Número de pessoas concorrendo à Prefeitura de Guarujá é o maior da Baixada Santista. População de Guarujá (SP) pede mais investimento em áreas básicas da cidade
Carlos Abelha/TV Tribuna
Guarujá, no litoral de São Paulo, encanta muitas pessoas com as belas praias, mas até os moradores mais apaixonados sentem falta de investimento nas áreas de segurança, saúde, moradia e zeladoria. A quantidade de políticos que querem enfrentar esses desafios e governar a cidade é grande: são nove candidatos a prefeito. O número de concorrentes é o maior da Baixada Santista.
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O aposentado Jorge Freitas Santos e a dona de casa Maria Aparecida Freitas Santos desfrutaram de todos os 42 anos de relacionamento em Guarujá. O casal guarda muitas memórias da cidade, que viu se transformar ao longo dos anos.
Nas periferias da cidade, o cinza das construções expulsou o verde da natureza. “Há falta de iniciativa do próprio poder público de tomar as decisões e não deixar que os espaços fossem sendo utilizados”, lamentou Jorge em entrevista ao repórter Rodrigo Nardelli, da TV Tribuna, afiliada da Globo, na série de reportagens Retratos da Região.
Um levantamento do MapBiomas apontou que Guarujá tinha 92 hectares de áreas urbanizadas em assentamentos precários em 1985. Já em 2021, este número passava de 500. O crescimento desordenado é um problema que ocorre há décadas em toda a extensão territorial.
Área de mata foi ocupada por centenas de construções em Guarujá (SP)
Carlos Abelha/TV Tribuna
Crime
No entanto, as submoradias fazem com que a população viva em condições precárias. Já a ausência do poder público gera espaço para que pessoas com outros interesses ocupem esses lugares. O crime organizado, por exemplo, já se instalou nessas regiões. Por isso, muitas vezes, são os criminosos que ditam as regras.
Em uma das comunidades de Guarujá, um policial militar da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foi morto no ano passado. Em resposta, o Estado realizou a Operação Escudo em que pessoas morreram, drogas foram apreendidas e moradores ficaram assustados.
Neste ano, policiais encontraram dois corpos enquanto procuravam um policial que desapareceu e depois foi encontrado morto. Além disso, Guarujá também já viu políticos morrerem assassinados. De 1997 para cá, foram pelo menos sete mortes violentas envolvendo pessoas ligadas à política municipal.
Moradia
A dona de casa Jéssica Aguilar mora com os quatro filhos em uma das áreas que foi ocupada irregularmente. Essa é a região que ela consegue pagar o aluguel. “É um espaço que eu encontrei para eles, porque sem teto eles não podem ficar”, afirmou a mulher.
A história de Jéssica é parecida com a de milhares de pessoas que moram em casas simples, sem saneamento básico e que batalham para conseguir ter uma vida melhor. O maior objetivo dela é ter uma casa própria. “É o sonho de qualquer um ser humano ter o que é seu”, disse Jéssica.
Segurança
Vários moradores acabam entrando para o crime na falsa ilusão que ganhará dinheiro e ter uma vida melhor, tornando a periferia um esconderijo e gerando insegurança. “A gente fica triste por causa da violência mesmo. A gente não pode sair na rua”, desabafou Maria Aparecida, dizendo que evita ao máximo sair de casa durante a noite.
O crime sempre foi um problema na cidade, pois segundo levantamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), pouca coisa mudou em 20 anos. No caso dos furtos, a média no ano passado foi de 12 por dia. Em 2003, eram 10.
Houve uma pequena queda no registro de roubos, mas o índice é parecido: mais de 3 mil por ano, o que dá uma média de oito pessoas sendo ameaçadas por dia.
Saúde é um dos problemas de Guarujá, segundo a população
Carlos Abelha/TV Tribuna
Saúde
O aposentado Marcelo Barbosa também almeja melhorias na segurança da cidade, mas este não é o único problema na visão dele. “A saúde também está precária e agora o que está afetando mais a população é a falta d’água”, afirmou.
A diarista Terezinha Santana concorda que a saúde é um ponto que precisa de atenção do poder público. “Você chega no pronto-socorro e leva duas, três ou quatro horas para ser atendida. O atendimento é péssimo, eles não olham”, lamentou, citando que esteve com o filho recentemente em uma unidade, mas o médico não examinou o menino.
Segundo os moradores, os problemas na saúde vão além do atendimento, pois estão na infraestrutura das unidades. Marcelo diz que os aparelhos que realizam radiografias estão quebrados, enquanto Terezinha alega que os ambientes não são climatizados. “Parede descascando, não tem ar-condicionado no verão, a gente fica morrendo de calor”, relatou a diarista.
Ruas
Carlos Eduardo Araújo de Arruda é motorista de aplicativo e, por isso, lamenta a falta de manutenção nas vias. “Ruas são muito esburacadas. Muitas não têm asfalto nem paralelepípedo, nada”, afirmou, dizendo ainda que a iluminação também deixa a desejar.
Para Terezinha, os políticos precisam ter mais responsabilidade com os moradores de toda a cidade, pois o distrito de Vicente de Carvalho precisa de mais atenção do poder público.
“Se você olhar por certas ruas, é buraco, mato, lixo, morador de rua.[…]. Aqui a gente vive também, tem comércio, precisa ter atenção de vereador, prefeito, deputado, seja lá quem for, tem que olhar pela população. Estamos jogados”.
Eleições
Em Guarujá, nove pessoas estão na disputa pela prefeitura: Claudio Fernando (Novo), Coronel Rogério (PRTB), Farid Madi (Podemos), Nicolaci (PL), Pepe da City (PSB), Raphael Vitiello (PP), Sidnei Aranha (PC do B), Thaís Margarido (União Brasil) e Zé Manoel (PSOL).
Apesar de ocupar a quarta posição no ranking de população na Baixada Santista, Guarujá tem a maior quantidade de candidatos a prefeito da região.
O número representa o triplo de concorrentes à Prefeitura de Bertioga e quase ao dobro de concorrentes em Cubatão, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e Santos.
O número de pessoas disputando uma cadeira da Câmara Municipal também é grande: 328, sendo quatro considerados inaptos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A única cidade que ultrapassa Guarujá no número de candidatos a vereador é Santos, com 355. Veja detalhes clicando aqui.
Retratos da Região
Esse conteúdo faz parte da série de reportagens ‘Retratos da Região’. A TV Tribuna, afiliada da Globo, percorreu 4.100 quilômetros para ouvir moradores das nove cidades da Baixada Santista e 20 do Vale do Ribeira.
O apresentador Rodrigo Nardelli e o cinegrafista Carlos Abelha viajaram por um mês para mostrar as características e problemas de cada cidade e, então, descobrir o que os moradores desejam para o futuro, pensando nas Eleições 2024.
A série ‘Retratos da Região’ é exibida no Jornal da Tribuna 1ª Edição, que começa às 11h45. A nova série estreou no dia 2 de setembro.
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