25 de fevereiro de 2025

Reunião de emergência: líderes europeus discutem aumentar gastos militares na guerra da Ucrânia


Vladimir Putin e Donald Trump estão muito mais próximos do que a Europa gostaria. Entenda: Europeus fazem reunião de emergência sobre Ucrânia e avaliam que guerra pode se espalhar no continente
Líderes da Europa fizeram, em Paris, uma reunião de emergência sobre a guerra na Ucrânia. Eles discutiram ampliar os gastos militares porque avaliam que aumentou o risco de um conflito com a Rússia se espalhar pelo continente.
Na reunião convocada de última hora, o presidente francês recebeu os líderes de Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Polônia, Holanda e Dinamarca. Apesar dos sorrisos, é um momento sensível. A Europa está na parede. De um lado, uma Rússia em guerra e que tomou gosto em falar alto com os vizinhos. Do outro, os Estados Unidos sob nova direção, com uma postura que vem colocando a longa amizade transatlântica com os europeus em turbulência.
Donald Trump e Vladimir Putin estão muito mais próximos do que a Europa gostaria. Na última semana, o presidente americano telefonou diretamente para Putin para falar do fim da guerra na Ucrânia sem consultar os ucranianos nem os aliados europeus. Uma hora e meia de telefonema.
Depois, o enviado dos Estados Unidos para a Ucrânia disse que a Europa seria consultada mas não participaria das negociações de paz. Os líderes do continente se sentiram excluídos, desprestigiados. Logo eles, que considerando todo o apoio à Ucrânia – militar e humanitário – já ajudaram mais que os Estados Unidos. A Europa, até agora, passou para os ucranianos o equivalente a US$ 137 bilhões. Os Estados Unidos, US$ 118 bilhões.
Os europeus ligaram o alerta e se reuniram nesta segunda-feira (17). Os europeus temem que americanos e russos negociem um acordo de paz que force a Ucrânia a ceder território e que deixe o país sem garantias de segurança, sem nada que impeça Vladimir Putin de recomeçar a guerra quando tiver uma chance.
Reunião de emergência: líderes europeus discutem aumentar gastos militares na guerra da Ucrânia
Jornal Nacional/ Reprodução
Antes da reunião desta segunda-feira (17), o primeiro-ministro do Reino Unido declarou que está disposto a enviar tropas britânicas para manter a paz na Ucrânia quando o conflito acabar. Depois do encontro, Keir Starmer disse que um risco à Ucrânia é um risco à segurança coletiva da Europa. O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, disse que era altamente inapropriado falar no envio de soldados da Alemanha para a Ucrânia sem um acordo de paz em mãos.
Mas entre os líderes, pelo menos um consenso: eles concordaram que é preciso investir mais nas forças armadas. Só não anunciaram quanto vão investir.
É que por trás da turbulência toda com os americanos tem aquilo que movimenta a política desde sempre: poder e dinheiro. Historicamente, os Estados Unidos são o maior contribuinte para o orçamento da Aliança Militar do Ocidente, a Otan, formada por 32 países que protegem uns aos outros.
Em 2024, a participação americana nos gastos totais da Otan foi de 63%. Caiu em relação aos 72% de dez anos atrás – mas ainda é um gasto colossal: US$ 755 bilhões. O PIB americano é mais ou menos igual ao PIB de todos os outros países da Otan somados. Então, em uma conta simples, os Estados Unidos deveriam arcar com metade dos gastos, muito menos dos 63% que pagam hoje.
O risco agora, e é isso que faz a Europa se ajeitar na cadeira, é de os Estados Unidos reduzirem drasticamente – no curtíssimo prazo – a ajuda militar à Otan. Isso deixaria a Europa mais vulnerável em um momento de guerra. Se a participação dos Estados Unidos na Otan diminuir, não tem jeito: a Europa vai ter que gastar mais com defesa – muito mais.
Faz uns dez anos que os países europeus da Otan se comprometeram a gastar com políticas de defesa 2% do PIB – o Produto Interno Bruto. A situação é a seguinte: o gráfico mostra, em vermelho, o que os países gastavam naquela época. Em azul, o que gastam hoje. Já aumentaram consideravelmente os gastos militares a Polônia, que faz fronteira com a Ucrânia, e a Estônia, que faz fronteira com a Rússia. Lituânia, Reino Unido, França, Alemanha e Holanda fizeram o básico – alcançaram os 2%. Outros países, como Espanha e Itália, nem o básico fizeram.
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Os especialistas falam que, com a nova postura dos Estados Unidos, a Europa precisa mudar o senso de urgência agora. O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense Vitelio Brustolin explica que a situação atual traz à tona memórias da Segunda Guerra Mundial, que destruiu o continente.
“Então, a União Europeia nesse momento discute a criação de um exército europeu, de uma força europeia que possa criar dissuasão para ameaças externas como essa da Rússia. A leitura que se faz na Europa hoje é que o Putin não vai parar na Ucrânia e que a guerra da Ucrânia não vai acabar ali”, diz Vitelio Brustolin.
A reunião de emergência terminou com cautela. Os líderes vão esperar o primeiro-ministro do Reino Unido se reunir com Donald Trump para discutir os próximos passos. Mesmo reconhecendo a necessidade de serem protagonistas nessa crise, Keir Starmer e Olaf Scholz também falaram na necessidade de apoio americano para garantir a segurança da Ucrânia.
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