Reconstrução completa pode demorar até oito meses. Local está sinalizado com várias placas alertando sobre desmoronamento. Rua que dá acesso ao bairro Leonardo Barbosa, em Brasiléia, e que quase ‘virou’ boliviano, tem acesso improvisado
Asscom/Prefeitura de Brasiléia
A rua que quase rompeu em meio à cheia do Rio Acre em Brasiléia, no interior do estado, e poderia ter impossibilitado o acesso ao bairro Leonardo Barbosa, deixando o bairro inteiro do lado boliviano, tem agora um acesso improvisado para que os moradores possam transitar pela cidade. A prefeitura do município explicou que a medida foi tomada até que haja providência definitiva.
A única rua que liga o bairro Leonardo Barbosa ao resto da cidade de Brasiléia quase foi levada de vez pelas águas do rio, deixando a região conectada à vizinha Bolívia e apartada do território brasileiro. Os moradores temiam que, dessa forma, a Bolívia reivindicasse a região.
👉 Contexto: O trecho do Rio Acre que corta o município de Brasiléia, no interior do Acre, alcançou 15, 66 metros, uma nova marca histórica, e deixou pelo menos 80% da cidade debaixo d’água neste ano. Agora, as águas já baixaram e o rio está em menos de 6 metros.
De acordo com a Defesa Civil do Município de Brasiléia, a cratera que se formou na rua do bairro Leonardo Barbosa tinha 40 metros de extensão, 15 metros de largura e 4 metros de profundidade.
Rua que dá acesso ao bairro Leonardo Barbosa no dia 1º de março, após baixa do Rio Acre; e tráfego no local após 19 dias
Initial plugin text
O bairro fica na periferia da cidade e tem cerca de 1,1 mil moradores, segundo a Assistência Social do município. O total da área do bairro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), é de 44 hectares, o equivalente a 66 campos de futebol.
A prefeitura esclarece que agora o local está sinalizado com várias placas, indicando risco de desmoronamento. O órgão ainda comunicou que o novo acesso ao bairro é provisório e a solução definitiva vira quando a prefeitura conseguir refazer a estrutura da rua.
“Não há previsão para a reconstrução definitiva do local, pois a cidade ainda está na fase de ação humanitária e restabelecimento, por conta do cenário de destruição que a cidade ficou após alagação. Pode levar até oito meses para finalizar essa primeira fase de restauração da cidade”, disse a assessoria da prefeitura do município.
LEIA TAMBÉM:
Bairro fica isolado por cheias no Acre, e prefeitura espera água baixar para checar se área ‘virou’ território boliviano
Em Brasiléia, 100 pessoas seguem em abrigos após perderem as casas em cheia histórica: ‘ainda não sei para onde vou’
‘A gente não tem para onde voltar’, diz mulher que teve casa destruída durante enchente histórica de Brasiléia
No dia 28 de fevereiro, o nível do Rio Acre chegou a 15,58 metros no município. Com isso, superou a marca registrada em 2015 em Brasiléia, de 15,55 metros, naquela que até então era a pior cheia da história da cidade, quando as águas do manancial cobriram 100% da área urbana
Em 29 de fevereiro, esse trecho do rio em Brasiléia, começou a apresentar os primeiros sinais de que estava secando. Houve uma diminuição do rio em 38 centímetros e a partir de então, escoou até abaixo da cota de alerta.
Bairro Leonardo Barbosa, na cidade fronteiriça de Brasileia
Arte/g1
Situação é antiga
O g1 fez um alerta sobre uma possível “separação” do bairro em 2013 após a cheia que atingiu o município no ano anterior. Naquela época, o geólogo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Pavel Jezek, explicou que havia risco do território onde fica o bairro ser separado do restante do munícipio de Brasiléia, caso ocorresse uma grande enchente.
“A causa do processo de erosão no bairro Leonardo Barbosa é o rio, cuja vazão, quantidade de água por unidade de tempo, varia entre seca e cheia. Em situação de cheia aumenta a velocidade e a intensidade de erosão”, disse à época.
Em 2015, quando Brasiléia havia alcançado a então maior enchente de sua história, o risco gerou ainda mais preocupação aos moradores. Apesar de o país vizinho nunca ter demonstrado interesse nas terras, os moradores temem passar a viver do lado boliviano.
Em 2021, seis anos após a então maior cheia, o Instituto Nacional de Proteção da Amazônia (Inpa) disse que a situação estava estabilizada, mas que não era possível ver alguma obra efetiva para contornar o problema, caso ocorresse uma cheia como aconteceu em 2015.
Imagens mostram que bairro do AC que poderia virar território da Bolívia não apartou
VÍDEOS: g1