27 de setembro de 2024

Restauração do Masp tira cor vermelha dos pilares do museu; vão-livre foi fechado nesta segunda

A tradicional feira de antiguidades, que ocorre no vão, será removida temporariamente. A Prefeitura ainda não definiu o destino das barracas. Masp com os pilares cinzas.
Reprodução/ TV Globo
O vão-livre do Museu de Artes de São Paulo (MASP) foi fechado nesta segunda-feira (22) para o início da restauração do prédio. A tradicional cor vermelha do local também foi retirada de dois pilares que sustentam o museu.
Na obra de restauração do Masp vai ser feita:
Lavagem
Identificação de danos
Tratamento do concreto
Pintura
Impermeabilização
Essa é a primeira vez que o Masp é restaurado desde a inauguração do prédio, em 1968. A tradicional feira de antiguidades, que ocorre no vão do local, será removida temporariamente. A Prefeitura ainda não definiu o destino das barracas.
O Masp continuará aberto para visitação.
Masp tem ‘barriguinha’ na laje; veja curiosidades sobre a estrutura do Museu de Arte de São Paulo, que vai passar pela 1ª restauração
Além do vão, o projeto de preservação do edifício prevê a restauração e a repintura dos pilares e vigas externas do museu. A previsão inicial da Prefeitura de São Paulo é que a obra dure mais de 6 meses.
“A gente vai ter um prédio lindo, com a aparência renovada, sempre respeitando a arquitetura original. A referência é o que foi concebido em 68, mas as marcas do tempo continuam. Ela é uma jovem senhora com algumas ruguinhas”, afirma Miriam Elwing, gerente de Projetos e Arquitetura do MASP.
A partir do questionamento de um leitor, que disse ter enxergado uma curvatura no vão livre, como se fosse uma “barriguinha” no Masp, o g1 foi atrás de detalhes sobre o projeto desse monumento da arquitetura brasileira.
Em setembro de 2023, após ser questionado, o Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizou uma vistoria no edifício e constatou que o museu tem mesmo uma deformação de 70 centímetros, mas que não representa nenhum risco para a estrutura.
Essa deformação existe desde a construção do prédio, é monitorada e causa a impressão de que o Masp tem uma “barriguinha” na laje do vão.
A restauração do local não vai interferir na “barriguinha”.
Concreto
Lina Bo Bardi, responsável pelo projeto arquitetônico do Masp, posa na construção
Acervo/Masp
O museu, inaugurado em 1968, foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, que usou uma técnica inovadora para sustentar o vão livre de 74 metros quadrados.
O Masp é feito de:
Concreto no formato de pés de pato
Colunas de concreto armado
Vigas alongadas
Esse concreto em formato de pés de pato é chamado de sapatas, que estão enterradas no piso e foram construídas com concreto armado e tela dupla de aço estrutural. Para quem olha o museu da Avenida Paulista, essas sapatas estão sobre os túneis da Avenida Nove de Julho.
As colunas de concreto armado foram colocadas em cima das sapatas. As colunas do lado direito do museu, para quem olha a partir da Avenida Paulista, são ocas, vazias no interior, onde foram colocados pêndulos de concreto armado nas extremidades superior e inferior, permitindo movimentos horizontais das vigas de cobertura.
Para segurar a estrutura elevada, foram utilizadas vigas protendidas, ou seja, vigas que permitem um alongamento. Ao todo, são 4 vigas, um par que sustenta a cobertura e mais duas que atravessa o interior do edifício para sustentar dois pisos simultaneamente. Essas vigas são formadas por tubos ocos de seção retangular, a cada 3,5 metros de concreto com divisões nos blocos.
As vigas que sustentam o andar superior, do acervo permanente, possuem a mesma largura do corredor entre as salas e o espaço de exposições temporárias.
As vigas protendidas, tanto no vão entre elas como nos balanços, as lajes são apoiadas em vigas em concreto armado
As vigas da cobertura, em um dos lados, são simplesmente apoiadas, com vão livre de 74 metros.
Com isso, é permitido um movimento horizontal da estrutura do lado em que os pilares são ocos. Esses movimentos são liberados por um pêndulo de quatro metros de altura.
Segundo arquitetos ouvidos pelo g1, a movimentação dá uma impressão de que a estrutura do local está curvando.
“A movimentação da estrutura é normal. Para vencer o vão – que na época era um desafio da engenharia – a Lina criou aquela estrutura vermelha e literalmente pendurou o Masp. Com o tempo, esses cabos e o peso vai esticando, muito devagar, mas é completamente normal”, afirma o arquiteto Lula Gouveia.
Segundo Lula, a estrutura que sustenta a galeria de vidro do Masp é como se fosse um parafuso. “Você pode esticar novamente e ele volta ao estado normal, algo que já acontece há muitos anos, então vai chegando em um limite. Mas o fato é que a Lina não só usou uma técnica nova como previu que no futuro a manutenção fosse fácil e segura”.
Em como grande parte das suas obras, Lina imaginou um local que deveria ser utilizado pelo público e o vão livre responde essa ideia. Já que é permanentemente aberto ao público, além de ter virado um local de ponto de encontro dos moradores de São Paulo.
Segundo Alexandre Benoit, arquiteto e professor da Escola da Cidade, uma das lajes do Masp é sustentada por uma viga invertida e a outra é por tirantes de aço, que seguram a laje.
“A sala de exposição permanente é sustentada por uma dupla de vigas, que atravessam e chegam nos pilares. A laje debaixo, aquela que você vê de fora antes do vão, é puxada por esses tirantes. Quando você entra no primeiro andar do Masp, você consegue ver os tirantes de algumas partes da área”, afirma.
O museu foi feito para aguentar o peso de existir em um vão tão extenso e, por conta disso, ele se movimenta lentamente de acordo com fatores como:
Época do ano
Umidade relativa do ar
Ventania
Essa movimentação também é monitorada pela administração do local – através da observação da variação, ou seja, se está crescente ou não. A cada mês, são levantadas as medidas do piso ao teto em seis pontos do edifício. Com os dados, é elaborado um diagnóstico semestral. Atualmente, a obra apresenta uma variação de curvatura média de 2mm.
‘Barriguinha’ do Masp
A “barriguinha” do Masp, criada pela deformação, foi causada pela própria técnica de concreto armado protendido. Ele não está caindo.
As vigas do Masp (veja acima), sofreram um processo de protensão, uma técnica utilizada para aumentar a resistência do concreto, em 10 mil toneladas de força, considerando os 70 metros de vão.
Para atingir a compreensão estipulada para cada viga, era necessário injetar nata de cimento na estrutura que envolvia os cabos. Essa técnica, causou um encurtamento de 5 centímetros em cada viga.
Saiba por que o Masp é marco da arquitetura moderna
A protensão do Masp foi feita de uma maneira diferente do usual.
Eles utilizaram uma técnica criada pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, que também assina o projeto. Nesse sistema, antes de ingerir nata de cimento nas vigas, é possível que sejam feitas novas tensões nos cabos em um determinado intervalo de tempo, para compensar as perdas de resistência por retração e deformação lenta do concreto, voltando-se a comprimir as vigas para a manutenção da tensão desejada.
“Essa barriga a gente vê conforme o ângulo, igual aquela história de estádio de futebol tremer. Em termos mais técnicos, se trata de uma flexão natural do concreto após a deformagem”, diz Benoit
Museu de Arte de São Paulo foi construído na década de 1950
Acervo/Masp

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