4 de outubro de 2024

Saiba como espécies invasoras em áreas de conservação afetam clima, biodiversidade e segurança alimentar; veja lista em Piracicaba

Segundo pesquisadores, espécies exóticas invasoras (EEIs) podem causar perda da biodiversidade e afetar qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática. Unidades de conservação de Piracicaba têm 38 EEIs, aponta estudo. Tanquã abriga uma série de animais aquáticos, inclusive espécies ameaças de extinção
Governo do Estado de São Paulo
Duas unidades de conservação localizadas em Piracicaba (SP), a Estação Ecológica de Ibicatu e a Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã, têm 38 espécies exóticas invasoras (EEIs) na soma dos tipos catalogados nos espaços, conforme estudo recente feito em conjunto por pesquisadores de diferentes órgãos, incluindo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
De acordo com a Fundação Florestal de São Paulo, órgão do Governo do Estado de São Paulo que administra as unidades em Piracicaba, a invasão das espécies exóticas é uma das cinco maiores causas da perda de biodiversidade no Brasil.
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Os dados compõem um estudo, que serviu como base para um artigo publicado na última sexta-feira (27) na revista Biological Invasions.
O material tem como autores Ana Luiza Castelo Branco Figueiredo, Silvia M. Futada, Renato Fiacador de Lima, Pablo Pacheco, Lilian Bulbarelli Parra, Patrícia Beatriz Puechagut, Carlos Eduardo de Siqueira & Michele S. Dechoum, de diferentes instituições de educação.
🐶Cão doméstico é exótico?
Você sabia que o cão doméstico também está entre a lista de espécies exóticas? Além do animal, há ainda o javali (Sus scrofa), a tilápia (Coptodon rendalli), e pássaro Bico de Lacre (Estrilda astrild). – Veja mais detalhes, abaixo, na reportagem.
Plano de manejo criou um zoneamento que estabelece as atividades que podem ser realizadas em cada área de Ibicatu
Isabela Borghese/ Prefeitura de Piracicaba
Unidades de conservação
Unidades de conservação são áreas que reúnem importantes características naturais, que têm, entre suas finalidades, a preservação e a recuperação de ambientes e recursos naturais.
As espécies exóticas invasoras (EEIs), de acordo com dados científicos, estão entre as principais causas de perda da biodiversidade mundialmente e podem afetar a qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática.
A Fundação Florestal, órgão do Governo do Estado de São Paulo que administra as unidades em Piracicaba, disse ao g1 em nota que possui um programa de identificação, monitoramento e erradicação de espécies exóticas e invasoras, que atua no controle dessas ações.
A area de 76,40 hectares abriga 171 espécies de árvores, entre elas, o jequitibá-rosa
Isabela Borghese
Estudo
O artigo, intitulado “Espécies Exóticas Invasoras em Unidades Federais e Estaduais do Brasil: Status, padrões de distribuição e recomendações para manejo”, foi publicado na revista Biological Invasions, com o título em inglês “Baseline data and recommendations to decrease the introduction and spread of invasive non-native species in federal and state protected areas in Brazil”.
O material registrou mais de 5.600 espécies exóticas invasoras em 327 unidades de conservação estaduais e 234 federais. São animais, plantas, samambaias, microrganismos, algas e musgos.
O estudo que deu origem ao artigo aponta, ainda, a existência de cinco EEIs em outras duas unidades de conservação localizadas na região de Piracicaba: quatro na Estação Ecológica de Barreiro Rico, em Anhembi (SP); e uma na Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade, em Rio Claro (SP).
Estrilda astrild bico-de-lacre
Shutterstock/Reprodução
Exemplos de espécies
De acordo com o levantamento, a Estação Ecológica de Ibicatu tem, atualmente, cinco espécies exóticas invasoras. 📝Veja lista abaixo.
Já a APA Tanquã, cuja localização é dividida pelos municípios de Piracicaba, São Pedro (SP), Santa Maria da Serra (SP), Anhembi (SP), Botucatu (SP) e Dois Córregos (SP), reúne 36 espécies exóticas invasoras.
Como três dessas espécies se repetem (estão presentes em ambas), são 38 EEis distintas, no total.
Entre as espécies, estão animais como javali (Sus scrofa), tilápia (Coptodon rendalli), cão doméstico (Canis familiaris) e Bico de Lacre (Estrilda astrild).
Oreochromis niloticus tilápia-do-nilo
Shutterstock/Reprodução
O que são espécies exóticas invasoras (EEIs)?
EEIs são espécies de plantas, animais e microrganismos que passam a viver em determinado ambiente, fora de seu ambiente habitual, por ação humana intencional (por quando são soltos, por exemplo) ou não-intencional (quando escapam de criações comerciais).
“Quando são introduzidas nos ambientes, essas espécies conseguem se estabelecer, dispersar e também se reproduzir em áreas até distantes do ponto inicial. Essa introdução e dispersão ameaçam a diversidade biológica”, diz Ana Luiza Figueiredo, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e mestranda da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Como essas espécies chegam ao ambiente invadido?
