Nível do manancial baixou para 16,95 metros ao meio-dia desta sexta-feira (8). Em 2024, Rio Branco enfrenta a segunda maior enchente desde que a medição começou a ser feita, em 1971. Águas do Rio Acre saíram do calçadão da Gameleira
Pedro Devani/Secom
O Rio Acre marcou 16,95 metros ao meio-dia desta sexta-feira (8), segundo medição da Defesa Civil de Rio Branco. Essa é a primeira vez desde o dia 29 de fevereiro que as águas do manancial ficam abaixo dos 17 metros na capital.
Carro aparece após águas baixarem em Rio Branco
Marcos Vicentti/Secom
Houve uma redução de 10 centímetros em relação à medição das 9h (17,05 metros) e de 23 centímetros quando comparada a medição das 6h (17,18 metros).
Rio Branco vive, em 2024, a segunda maior enchente registrada de sua história desde que a medição começou a ser feita, em 1971. No último dia 6 de março a maior cota do ano foi atingida, 17,89 metros. A maior cheia histórica já registrada é de 18,40 metros em 2015. (veja abaixo a evolução do nível do rio).
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
Em 2024, já são 51 bairros e 23 comunidades rurais atingidas pela cheia em Rio Branco, e mais de 4 mil pessoas estão desabrigadas, segundo a prefeitura da capital, com dados desta sexta (8). Mais de 70 mil pessoas foram afetadas, direta ou indiretamente, pela cheia do manancial em Rio Branco.
Rio Acre começa a baixar em Rio Branco
Melícia Moura/Rede Amazônica
De acordo com a Energisa, companhia responsável pela distribuição de energia elétrica no Acre, já são mais de sete mil imóveis com fornecimento suspenso.
O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pelo avanço das águas. O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.
Rio Acre ficou abaixo dos 17 metros pela primeira vez desde o final de fevereiro
Ismael Melo
Em todo o estado, pelo menos 28.952 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado nesta sexta (8). 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e cinco pessoas já morreram em decorrência da cheia. O número aumentou nesta quarta após um bebê de 1 ano e 8 meses morrer afogado no quintal de casa na Comunidade Tapiri, zona rural de Cruzeiro do Sul.
Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são 4.147 pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal nesta sexta (8):
Parque de Exposições Wildy Viana: 896 famílias – 3.584 pessoas
Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 563 pessoas
O trânsito no Centro e no Segundo Distrito da capital sofreram alterações na última segunda-feira (4) e na manhã desta terça pontos de congestionamento foram registrados na capital. A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans) orienta os condutores a evitarem o congestionamento do Centro da cidade.
Cheia do rio Acre afeta o abastecimento de água em mais de 20 bairros da capital
Ministros no Acre
Nesta segunda-feira (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em entrevista coletiva, ele disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.
“Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática”, destacou.
Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios
Arte g1
A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.
“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.
Família se muda para barco ancorado em frente de casa inundada pelas águas do Rio Acre
Por causa de cheia, ponte do Igarapé São Francisco é interditada em Rio Branco
Ministros da Integração e do Meio Ambiente chegam ao Acre para visitar áreas atingidas pelas enchentes
O Governo Federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e esta segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.
Já é perceptível a diminuição no nível do rio Acre
Richar Lauriano/ Rede Amazônica
Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.
Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.
Da seca extrema à cheia histórica: entenda os fatores climáticos que fazem o Acre viver nova emergência
Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.
Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explicou ao g1 que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas. Além disto, destacou a influência do El Niño na cheia do Rio Acre.
“Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua”, avalia.
Enchentes no Acre começaram em Assis Brasil na segunda quinzena de fevereiro
Arte/g1
Previsão do tempo
Nesta sexta-feira (8), de acordo com os dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), um fenômeno meteorológico conhecido como Alta da Bolívia, que atua em altos níveis da atmosfera a 12 Km de altitude, segue ativo no sul da Amazônia e favorece a organização de áreas de instabilidade na região, inclusive sobre o Acre.
A previsão em todo Acre é de é de céu nublado a encoberto com chuva a qualquer hora do dia nas cidades do oeste acreano. Já na capital e demais regiões do estado a previsão é de sol entre muitas nuvens com pancadas de chuva e trovoadas entre a tarde e à noite. Há possibilidade de temporais em todo o estado.
VÍDEOS: g1