7 de janeiro de 2025

Sabesp não encontra problema na rede de esgoto que possa ter contaminado o mar e causado surto de virose


A Prefeitura de Guarujá informou que notificou a Sabesp sobre a situação e aguarda os resultados das amostras de água coletadas na Praia da Enseada, enviadas ao Instituto Adolfo Lutz. Praia da Enseada, onde a Prefeitura de Guarujá disse ter ocorrido escoamento de esgoto clandestino
Alexsander Ferraz/AT
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afirma não ter identificado problema na rede que justifique a contaminação no mar de Guarujá (SP). A prefeitura acredita que o surto de virose tenha sido causado pelo escoamento de esgoto clandestino nas águas da cidade.
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De acordo com a Sabesp, os sistemas de água e esgoto da Baixada Santista estão operando normalmente e são monitorados 24h. “O surto de virose não tem relação com a operação da empresa”, diz, em nota.
A Prefeitura de Guarujá, quando disse que o surto pode ter sido causado pelo esgoto clandestino, afirmou à equipe de reportagem ter notificado a empresa, mas a Sabesp negou ter sido acionada, mas informou que “já prestou os devidos esclarecimentos à Secretaria Municipal de Meio Ambiente”.
Por enquanto não há confirmação sobre a origem do surto, porém foram coletadas amostras da água na Praia da Enseada, onde teria ocorrido o escoamento de esgoto. O material foi encaminhado ao Instituto Adolfo Lutz para tentar esclarecer os casos de gastroenterocolite aguda.
Além dos casos de virose, Guarujá registra vazamento de esgoto para o mar
Apesar do apontamento feito pela administração municipal, a Sabesp lembrou que Guarujá tem aproximadamente 45 mil imóveis irregulares, cujo despejo de esgoto pode estar sendo realizado em galerias de águas pluviais, o que afetaria a balneabilidade das praias.
“As redes municipais de águas das chuvas, que devem ser fiscalizadas pela prefeitura, desembocam no mar”, apontou a empresa.
Vazamento de esgoto na Praia da Enseada, em Guarujá (SP)
Reprodução/TV Tribuna
Casos explodiram: hospitais lotados e farmácias zeradas
As viroses geralmente afetam o trato gastrointestinal [sistema digestivo], provocando sintomas como diarreia, náuseas, vômitos, cólicas e febre. A duração pode variar de um dia a uma semana, e a desidratação pode ser classificada como leve, moderada ou severa (leia mais abaixo sobre a doença).
Na cidade de Guarujá, por exemplo, várias pessoas se dirigiram às unidades de saúde relatando o problema entre o fim do ano e o início de janeiro. As unidades de saúde estão lotadas e nas farmácias as pessoas já têm dificuldades para encontrar medicamentos usados no controle dos sintomas.
Confira abaixo dados que reforçam a alta de casos de virose entre os dias 1º e 31 de dezembro nas cidades da Baixada Santista. as informações foram enviadas ao g1 pelas prefeituras da cidade.
Bertioga: O Hospital Municipal da cidade registrou 300 casos de virose;
Cubatão: Em janeiro, a cidade registrou 184 atendimentos nas unidade de saúde. A prefeitura não divulgou os dados de dezembro.
Guarujá: Foram 2.064 atendimentos nas unidades de Pronto Atendimento, sendo que o município registrou 1.457 em novembro;
Itanhaém: Foram registrados 790 casos.
Mongaguá: Houve um aumento de 10% no Pronto-Socorro Central e 15% no Hospital da cidade. A prefeitura não informou o número de casos;
Peruíbe: A administração municipal não informou a quantidade de notificações de virose, mas afirmou que não teve um aumento;
Praia Grande: A prefeitura informou que as unidades de saúde estão realizando atendimentos de pacientes com virose com maior frequência nos primeiros dias no ano. Mas, de acordo com a administração municipal, não foi necessário contabilizar os casos porque a cidade não está em cenário de surto.
Santos: Teve 2.264 atendimentos nas três UPAs em dezembro. Nos primeiros dias do ano, já foram 273.
São Vicente: Foram registrados 1.754 casos. Em novembro, tiveram 1.657. A prefeitura disse que não teve superlotação e falta de analgésicos e antitérmicos nas farmácias da cidade.
UPA Rodoviária em Guarujá (SP) ficou lotada com casos de virose
Reprodução/TV Tribuna
De acordo com a Prefeitura de Guarujá, tanto a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Enseada como o Pronto Socorro Dr. Matheus Santamaria, popularmente conhecido como PAM da Rodoviária, tiveram aumento de infraestrutura para que os pacientes possam receber o soro intravenoso. Desde a última sexta-feira, as unidades contam com o reforço de mais um médico e um enfermeiro.
Já as unidades da família dos bairros Jardim dos Pássaros, Vila Rã e Cidade Atlântica, que faziam apenas atendimento eletivo das 7h às 17h, agora estão abertas até as 22 horas sem a necessidade de agendamento de consultas.
As prefeituras de Guarujá, Santos, Bertioga, Mongaguá e Peruíbe explicaram que as notificações de viroses não são obrigatórias para o Ministério da Saúde. Por isso, o levantamento foi feito com base no número de atendimentos relacionados à doença nas unidades de saúde dos municípios. Itanhaém não respondeu sobre o vazamento na praia.
Turistas ignoram surto
O surto de virose que atinge a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, não impediu que turistas visitem a praia neste início de ano. Mesmo com o aumento dos casos na região, 123.251veículos seguiram para o litoral entre 0h de sexta-feira (3) e 12h deste sábado (4) . A informação é da Ecovias, que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes.
Pedágio na Rodovia Imigrantes sentido litoral
Ecovias/Divulgação
Virose
Ao g1, o infectologista Leandro Curi explicou que vírus são transmitidos pelo ar, pela água ou alimentos contaminados. A água, por exemplo, é um local propício para esses agentes infecciosos por ser de fácil acesso ao ser humano. “Pode estar na água do rio, do mar, na água que a gente bebe”, disse ele.
Ele ressaltou que o termo “virose” é utilizado popularmente para designar várias doenças, mas define somente as causadas por vírus.
Praia de Santos (SP) na manhã deste sábado (4)
Matheus Muller/g1 Santos
Segundo o especialista, é comum que doenças causadas por bactérias apareçam no esgoto. Um exemplo é a cólera, tipo de gastroenterite bacteriana. Assim como elas, os vírus também podem estar presentes nesse ambiente.
Curi explicou que, no caso dos sintomas que têm sido observados na Baixada Santista, é menos provável que o vírus esteja contaminando pelo contato com a pele. “A gente acredita que seja mais da ingesta dessa água ou no uso dessa água para higienização de alimentos ou hidratação direta”, disse.
Como prevenir?
Casos de virose aumentaram na região
Reprodução/EPTV
O governo estadual divulgou medidas preventivas a serem adotadas para evitar a Doença de Transmissão Alimentar (DTA) no verão, quando há grande concentração de turistas por conta das festas de fim de ano e férias escolares. Veja:
Evite alimentos mal cozidos;
Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;
Leve seus próprios lanches durante passeios ao ar livre;
Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;
Lave as mãos antes de se alimentar;
Tenha atenção redobrada com comidas em self-service;
Beba sempre água filtrada;
Não consuma gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água mineral de procedência desconhecida.
Também é importante prestar atenção à balneabilidade das praias – que define se o mar está próprio ou não para o banho. O boletim divulgado na quinta-feira (2) indica que, das 175 praias monitoradas no litoral, 38 apresentam condição imprópria. Confira no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
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