A pesquisadora explica que são exemplos de ação intencional os animais de estimação e plantas ornamentais, além da criação de espécies para consumo (como tilápia e carpas).
Um exemplo de introdução não intencional é a partir do transporte de organismos em navios vindos de outros continentes.
Quais são os impactos das espécies exóticas invasoras?
A pesquisadora aponta que as espécies exóticas invasoras (EEIs) estão, atualmente, entre as principais causas da perda de biodiversidade no mundo, junto às mudanças do uso do solo e do mar, mudanças climáticas, exploração de recursos naturais e poluição.
Essas espécies podem competir com espécies nativas, causam diminuição de populações locais e já contribuíram com 60% das extinções globais registradas.
“As EEIs geram impactos nos serviços ecossistêmicos, já que alteram a qualidade e o fornecimento de água, afetam a segurança alimentar e regulação a climática, fatores que são fundamentais para a nossa saúde. Por exemplo, há estudos que apontam que milhares de mortes são causadas por conta da dispersão de doenças por espécies de parasitas e mosquitos invasores”, diz a autora.
Essas espécies devem ser retiradas do local?
De acordo com a pesquisadora, as espécies exóticas invasoras, devem ser controladas ou erradicadas. O manejo pode ser definido a partir de estratégias relacionadas a etapas distintas do processo biológico, incluindo ações de prevenção e controle.
Entre as medidas preventivas apontadas, estão regulamentações, códigos de melhores práticas e de conduta para evitar, por exemplo, que espécies utilizadas na produção escapem.
“Quando ocorrem essas introduções no ambiente, uma alternativa é criar um sistema de detecção precoce que possibilite a constatação de populações pequenas ou mesmo indivíduos isolados. Isso torna possível uma erradicação”, aponta Ana Luiza.
A Fundação Florestal, órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) de São Paulo, administra as unidades de conservação em Piracicaba.
Edijan Del Santo/EPTV
Mata Atlântica
O estudo aponta que, somadas as unidades de conservação federais e estaduais, mais de 50% possuem espécies invasoras. O bioma é determinante para a presença dessas espécies e a Mata Atlântica, onde está a região de Piracicaba, é uma área com muita ocorrência de EEIs, associada à alta densidade populacional, segundo Michele Dechoum, professora da UFSC e uma das autoras.
“Embora espécies exóticas invasoras já tenham sido identificadas em todos os ecossistemas terrestres e aquáticos no Brasil, nossa análise mostra uma concentração clara ao longo da costa, principalmente na Mata Atlântica, uma área de alta prioridade para conservação, mas com alta pressão antrópica, como urbanização, o que aumenta a propagação das espécies invasoras”, aponta.
Base de dados
De acordo com a autora, em breve será disponibilizada uma plataforma on-line para acesso livre à base de dados elaborada para o estudo, que inclui os dados de Piracicaba.
Espécies catalogadas nas unidades em Piracicaba
Estação Ecológica de Ibicatu
Número de EEIs: 5
Espécies: Estrilda astrild, Oeceoclades maculata, Tecoma stans, Tradescantia zebrina, Sus scrofa j
Tanquã se formou nos anos 1950
Governo do Estado de São Paulo
Área de Proteção Ambiental Tanquã
Número de EEIs: 36
Espécies: Columba livia, Estrilda astrild, Passer domesticus, Bambusa vulgaris, Cenchrus purpureus, Colocasia esculenta, Cynodon dactylon, Echinochloa crusgalli, Hedychium coronarium, Megathyrsus maximus, Melia azedarach, Melinis minutiflora, Momordica charantia, Oeceoclades maculata, Phyllostachys aurea, Pinus elliottii, Psidium guajava, Ricinus communis, Sesbania virgata, Syzygium cumini, Syzygium jambos, Urochloa brizantha, Urochloa mutica, Limnoperna fortunei, Canis familiaris, Lepus europaeus, Myocastor coypus, Sus scrofa j, Astronotus crassipinnis, Coptodon rendalli, Cyprinus carpio, Hoplerythrinus unitaeniatus, Oreochromis niloticus, Plagioscion squamosissimus, Poecilia reticulata, Satanoperca pappaterra
Fundação Florestal
As unidades de conservação de Piracicaba são administradas pela Fundação Florestal (FF), órgão da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo.
Procurada pelo g1, a Fundação Florestal informou, em nota, que a invasão das espécies exóticas é uma das cinco maiores causas da perda de biodiversidade no Brasil.
“Grande parte delas é introduzida por ação humana direta, como usos ornamentais, tentativas de incremento de produção, para a criação de animais de estimação”, aponta em parte da nota.
Ainda de acordo com o órgão, áreas degradadas, terras cultivadas, represas e reservatórios têm maior propensão a abrigar espécies exóticas invasoras.
“Para fazer frente a isso, a FF possui o Programa de identificação, monitoramento e erradicação de espécies exóticas e invasoras, que atua no controle dessas ações”, completa a nota.
Região do Tanquã, conhecido como minipantanal paulista em Piracicaba.
Edijan Del Santo/EPTV
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