cidade da Polícia passou a ter câmeras. Entretanto, os equipamentos foram instalados só na portaria e, ainda de acordo com os depoimentos, elas não funcionam como deveriam por problemas nos softwares.
” É uma cobrança que eu tô fazendo pra secretaria, que a gente melhore a infraestrutura da Cidade da Polícia pra que situações como essa não aconteçam mais. Eu fiz uma cobrança muito dura ao secretário Amim assim que eu soube e determinei uma apuração severa, rigorosa e que a gente puna quem fez esse mal feito”, disse Castro.
O Ministério Público do Trabalho afirmou que espera que o material seja encontrado e que a quantia arrecadada com o leilão seja repassada aos trabalhadores encontrados em condições precárias.
O RJ2 apurou que a Polícia Civil informou ontem à Justiça do Trabalho que a outra máquina que sumiu, a embaladora, estava desmontada na hora da entrega do equipamento ao vencedor do leilão e que no momento o responsável não deu falta dessa embaladora.
A Polícia Civil reforçou que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e atividade ilícita e reiterou o compromisso de combate ao crime em defesa da sociedade. Afirmou, por fim, que os envolvidos serão punidos no rigor da lei.
O RJ2 não localizou a defesa do policial civil Juan Felipe.

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