24 de janeiro de 2025

Sarah Domingues: saiba como está o caso um ano após morte de estudante a tiros durante pesquisa de campo em Porto Alegre


Jovem foi assassinada em janeiro de 2024. Segundo a polícia, mulher não era alvo dos criminosos. Dono de mercado também foi morto no ataque. Sarah Silva Domingues
Arquivo Pessoal
Um ano após a morte de Sarah Domingues, quatro réus respondem pelo crime. Três deles estão presos preventivamente e um responde em liberdade. A estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi assassinada a tiros enquanto realizava uma pesquisa para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em Porto Alegre. Relembre o caso abaixo.
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O trabalho da jovem trata sobre um tema que se mostrou central meses depois: a necessidade de um projeto urbanístico para combater as frequentes enchentes que atingem a região das ilhas. Após os temporais de maio de 2024, o bairro Arquipélago teve 6,4 mil moradores afetados.
Além da jovem, o dono de um mercado também foi morto no ataque – ele seria o alvo dos criminosos.
As marcas do luto permanecem vivas na memória da família, amigos e da comunidade acadêmica, enquanto as investigações seguem avançando para responsabilizar os envolvidos. Relembre o caso abaixo.
“É uma data difícil, obviamente. Também, recentemente seria o aniversário dela no dia 8, então acaba juntando tudo”, diz Vinícius Stone, que era namorado de Sarah.
Ele conta que uma série de homenagens estão sendo feitas em homenagem a Sarah. Entre elas, um sarau pela memória da jovem estava programado para acontecer na noite de quinta-feira (23), na Associação dos Servidores da Secretaria Municipal de Saúde (ASSMS).
“É a nossa forma de manter ela viva”, diz o namorado.
Sarah Silva Domingues era estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS
Arquivo Pessoal
Ainda na quinta-feira, foi instalada uma placa com o nome da estudante no terreno “conquistado na luta da ocupação Sarah Domingues”, segundo Stone. O local fica na Zona Sul de Porto Alegre.
“(No terreno) vai iniciar as obras para construir as casas das famílias que conquistaram as suas moradias”, explica.
Terreno da moradia de famílias da ocupação Sarah Domingues
Gustavo Ramos/ MLB
Investigação
De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), ainda não há audiência marcada, pois o caso aguarda a citação de todos os réus e a apresentação de suas defesas.
O MP acusa os investigados de duplo homicídio qualificado (motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas, através da utilização de arma de fogo de uso restrito).
No dia 22 de novembro de 2024, o juiz Francisco Luís Morsch, da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e tornou réus os quatro acusados pelo caso.
As investigações conduzidas pelo Ministério e pela Polícia Civil identificaram quatro envolvidos no planejamento do crime:
o mandante (um presidiário);
a irmã do mandante (que teria intermediado a comunicação para a realização do crime);
dois apenados (que cuidavam a movimentação do alvo).
Em novembro, a promotora Lúcia Helena Callegari destacou o caso. “São graves crimes que ceifaram a vida de duas pessoas, uma delas, uma jovem que estava fazendo um trabalho para tratar das enchentes na região das ilhas, que era o trabalho de conclusão da Sarah”, disse.
Relembre o caso
Sarah foi morta em 23 de janeiro de 2024, em frente a um mercado na região da Ilha das Flores, enquanto fazia uma pesquisa acadêmica. Segundo o MP, o dono do mercado, Valdir dos Santos Pereira, de 53 anos, era o alvo do grupo por não aceitar que o tráfico de drogas dominasse a comunidade onde residia. A estudante estava entrevistando o comerciante no momento do crime, quando ambos foram atingidos por 15 tiros.
Moradores relataram à polícia que dois homens em uma motocicleta chegaram ao local, desceram do veículo e atiraram contra a estudante e o dono do estabelecimento.
No dia 6 de fevereiro, a Polícia Civil prendeu temporariamente cinco pessoas suspeitas de envolvimento no assassinato da jovem de 28 anos. Os presos seriam o mandante do assassinato, dois executores e outras duas pessoas que teriam envolvimento com o crime. Eles foram alvos de mandados judiciais cumpridos em diferentes endereços de Porto Alegre e Região Metropolitana.
Já na noite de 21 de fevereiro, a Polícia Civil prendeu preventivamente o traficante Maicon Donizete Pires dos Santos, conhecido como “Red Nose”, que teria cedido os homens que participaram do ataque. Ele estava foragido e foi capturado em Garopaba, Santa Catarina. Na época, a Polícia Civil afirmou que o ataque teria sido executado por um grupo criminoso, da Zona Norte da capital, com o qual Maicon teria envolvimento.
“É uma pessoa inocente que morreu devido a essa violência. Esse grupo criminoso faz parte do criminoso que foi preso em Garopaba. Então, a morte da estudante da UFRGS, existem indícios fortes, de que está ligada a esse grupo criminoso da Zona Norte, que resultou em várias outras mortes durante o ano de 2023”, disse, na época, o delegado Mário Souza.
A Polícia Civil cedeu, à reportagem da RBS TV, imagens que mostram a conduta dos criminosos. No vídeo, é possível ver que os criminosos descem de um carro branco no meio da rua, à luz do dia, e se revezam atirando. Um homem é atingido várias vezes e morre. Um dos envolvidos nos atos de violência, segundo a polícia, foi preso dentro de um shopping de Porto Alegre.
O conflito entre os criminosos de diferentes grupos foi registrado pela polícia. Nas imagens, um homem efetua diversos disparos, sendo possível ver cartuchos de balas caindo.A Brigada Militar e a Polícia Civil, em operação realizada no ano passado, prenderam 28 pessoas e 25 armas.
Polícia investiga grupos criminosos que estariam envolvidas em morte de estudante
Homenagem e saudade
Em junho de 2024, Sarah foi homenageada com a entrega de seu diploma de forma póstuma. Marta da Silva Domingues, mãe de Sarah, recebeu o canudo em nome da filha.
“É difícil. É um misto de sentimentos, pois foi uma homenagem bonita, mas dolorosa. Todos estavam felizes, e fiquei o tempo todo imaginando como seria, mas ela não estava lá. Arrancaram um direito da minha filha. Ela esperou muito por esse dia, queria muito essa formatura”, relatou a mãe.
Estudante da UFRGS morta a tiros em Porto Alegre é homenageada em formatura
Projeto sobre enchentes nas ilhas
Além da formatura, a mãe de Sarah também foi até a Ilha das Flores, região onde a jovem foi morta. No local, as marcas da enchente de maio também lembraram a dedicação da estudante na luta pela moradia digna.
O trabalho de conclusão de curso desenvolvido pela estudante foi sobre um tema que se revelou urgente meses após a morte: a necessidade de um projeto urbanístico para combater as frequentes enchentes que atingem a região das ilhas. Após os temporais, o bairro Arquipélago teve 6,4 mil moradores afetados.
“Ela queria fazer uma denúncia com o trabalho que ela estava concluindo. Fui até lá e entendi. É uma região com infraestrutura precária, onde as pessoas seguem morando no meio da água. Conheci a família do seu Valdir, que também foi morto por querer proteger os moradores. Por tudo isso, espero que a luta e dedicação da Sarah não sejam esquecidas e sirvam de inspiração porque a história dela merece ser contada”, diz Marta.
Sarah foi coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integrou o Conselho Universitário da UFRGS. Após a morte da estudante, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura (DAFA) da universidade foi renomeado para “DAFA Sarah Domingues – UFRGS”.
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